5 Escritores africanos que você precisa conhecer

África também é berço de grandes escritores. Muitos desconhecidos por aqui. Todos têm em comum a influência de suas raízes, de sua terra, sua cultura, sua beleza e suas mazelas sociais e políticas.

por Eliane Boscatto

O continente Africano é imenso, cultural e possui uma natureza exuberante. No entanto, é também cenário de conflitos étnicos-religiosos, miséria e ditadores corruptos. Uma região cheia de contrastes profundos, da África do Sul que foi fortemente colonizada pelos europeus e mais parece um país da Europa, à Somália e Serra Leoa, quase tribais. No continente Africano, estão os países mais pobres do mundo. A região costuma ser vista com certo desdém pelo ocidente que baseia suas ideias apenas em estereótipos e tem por ela indiferença ou comiseração.

Mas África também é berço de grandes escritores. Muitos desconhecidos por aqui. Todos têm em comum a influência de suas raízes, de sua terra, sua cultura, sua beleza e suas mazelas sociais e políticas.

Abaixo falamos sobre alguns deles.

***

1 – J.M.Coetzee

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John Maxwell Coetzee nasceu, em 1940, na cidade do Cabo, considerado um dos melhores escritores da África do Sul. É romancista, ensaísta, crítico literário, linguista e foi professor de literatura na cidade do Cabo. Completou dois bacharelados em sua cidade natal, um em Língua Inglesa, outro em matemática. Viveu por quatro anos na Inglaterra exercendo a função de programador de computador e fazendo pesquisas para uma tese sobre o ficcionista inglês Ford Madox. Na década de 1970, seu pedido de moradia permanente nos Estados Unidos foi recusado em virtude de sua participação em protestos contra a Guerra do Vietnã. Sua vida literária tem início em 1969 quando escreve sua primeira ficção, Terra de Sombras, publicada em 1974. Neste romance ele faz uma analogia entre os invasores norte-americanos no Vietnã e os primeiros colonizadores na África do Sul. Em 2003, foi premiado com o Nobel de Literatura. Coetzee não costumava fazer uso dos tons realistas do apartheid em seus escritos; não de forma direta. Seus romances procuram um tom mais íntimo sobre personagens essencialmente humanos tentando viver sob as determinações perversas de uma autoridade constituída. Seu romance mais recente, A infância de Jesus, foi publicado em 2013, no qual “Jesus” pode ser um menino comum da atualidade, embora o período histórico não esteja bem definido.

 

2 – Wole Soyinka

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Wole Soyinca é desconhecido no Brasil. De origem humilde, nasceu em 1934, na Nigéria. Em 1986, foi agraciado com o Nobel de Literatura. É considerado o dramaturgo mais notável da África. Em 1954, ele partiu para o Reino Unido, matriculando-se no curso de Literatura Inglesa, da Universidade de Leeds, que concluiu em 1959. Enquanto estudante apaixonou-se pelo teatro e levou aos palcos algumas peças de sua autoria. Em 1972, publicou The Mand Died (obra censurada na Nigéria), sobre sua experiência no cárcere. No mesmo ano, ele resolveu deixar o país e partir novamente para a Inglaterra, onde tornou-se professor no Churchill College de Cambridge e obteve o título de doutor pela Universidade de Leeds. Durante esse período, publicou obras como Jero’s Metamorphosis (1972) e Death And The King’s Horsemen (1975).
Soyinca regressou à Nigéria, onde passou a ocupar o cargo de professor catedrático de inglês na Universidade de Ife, mas em 1994, teve que deixar o país após participar de uma marcha de protesto contra o ditador Sani Abacha, retornando em 1998 após a morte de Abacha. Em 2001, ele publicou King Baabu, uma paródia dos ditadores africanos. Soyinca foi incansável em protestar em suas obras contra a corrupção e a sede de poder em seu país. Dizem que muitos de seus escritos tratam do que ele chama de “the oppressive boot and the irrelevance of the colour of the foot that wears it”, ou seja: o coturno opressivo e a irrelevância da cor do pé que o calça.

 

3 – Mia Couto

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Mia Couto, pseudônimo de Antonio Emilio Leite Couto, nasceu em julho de 1955 em Moçambique. Mia é bastante conhecido no Brasil. Seus livros são publicados em mais de 22 países e traduzidos para o alemão, francês, castelhano, catalão, inglês e italiano. Em sua obra, o escritor tenta recriar a língua portuguesa com uma influência moçambicana, utilizando o léxico de várias regiões do país e produzindo um novo modelo de narrativa africana. Ele chegou a estudar medicina mas abandonou a área, e em 1974 passou a exercer a profissão de jornalista. Mia abandonou a função de diretor da Agência de Informação de Moçambique para continuar os estudos universitários na área de biologia, onde tem sido bastante ativo, tendo fundado uma empresa que faz estudos de impacto ambiental em Moçambique. Em 1983 publicou seu primeiro livro de poesia, Raiz de Orvalho. Além de poesia, escreveu contos, crônicas e romances. Seu primeiro romance,Terra Sonâmbula, foi considerado um dos dez melhores livros africanos do século XX.

 

4 – Chinua Achebe

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Outro grande escritor africano da Nigéria, Albert Chinualumogu Achebe nasceu na aldeia de Ogidi, em Igboland, na década de 1930, trinta anos antes da Nigéria se libertar do domínio colonial britânico. Achebe foi romancista e poeta e escreveu cerca de trinta livros (romances, contos, ensaios e poesia). Em algumas de suas obras, fala da depreciação que o ocidente faz da cultura e a civilização africanas, bem como dos efeitos da colonização do continente pelos europeus, mas também criticou abertamente a política nigeriana. Sua obra mais conhecida, O Mundo se Despedaça, foi publicada em 1958, quando ele tinha 28 anos, e foi traduzida para mais de cinquenta línguas. Outros destaques são: A Paz dura pouco, A Flecha de Deus e A Educação de uma criança sob o protetorado britânico. Em 1944, Achebe ingressou na University College of Ibadan onde estudou Teologia, História e Língua e Literatura Inglesas, e renunciou ao seu nome britânico em favor do seu nome africano. Foi professor catedrático de Estudos africanos na Universidade de Connecticut, nos Estados Unidos, tendo também recebido o título de doutor Honoris Causa de várias universidades de todo o mundo. Achebe viajou pelo continente africano e pela América e tornou-se uma figura central do movimento literário nigeriano, que baseava suas obras na tradição oral das tribos indígenas do país. Embora escrevesse em língua inglesa, procurava sempre incorporar vocábulos e narrativas Igbo da região onde nasceu.

 

5 – Ondjaki

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Ondjaki é da nova geração de escritores. Nasceu em Luanda, Angola em 1977. Escritor e poeta, licenciado em Sociologia em Lisboa, é também artista plástico, ator e roteirista. Escreve contos e romances, alguns infanto-juvenis. Seu interesse pela literatura teve início bem cedo, aos 13 ou 14 anos. Costumava ler Asterix e outros quadrinhos similares, além de Gabriel Garcia Márquez, Graciliano Ramos e Jean-Paul Sartre. Na Etiópia ele foi reconhecido com o prêmio Grinzane for best african writer 2008. Seus livros têm sido traduzidos em diversos países, especialmente França, Inglaterra, Alemanha, Itália, Espanha e China. Em outubro de 2010, ganhou no Brasil o Prêmio Jabuti de Literatura na categoria Juvenil com o romanceAvóDezanove e o Segredo do Soviético. Em 2013, recebeu o Prêmio Literário José Saramago por seu romance Os Transparentes. Ondjaki integra ainda a União dos Escritores Angolanos e a Associação Protetora do Anonimato dos Gambuzinos (seres do imaginário popular em Portugal e em algumas regiões da Espanha). Atualmente mora no Brasil, no Rio de Janeiro.

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Leia Também: 

“Sou escritor de expressão angolana e não portuguesa”, diz Ondjaki

Tributo literário a Achebe

Mia Couto

 A literatura engajada do Nobel de Literatura Wole Soyinka – Geledés

 

Fonte: Homo Literatus 

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