Um mês após caso lamentável no Fenway Park, outfielder Adam Jones escreve texto sobre racismo
Por Gabriel Mandel, do MLB
O lamentável caso de racismo contra Adam Jones na partida entre Baltimore Orioles e Boston Red Sox, no Fenway Park, em 2 de maio, continua dando o que falar. Nesta sexta-feira (19), um artigo do outfielder dos Orioles foi publicado no The Player’s Tribune, veículo criado por Derek Jeter, ex-jogador do New York Yankees. No texto, Jones fala sobre o caso em si e cita também outras ocasiões em que foi vítima desse odioso preconceito racial.
“Como devo falar com meu filho sobre o que ocorreu?”. Essa é a pergunta que motiva o relato, em que o outfielder prevê a questão que seu filho (atualmente com apenas três anos) levantaria em 2027, ao olhar para a cobertura do caso, e algumas hipóteses são levantadas por Jones.
“Talvez ele lerá que algumas pessoas sequer acreditam que isso realmente ocorreu. Talvez, lerá sobre como os fãs no Fenway Park o aplaudiram de pé na noite seguinte. Talvez ele lerá sobre o que ocorreu logo antes desse aplauso, quando um torcedor dos Red Sox foi expulso por usar um xingamento racial contra a mulher queniana que cantou o hino nacional. O quê ele concluirá com base em tudo isso? No fundo, as pessoas são boas? São ruins? Como ele verá o mundo?”.
O outfielder, eleito para o All-Star Game cinco vezes na carreira, garante que não trata-se de analisar apenas o que ocorreu no Fenway Park, ou as atitudes de um torcedor bêbado, e explica que seu filho sabe o que ocorreu (que um fã atirou um pacote de amendoins contra seu pai, que um fã usou termos racistas contra seu pai), mas não sabe porquê isso ocorreu.
Criado em meio à miscigenação étnica e racial da californiana San Diego, Jones diz que ouviu o termo “n…” sendo direto para ele pela primeira vez aos 19 anos, enquanto defendia o San Antonio Missions, afiliado do Seattle Mariners no Double-A. O abominável termo foi dito após um jantar durante estadia em Springfield, Missouri, por um senhor branco que passou de bicicleta por ele e um companheiro, disparando os termos ao ar “sem olhar em nossos olhos”.
Jones salienta que, em sua ingenuidade, chocou-se com o fato de tal prática ainda ocorrer, em 2005, mas seu companheiro, que era da Georgia, estava acostumado e o deu um conselho. “Cara, nem preocupe-se com isso. Algumas pessoas são estúpidas”, disse o amigo ao outfielder. Como aponta o astro dos Orioles, estamos em 2017 e essa absurda situação continua, afetando até quem, como ele, espera ouvir “trash talk”, ou bobagens, na tradução literal, da torcida adversária.
Por fim, Jones critica quem tentou minimizar a situação. “Isso não é um programa de debates esportivos. É a minha vida. Isso aconteceu. É é nojento, simplesmente”, apontou ele, antes de explicar que gravou o vídeo que você enconra abaixo para que o filho, em 2027, ouça de sua boca o que ocorreu no começo de maio de 2017 no Fenway Park, durante a série entre Boston Red Sox e Baltimore Orioles.
