Alunos da Ufes denunciam professor por preconceito dentro da sala de aula

Alunos ficaram indignados com frases contra negros e cotistas ditas em sala de aula

Autor: Iara Diniz no Gazeta Online 

“Eu detestaria ser atendido por um médico ou advogado negro”. A frase foi atribuída a um professor de Economia e teria sido dita durante uma aula polêmica na tarde desta segunda-feira (3), na Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Durante a discussão, a maioria dos alunos deixou a sala, indignada com a atitude do mestre.O debate que revoltou os universitários aconteceu em uma aula de Introdução à Economia Política na turma do segundo período de Ciências Sociais. Um dos alunos levantou um questionamento sobre cotas na universidade, o que teria desencadeado a discussão.

“Ele disse que os cotistas não conseguiam acompanhar as aulas como os outros alunos e que por isso ele tinha que usar uma linguagem mais acessível e baixar o nível das aulas dele para que todos pudessem compreendê-lo”, contou um estudante de 19 anos.

A discussão se tornou ainda mais forte, quando, segundo os estudantes, o professor fez declarações preconceituosas. “Ele disse que os negros e pobres não tinham acesso à cultura, deixando claro que eles não atingiram o nível cultural dos brancos. Em seguida afirmou: ‘Estudantes cotistas diminuem a qualidade da universidade. Eu detestaria ser atendido por um médico ou advogado negro’”, relatou, indignada, uma aluna de 19 anos.

Após o comentário do professor, a estudante, que é cotista, saiu indignada e ofendida da sala de aula. “Sou pobre e cotista e me senti ofendida. Uma outra aluna saiu chorando. Por mais que eu debatesse, ele é a autoridade ali”, afirmou.

Após a discussão, os alunos procuraram a professora do Departamento de Ciências Sociais, Andréa Mongim, que possui um grupo de estudos sobre cotas, para pedir ajuda. “É um absurdo termos professores com essa concepção. É este tipo de preconceito que leva à evasão de muitos cotistas da universidade, e não a falta de capacidade”, declarou.

Os alunos espalharam cartazes pela universidade com o título “Professor Racista”. Eles também recorreram às redes sociais para denunciar e repudiar a atitude do mestre. Uma denúncia administrativa foi elaborada pelo grupo de estudantes e encaminhada à Ouvidoria da Ufes.

O nome do professor não está sendo divulgado porque ele não respondeu aos contatos de A Gazeta.

Outro lado

Ouvidoria não recebeu denúncia

O ouvidor da Ufes, Ricardo Behr, disse que até às 18h desta segunda-feira (3), enquanto estava no órgão, não havia sido registrada nenhuma denúncia. Garantiu que todas as manifestações são analisadas por ele com precisão. Ele explicou que a função da Ouvidoria é garantir direitos aos estudantes e pessoas que trabalham na universidade. Após a denúncia, procura conversar com as pessoas e fazer com que o problema seja resolvido com entendimento entre as partes, dependendo da gravidade da denúncia. Caso seja algo de alta relevância, a manifestação é encaminhada ao diretor do centro de ensino, que abre uma sindicância para analisar o caso. Esse diretor seleciona algumas pessoas para compor uma comissão, que tem um prazo determinado para analisar a situação. Caso o diretor constante que houve gravidade, encaminha direto para o reitor, que abrirá um inquérito administrativo.
Ricardo Behr Ouvidor da Ufes

 

+ sobre o tema

para lembrar

Cristiano Ronaldo diz ‘não ao racismo’ depois de Koulibaly sofrer insultos em campo

Jogador português apresentou a sua solidariedade para com Koulibaly,...

Meninos vítimas de racismo em hipermercado reconhecem mais um segurança suspeito de agressão

Outro funcionário do Extra já havia sido reconhecido em...

Passageiros e motoristas relatam casos de racismo em aplicativos de transporte

Usuários negros dizem ter sido recusados por motoristas; empresas...

Anulação de provas do Enem gera ataques de xenofobia

OAB-CE vai analisar os comentários para decidir sobre a...
spot_imgspot_img

Quanto custa a dignidade humana de vítimas em casos de racismo?

Quanto custa a dignidade de uma pessoa? E se essa pessoa for uma mulher jovem? E se for uma mulher idosa com 85 anos...

Unicamp abre grupo de trabalho para criar serviço de acolher e tratar sobre denúncias de racismo

A Unicamp abriu um grupo de trabalho que será responsável por criar um serviço para acolher e fazer tratativas institucionais sobre denúncias de racismo. A equipe...

Peraí, meu rei! Antirracismo também tem limite.

Vídeos de um comediante branco que fortalecem o desvalor humano e o achincalhamento da dignidade de pessoas historicamente discriminadas, violentadas e mortas, foram suspensos...
-+=