A MÍDIA E AS COTAS PARA NEGROS NAS UNIVERSIDADES

Frequentemente é abordado pela mídia o discurso sobre as cotas para negros nas universidades. Revistas e jornais também têm se ocupado deste tema. Levando em consideração as influências que estes meios têm sobre a sociedade brasileira, ditando formas de agir e pensar. Auxiliando na constituição da identidade.

Alguns discurso na mídia são extremamente semelhantes, isto é, apresentam o discurso sob uma ótica dos grupos dominantes da sociedade onde geralmente aparecem:

* O DISCURSO DA DEMOCRACIA RACIAL

* O DISCURSO DOS SABERES

O DISCURSO DA DEMOCRACIA RACIAL
É quando se recorre ao pensador brasileiro, autor de “Casa Grande e Senzala”, Gilberto Freyre e sua idéia de vivencia harmônica a partir da integração biológica e cultural do índio, do português e do negro africano que resultou no homem brasileiro. Neste aspecto, não se considera as diferenças e particularidades dos grupos sociais. Considerando-os iguais. Sob este aspecto o preconceito e discriminação não existem na sociedade brasileira. E todos têm as mesmas oportunidades.

É o que acontece na reportagem da Revista Veja de 06/06/07, onde a questão das cotas para negro é considerada como, “As políticas raciais que se pretende implantar no país por força da lei têm potencial explosivo porque se assentam numa assertiva equivocada: a de que a sociedade brasileira é, em essência, racista. Nada mais falso”

Ou ainda na fala da antropóloga Yvonne Maggie, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, “A discriminação existe no dia-a dia e precisa ser combatida, mas, se ambas as leis entrarem em vigor, estaremos construindo legalmente um país dividido em raças, e isso é muito grave. Será como tentar apagar fogo com gasolina”

De acordo com as citações as cotas é que representam uma ação discriminatória, equivocada, mas logo abaixo a antropóloga confirma que há preconceito é que se o negro não tem acesso a universidade e a cargos importantes, não é porque se tentou impedi, . “O fato de existir um enorme contingente de negros pobres no Brasil resulta de circunstâncias históricas, não de uma predisposição dos brancos para impedir a ascensão social dos negros na sociedade.”

“Após a abolição da escravatura, em 1888, nunca houve barreiras institucionais aos negros no país.”

E ainda “O mérito acadêmico fica em segundo plano”

O DISCURSO DOS SABERES
Neste outro ponto comum as noticias e reportagem sobre as cotas para negro, se recorre a teorias, conhecimento jurídico para se confirmar que as cotas não são necessárias e até inconstitucional,
“A lei de cotas e o estatuto racial são monstruosidades jurídicas que atropelam a Constituição”

O discurso da igualdade é literal, e não nos direitos, pois se percebe-se claramente que nem todos são iguais, mas que precisam ser incluídos na sociedade.
Enfim no discurso da mídia sobre as cotas para negro nas universidades fica implícito a:
• Superioridade branca;
• Negro fadado ao fracasso;
• Traços discriminatórios contra o negro;
• Perpetuação da classe branca;
• Objetivo polemizar-contra X a favor- só se mostra as pessoas que são contra;
• Inconstitucional;
• Não é necessário;
• Privilegia o negro, favorece sem méritos;
• Retrocesso;
• É mostrada sob a Ideologia dominante;
• Inferioriza o negro;
• Não considera o processo histórico;
• Não se considera a estrutura da atual sociedade;

“A idéia da existência de uma democracia racial é refutada a partir da utilização do adjetivo falsa que desmistifica a idéia tão propagada por algum tempo, mas colocada em prova neste momento, de que todos são iguais. Isso permite, novamente, agora com um discurso de defesa, a utilização do verbo tentar, como algo ainda em processo e ainda não efetivada, no caso a noção de igualdade, que refletida ideologicamente nos discursos que veiculam posições contra a adoção de políticas de cotas no processo de construção de identidades sociais do negro, em que há discursividades que procuram, ao invés de abolir, dissimular as desigualdades sociais.” ( SERAFIM, 2005)

COSTA, Emília Viotti da. Da Senzala à colônia. São Paulo: Difel, 1980.
SKIDMORE, Thomas E. Preto no branco: raça e nacionalidade no pensamento brasileiro. Rio de Janeiro: Paz E Terra, 1989.
SERAFIM, C. E. R. (Discente-Autor /Mest.Acadêmico), 2005. Interdiscurso e produção identitária: as cotas paranegros no discurso midiático.; Congresso Internacional Cotidiano: Diálogos sobre Diálogos.: Anais do Congresso Internacional Cotidiano: Diálogos sobre Diálogos., 1, 1, ISBN: Português, Impresso.
VEJA on line, nº 2011, 6 de junho de 2007. Disponível em: http://veja.abril.com.br. Acesso em: 05/05/2010.
Revista Época no. 1522 http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca acesso 18/03/2010 .

Fonte: HISTÓRIA NA ILHA DO MIRITI

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