África pop da Imperatriz quer exaltar o negro e combater o preconceito

Carros coloridos têm inspiração em trabalho de artista e ONG sul-africanas.
Negros que fizeram a diferença no país são destaque em alegoria high tech.

por Alba Valéria Mendonça no G1

Mandela é pop. E a Imperatriz Leopoldinense, que este ano faz uma exaltação à negritude, também. É com a representação de uma África moderna, supercolorida, com tons vibrantes, inspirada nos trabalhos da artista sul-africana Esther Mahlangu, da etnia Ndbele, que o carnavalesco Cahê Rodrigues quer mostrar a força e a nobreza da cultura negra e combater o preconceito na avenida.

O gesto do jogador de futebol Daniel Alves – que zombou de um torcedor preconceituoso, ao comer a banana que ele lhe atirara em campo – foi a inspiração para a exaltação à negritude, que aproveita para homenagear o líder negro Nelson Mandela, no enredo “Axé, Nkenda! Um ritual de liberdade e que a voz da igualdade seja sempre a nossa voz”.

“A Imperatriz vai dar uma banana para o preconceito, mas não de forma caricata. Racismo não é brincadeira. Não vamos jogar bananas na Sapucaí, nada disso. Vamos ter apenas uma ala em que a fantasia é uma banana e que de dentro dela sai uma pessoa vestida de preto e branco, caracterizando bem o episódio ocorrido com o Daniel Alves”, explicou o carnavalesco.

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Cultura negra é exaltada em enredo em homenagem a Nelson Mandela (Foto: Alba Valéria Mendonça/ G1)

Por causa dos jogos na Europa, Daniel Alves não vai poder estar na avenida. Não em carne e osso, mas estará em lá em vídeo, num clipe que gravou especialmente para a Imperatriz e que será veiculado junto com outras imagens e frases  contra o preconceito de Mandela, de Martin Luther King, entre outros, num telão de LED no último carro. Aliás, alegoria que trará uma escultura de 8,5 metros inspirada em Mandela segurando os pássaros da paz.

O carnaval da Imperatriz começa com a nobreza africana, com 30 deusas negras africanas no abre-alas. O carro, que é o xodó do carnavalesco, também traz um baobá – a árvore da vida – multicolorido, rodeado de animais das savanas também pintados em cores cítricas de verde, laranja, vermelho e amarelo. Cahê diz que se trata de inspiração no trabalho da artista de Ndbele e no trabalho de uma ONG que faz artesanato com chinelos que meninos de rua recolhem das praias africanas.

“Procurei me aproximar o máximo possível das cores e texturas desses dois trabalhos, já que o primeiro setor mostra uma África como a matriz da vida em solo sagrado. Temos outro carro também só com negros”, detalhou Cahê.

Em seguida, a Imperatriz apresenta os rituais, as crenças, as etnias, a culinária e a cultura desta África, que logo é colonizada e tem suas riquezas subtraídas pelo europeu. Mas nada de tristeza, nem no navio negreiro que é levado para outros pontos do mundo, inclusive o Brasil, por uma sereia negra, numa visão contemporânea, que mostra a embarcação trazendo não só os escravos, a força de trabalho, mas toda uma gama de influências culturais. O carnavalesco garante que nesse navio não há sofrimento ou correntes.

O negro, então, chega ao Brasil, trazendo na bagagem todo um conhecimento que dá origem ao samba, ao maculelê, à capoeira, ao vatapá, e aos rituais religiosos.

Aqui ficando, eles vão criando seus espaços, dando vozes a seus talentos e levantando bandeiras. No carro mais tecnológico da Imperatriz, os atores Elisa Lucinda e Antônio Pitanga representam Eurídice e Orfeu e o eterno casal de mestre-sala e porta-bandeira da verde-e-branco de Ramos, Chiquinho e Maria Helena voltam a dança em meio a uma série painéis de negros que se destacaram no cenário brasileiro, como os atletas Pelé, Daiane dos Santos, os sambistas Cartola, Dona Ivone Lara e Candeia, a atriz Zezé Mota, o comediante Mussum, entre outros.

“Eles são a voz da igualdade, que mostram o triunfo do negro no Brasil. E finalizamos com a escultura de Mandela, com o pássaro da liberdade nas mãos e uma série de mensagens contra o preconceito”, conclui Cahê.

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Imperatriz traz alegorias e fantasias em cores vibrantes inspiradas em trabalho de artista sul-africana (Foto: Alba Valéria Mendonça/ G1)

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