Aranha, do Santos, recebe movimento negro

O Santos Futebol Clube promoveu nesta tarde (13/11) uma atividade de formação para diversidade e igualdade racial para jogadores adolescentes das categorias de base do clube.

Por Douglas Belchior no blog 

Os fortes acontecimentos de racismo no futebol que assistimos esse ano foram o tema do diálogo, que teve a presença e a explanação do goleiro Aranha, que fora homenageado pelo clube, por órgãos governamentais e pelo movimento negro.

Tive a oportunidade de entregar e ler o conteúdo de uma Carta de Apoio, assinada pela Uneafro-Brasil, além de documentos do trabalho de educação popular que desenvolvemos. Foi entregue também cópia do documento repleto de propostas de combate imediato ao racismo, assinado por diversas organizações do movimento negro, que fora encaminhada à presidenta Dilma em Março de 2014, momento em que muito se discutiu o tema.

Em sua apresentação dirigida aos jovens atletas, Aranha falou da importância do respeito à diversidade no futebol e na sociedade e da importância da educação como algo fundamental para garantir a justiça.

Além da Uneafro-Brasil, a Educafro, representado por Júlio Evangelista, também prestou homenagens ao craque.

Leia a íntegra da Carta entregue ao Goleiro Aranha:

MANIFESTO DE APOIO E AGRADECIMENTO
O exemplo do goleiro Aranha

Nos últimos anos, o Brasil viveu um intenso processo de debates acerca da promoção da igualdade racial e do combate ao racismo. As poucas políticas de garantias de direitos para o povo negro provocaram reações por parte daqueles que acham normal a desigualdade racial e social. Neste ano de 2014 o assunto esteve ainda mais presente, uma vez que as manifestações racistas invadiram também o espaço do esporte mais popular do país, o futebol.

Manifestações racistas proferidas por torcedores do Peru e da Espanha aos jogadores Tinga, do Cruzeiro e Daniel Alves, do Barcelona, colocaram o racismo na ordem do dia. O tema ganhou força quando os jogadores Arouca, pelo Santos, e Assis, pelo Uberlândia, e até um árbitro, Márcio Chagas, em partida do campeonato gaúcho, foram alvo de ofensas racistas em campos brasileiros. Tais acontecimentos em plena véspera de copa do mundo repercutiram mal dentro e fora do Brasil. Mas o caso mais emblemático se deu depois da Copa, em pleno período de eleições, quando o Brasil se uniu à Aranha em sua digna, forte e contundente reação às ofensas racistas que recebera no sul do país, pela torcida do Grêmio.

Aranha nos encheu de orgulho negro com sua postura intransigente em assumir sua negritude e em demonstrar indignação e repúdio diante de tais manifestações. Aranha não se intimidou diante da tentativa de manipulação da grande mídia, que tentou abafar o caso e caracterizar a criminosa racista como inocente, arrependida e até como vítima da situação.

Vivemos em um país violentamente racista. Pior, vivemos em um país reconhecido e denunciado internacionalmente pela negação de direitos básicos à população negra, pela desigualdade de oportunidades, pela nula representação política e mais: um país que tortura, aprisiona e mata, como se em uma guerra, mulheres, homens e principalmente a juventude negra.

O Movimento Negro Brasileiro surge para se dedicar e combater os efeitos trágicos do racismo no Brasil. Exigimos reparação histórica pelos crimes da escravidão e pela negação de direitos sociais desde a abolição. Acreditamos na Educação como forma de combate ao racismo. Denunciamos a violência da polícia que em todo país continua a fazer dos negros seu alvo preferencial. Nos ressentimos por ver muitos irmãos negros que se destacam nos esportes, nas artes e em outros seguimentos da sociedade e que, por terem atingido altos patamares de reconhecimento, poderiam fazer muito pela nossa causa mas, na maioria das vezes, negam sua origem e viram às costas à sua própria negritude.

Aranha, ao contrário, nos encheu de esperança e de orgulho e por isso se transformou em referência positiva para todos aqueles que se dedicam à luta por justiça e igualdade racial. Podemos dizer às nossas crianças negras: não aceitem ofensas racistas, não baixe a cabeça, siga em frente e lute! Faça como fez Aranha, o goleiro. E como nos versos dos Racionais MC’s, o “príncipe guerreiro que defende o gol”, defende também o povo negro brasileiro.

Vida longa à Aranha!

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