10 casos de racismo no País em 2014

A data: 20 de novembro, Dia da Consciência Negra. Instituída oficialmente pela lei nº 12.519 de 10 de novembro de 2011, ela faz referência à morte de Zumbi, líder do Quilombo dos Palmares. Além de homenagear àqueles que lutaram pela igualdade e não deixar que as dificuldades que eles passaram sejam esquecidas, o dia serve também para lembrar de que ainda há um longo caminho a percorrer.

No, Terra

Atualmente, no Brasil, os negros são os que têm menor grau de escolaridade, menos acesso à saúde, menor presença em cargos públicos, média salarial inferior à de brancos ou pardos, expectativa de vida menor e participação no Produto Interno Bruto (PIB) também inferior aos demais integrantes da população. Em compensação, são os que mais são assassinados, os que representam a maior taxa de desemprego e os que mais lotam as prisões. Com esses e outros números, um relatório da Organização das Nações Unidas (ONU) lançado neste ano escancarou aquilo que todo mundo já sabe: o racismo é uma questão estrutural e institucional no País.

Para reforçar que o preconceito deve, sim, ser discutido e combatido cada vez mais pela sociedade brasileira, o Terra selecionou dez (entre muitos) casos que ganharam destaque no noticiário nacional em 2014.

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Jogadores de futebol
Em fevereiro, o meio-campista Tinga, do Cruzeiro, foi alvo de insultos racistas durante a partida contra o Real Garcilaso, do Peru. Em Huan Cayo, o jogador ouviu das arquibancadas imitações de macacos a cada vez que tocou na bola. “Eu deixaria de ganhar qualquer título para que não houvesse mais desigualdade”, disse na ocasião.

Em protesto, a CBF indicou que o Real Garcilaso deveria ser excluído da Libertadores imediatamente. Mas não foi o que aconteceu. A Conmebol só aplicou uma multa de US$ 12 mil (R$ 27,8 mil).

O cruzeirense, no entanto, está longe de ser o único. Durante o ano, Arouca e Aranha, ambos do Santos, Paulão, do Internacional, e Daniel Alves, do Barcelona, foram outras vítimas do racismo em gramados brasileiros e estrangeiros.

Ator global
O ator Vinícius Romão de Souza foi preso no mês de fevereiro acusado de roubo. Ele, que atuou na novelaLado a Lado, da TV Globo, foi confundido com um ladrão que havia roubado a bolsa de uma mulher na zona norte do Rio de Janeiro. Injustamente, permaneceu na cadeia por 16 dias. Amigos do jovem afirmaram, à época, que se tratava de mais um caso de preconceito racial. Ele não formalizou nenhuma denúncia.

PM no supermercado
Edson Lopes, cabo da Polícia Militar, sofreu preconceito em um supermercado de Vitória. Em fevereiro, ele, que vestia bermuda, camiseta, boné e chinelo, foi obrigado a se despir na saída do local para provar que não havia roubado nada. De acordo com seu depoimento, o segurança o abordou alegando que ele, mesmo exibindo a nota fiscal, não tinha pagado pelos vinhos que acabara de comprar. O estabelecimento negou o ocorrido.

Cobradora de ônibus
Uma cobradora de Brasília disse que sofreu preconceito racial também em fevereiro, durante um desentendimento com uma passageira. Segundo Claudineia Gomes, tudo começou quando a porta do ônibus travou por causa de uma pane elétrica. Indignada, a mulher passou a pedir o nome do motorista e, como a funcionária se negou a fornecer a informação, a passageira passou a ofendê-la. “Ela veio, me xingou e saiu. Me chamou de ‘negra ordinária’ e disse que eu estava acobertando o motorista”, afirmou a cobradora. Antes de sair, a mulher ainda “deu um beijo no ombro” e disse que “a polícia não viria para preto”. Apesar das ofensas, a vítima não prestou queixas.

Manicure no DF
Em março, a australiana Louise Stephanie Garcia Gaunt foi denunciada pelo Ministério Público por racismo. Em um salão de beleza do Distrito Federal, ela se recusou a ser atendida por uma funcionária negra, alegando que “pessoas daquela cor” a “incomodavam”. Em seguida, ofendeu uma cliente que se rebelou contra os insultos e um policial militar chamado para atender a ocorrência (ambos negros). A agressora foi levada para a delegacia e posteriormente transferida a uma penitenciária feminina.

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Árbitro em Bento Gonçalves
Mais um caso no futebol. Em março, o arbitro Márcio Chagas da Silva relatou ter sido alvo de racismo durante partida entre Esportivo e Veranópolis, no Estádio Montanha dos Vinhedos, em Bento Gonçalves, na Serra Gaúcha. O juiz acusou a torcida anfitriã de tê-lo ofendido com termos preconceituosos, entre eles “macaco” e “imundo”, e de ter jogado bananas no seu carro. “Infelizmente, mais um fato lamentável. Eu já passei em anos anteriores por isso”, disse.

Como punição, o Esportivo perdeu seis mandos de campo e nove pontos na tabela do Campeonato Gaúcho, sendo rebaixado para a Divisão de Acesso da competição.

Casal do Facebook
“Onde comprou essa escrava?”. “Acho que você roubou o branco para tirar foto”. “Me vende ela”. Esses são alguns dos comentários publicados em uma foto de Doris (negra) e Leandro (branco), namorados mineiros que compartilharam, em agosto, uma selfie no Facebook. A imagem foi levada para a polícia, que investiga o caso como crime de injúria racial. “Haverá racismo enquanto as pessoas não entenderem que, por dentro, somos todos iguais”, escreveu a jovem antes de apagar sua conta.

Professor da UFES
O racismo não está imune nem mesmo a universidades. No início de novembro, durante um debate em sala de aula, o professor Manoel Luiz Malaguti Barcellos Pancinha, da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), teria dito que preferia ser atendido por um médico branco em vez de um negro. Sendo alvo de protesto de alunos e investigações, negou ser preconceituoso e disse apenas que é “bastante realista”.

Ex-secretária do governo
Ex-secretária do governo e candidata derrotada à Câmara Legislativa do Distrito Federal, a advogada Josefina Serra dos Santos afirmou ter sido alvo de racismo por cinco policiais militares em outubro. Eles a teriam revistado sem motivo perto da Esplanada dos Ministérios, atirado seu celular para longe, torcido seu braço e deixado seus seios à mostra. “Neguinhas, quando aprendem algo, se acham”, teria dito a ela um dos PMs. A corregedoria da PM instaurou um inquérito policial para apurar os fatos.

“Rolezinho” em SP
Em São Paulo, durante um dos “rolezinhos” realizados em frente ao shopping JK Iguatemi, em região nobre da capital, jovens negros da periferia disseram ter sido vítimas de racismo e constrangimento legal ao serem proibidos de entrar no local. Na ocasião, os seguranças bloquearam as entradas do prédio e impediram a aproximação de pedestres para “garantir a segurança de seus clientes, lojistas e colaboradores”.

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