Angelina Gonçalves, assassinada na luta pelos direitos trabalhistas

Na votação da precarização do trabalho, no dia 22 passado, pelo Projeto de Lei 4.302, a imagem que apareceu em minha mente foi a da operária tecelã gaúcha Angelina Gonçalves, assassinada no dia 1º de maio de 1950, no Rio Grande do Sul, com mais três lideranças operárias – o pedreiro Euclides Pinto, o portuário Honório Alves de Couto e o ferroviário Osvaldino Correia.

Por Fátima Oliveira, do O Tempo 

Foto: João Godinho

Angelina Gonçalves, 37, foi morta com um tiro no ouvido, abraçada à bandeira do Brasil e ao lado de sua filha Shirley, então com 10 anos, numa caminhada pacífica rumo à sede da Sociedade União Operária, que se encontrava fechada pelo governo. Todavia, foram barrados à bala, por ordem do Departamento da Ordem Política e Social (Dops). O massacre ocorreu após a realização de um churrasco comemorativo do Dia do Trabalho no Cassino dos Pobres, hoje Parque do Trabalhador.

O governador do Rio Grande do Sul era Walter Só Jobim, e o presidente do Brasil era o marechal Eurico Gaspar Dutra. Na data do assassinato de Angelina Gonçalves, fazia sete anos que o presidente Getúlio Vargas promulgara a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), que ainda enfrentava o patronato para que fosse cumprida, daí porque, em geral, comemorar o Dia do Trabalho no Brasil era exigir o cumprimento da CLT. E em nome dela muitas pessoas ficaram mutiladas ou perderam a vida.

Quem imaginava que os direitos trabalhistas haviam sido introjetados na mente do patronato brasileiro se enganou, basta lembrar que as investidas explícitas contra eles são antigas e sempre sob a alegação da “modernização” da relação trabalho versus capital, como se o capital fosse passível de modernização. Ao contrário, é cada vez mais espoliador e selvagem com sua ideia imutável, que é explorar cada vez mais! Recordemos que o projeto aprovado agora em 2017 estava mofando no Parlamento desde 1998 – tempos de FHC!

Ao fim e ao cabo, o Projeto de Lei 4.302, apresentado em 1998, “que aprova a terceirização generalizada, em todas as atividades das empresas – inclusive na atividade-fim, o que a Justiça do Trabalho veda atualmente –, e também altera regras para o trabalho temporário”, evidencia a voracidade com que o capital vai para cima dos direitos trabalhistas e que o discurso patronal de paz social é oco!

Para o deputado Daniel Almeida (PCdoB-BA), o 4.302 “é uma tragédia para os trabalhadores, e é mentiroso afirmar que a medida abrirá vagas. Apenas reduzirá a proteção social”. Estudos recentes do Dieese demonstraram que os terceirizados recebem, em média, 30% a menos que os contratados diretos. Eis uma conclusão que lacra qualquer argumento em defesa da terceirização.

“O massacre de Rio Grande é exemplar de que o capital, historicamente, solapa e usurpa direitos trabalhistas e pode matar para impor sua política de ganância. A terceirização equivale à precarização do trabalho – nociva em todos os aspectos para quem vende sua força de trabalho, com as mulheres pagando o maior tributo” (“A conversa fiada de quem dizia que a luta de classes acabou”, O TEMPO, 21.4.2015).

Estamos diante de um roubo do futuro do Brasil! “E repito que o título ‘O Futuro Roubado’ hoje é mais que um livro. É também um conceito político de resistência aplicável a conjunturas políticas que retiram, usurpam, entravam direitos e roubam a cidadania, tornando perenes as assimetrias econômicas, as exclusões e as vulnerabilidades sociais e políticas” (“‘O Futuro Roubado’ é um livro científico que dói na cidadania”, O TEMPO, 10.5.2016).

Há muita luta a ser lutada!

+ sobre o tema

O ídolo Michael Jackson bem debaixo de nossos pés

Fonte: Terra - Chega à estação Paraíso do metrô de...

Menos de 1% dos municípios do Brasil tem só mulheres na disputa pela prefeitura

Em 39 cidades brasileiras, os eleitores já sabem que...

Comércio entre Brasil e África cresce 416% em 10 anos

  Os números do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio...

Museu Afro Brasil ganha APCA 2009

S. Paulo - O Museu Afro Brasil - Organização...

para lembrar

Ministério Público entra com ação contra vice de Serra por mensagem no Twitter

O Ministério Público Eleitoral protocolou na noite desta...

Medidas econômicas de Bolsonaro contra o coronavírus são inferiores às de outros países, aponta FGV

As medidas anunciadas pelo governo de Jair Bolsonaro para...

Lula diz que dívida do Brasil com negros não pode ser paga em dinheiro

Ao comentar nesta segunda-feira a sanção da lei...

Bolsonaro é alvo de ação em Tribunal Penal Internacional por crime de epidemia

A ABJD (Associação Brasileira de Juristas pela Democracia) apresentou...

Fim da saída temporária apenas favorece facções

Relatado por Flávio Bolsonaro (PL-RJ), o Senado Federal aprovou projeto de lei que põe fim à saída temporária de presos em datas comemorativas. O líder do governo na Casa, Jaques Wagner (PT-BA),...

Morre o político Luiz Alberto, sem ver o PT priorizar o combate ao racismo

Morreu na manhã desta quarta (13) o ex-deputado federal Luiz Alberto (PT-BA), 70. Ele teve um infarto. Passou mal na madrugada e chegou a ser...

Equidade só na rampa

Quando o secretário-executivo do Ministério da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Cappelli, perguntou "quem indica o procurador-geral da República? (...) O povo, através do seu...
-+=