Agência e resistência africanas

Um breve resumo do tráfico transatlântico de escravos –

Parte III

por David Eltis (Emory University) no Slave Voyages

Se a demanda por produtos cultivados por escravos, a identidade social e o meio ambiente atlântico constituíram os três fatores principais que moldaram o tráfego, a agência dos africanos representou a quarta grande influência, a qual, no entanto, tem recebido menos atenção dos historiadores.

Os comerciantes que vendiam escravos na costa para capitães de navios europeus — por exemplo, os comerciantes bavilis do norte do Congo e os efiques do golfo de Biafra — e os grupos que os abasteciam de escravos, como o reino de Daomé, a organização dos aros e, mais ao sul, os imbangalas, todos tinham concepções estritas do que fazia um indivíduo ser elegível para a escravização.

Entre esses critérios estavam construções de gênero, definições de comportamentos criminosos e convenções sobre como lidar com prisioneiros de guerra.

A composição dos contingentes de escravos adquiridos na costa atlântica indica, pois, tanto o tipo de pessoas que os africanos estavam dispostos a vender quanto o tipo que os proprietários de plantations euro-americanos estavam dispostos a comprar.

Mas as vítimas do tráfico de escravos também tinham um grande impacto sobre o tráfico. É provável que cerca de uma a cada dez viagens negreiras tenha sido marcada por rebeliões importantes, e as tentativas de controlá-las aumentavam de tal modo os custos de uma expedição negreira que elas terminaram sendo bem menos numerosas do que teriam sido se não houvesse resistência.

Além disso, as embarcações que vinham de certas regiões da costa parecem ter sido mais propensas a insurreições de escravos do que as de outras regiões. As áreas propensas a rebelião — que compreendiam, de modo geral, a Alta Guiné (Senegâmbia, Serra Leoa e Costa do Barlavento) — foram justamente as regiões que tiveram a menor participação no tráfico de escravos.

Há, portanto, bons motivos para se inferir que os traficantes de escravos europeus evitavam esta parte da costa africana, exceto nos anos em que a demanda por escravos — e o preço deles — estavam particularmente elevados.

 

leia também: 

Um breve resumo do tráfico transatlântico de escravos PARTE I
A escravização de africanos PARTE II

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