Ativista Stephanie Ribeiro dá um “soco” no racismo com texto viral sobre amor próprio

Stephanie Ribeiro, 23 anos, é uma inspiração para todas as mulheres negras. Se emocione com as palavras de impacto dela:

por MANUELA ALMEIDA, da Revista Glamour 

“O racismo funciona de uma forma que 90% das crianças negras acreditam que não são bonitas e não são capazes.” O texto impactante – e viral – de Stephanie Ribeiro, 23 anos, ativista feminista negra, começa assim. Inspirada no Dia das Crianças, ela publicou uma mensagem no Facebook, na última quinta-feira, 13, sobre autoestima entre jovens negras. Em seu recado de amor próprio, a estudante conta em primeira pessoa como foi lidar com racismo na infância e adolescência. “Eu tinha tanta vergonha e nojo de mim e do meu corpo, que tinha épocas que eu fugia das fotos e que me esfregava mais forte no banho (…) Eu me odiava e nem sabia.”

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Stephanie, assim como muitas e muitas meninas, aprendeu a se amar na vida adulta, mas as palavras dela ainda podem fazer a diferença para as jovens que estão passando por isso hoje, em pleno 2016.

“Queria poder falar para todas elas que são lindas e que nossa estética é linda, mesmo que os outros digam o oposto. Minha autoestima foi destruída e isso doi até hoje. Tenho inseguranças tão idiotas, mesmo sendo uma mulher negra dentro de vários padrões desde o corpo magro à pele mais clara. Se comigo já foi doloroso, imagino o quão mais cruel é com outros negros?”, contou à Glamour.

Aos 14 anos, Stephanie fez fotos como modelo para acreditar mais em sua beleza. Na época do book, chegou a levar na escola e mostrar pra algumas pessoas “meio que dizendo: ‘Ei, olha como sou bonita'”, relembrou.

Se não bastassem todas as inseguranças normais que a mulher sente na adolescência, o racismo só piora a fase difícil. “Era realmente terrível. Lembro de um menino que ficou conversando comigo, me chamava de linda nas redes sociais, e mesmo quando a gente se conheceu ao vivo. Mas num show que ele estava com amigos, fingiu que não me conhecia”, contou.

Nos momentos mais cruéis, sua mãe sempre ficou do seu lado. “Ela ia na escola reclamar da forma racista como me ofendiam. Minha mãe sempre me amou”, disse. E quando falamos da importância de atrizes negras em papéis de destaque, eis a prova: “Só usei o meu cabelo solto e me senti linda com isso quando vi a Tais Araújo no papel de Helena, na novela ‘Em Família’, em 2014. Ela usava cabelos cacheados/crespos. Mesmo meus cachos sendo menores, eu vi uma mulher negra sendo vista como linda.”

(Foto: Reprodução Facebook)
(Foto: Reprodução Facebook)

Pra Stephanie, a vida ficou mais fácil quando mudou de cidade. “Acho que fui me sentir bonita no dia a dia quando mudei de cidade [ela é de Araraquara] para fazer faculdade. Era como recomeçar do zero. Já que eu sou de uma cidade pequena, todo mundo se conhece e se vê. As pessoas que me achavam e me chamavam de feia estavam sempre perto e próximas”, contou.

“Hoje eu sei que sou maravilhosa, mas chega o Dia das Crianças e fico com essa sensação estranha”, confessou. Bem sincera, Stephanie disse que sente medo de ter filhos, pois não quer vê-los sofrer por serem como são. “Sempre falo sobre isso, para as pessoas terem consciência das dificuldades e de como é necessário apoio e amor”, finalizou.

Leia o texto viral na íntegra

“O racismo funciona de uma forma que 90% das crianças negras acreditam que não são bonitas, não são capazes, que seus cabelos são horríveis, que é “normal” ninguém querer fazer a foto de casal da festa junina com você, que se seus coleguinhas virem seus pais negros vão zoar a cor escura deles.]

Eu tinha tanta vergonha e nojo de mim e do meu corpo, que tinha épocas que eu fugia das fotos e que me esfregava mais forte no banho. Assim como teve épocas que eu tive vergonha de ter avós, tios, primos, pais negros e queria esconder a todo momento isso.

Eu lembro de uma vez que eu tinha que ir na aula de basquete e que eu fiquei na frente do espelho tentado esconder meus seios, pois eu tinha nojo dos meus seios, já que os meninos diziam que meu corpo era ok, mas meu rosto era um lixo. Então eu pegava fita e passava para esconder pois eu não queria chamar atenção.

Quando eu chamava atenção eu era zoada.

Eu me odiava e nem sabia.

Eu aos 7 fiz meu primeiro relaxamento e minha frustração foi que o volume do meu cabelo continuava. Eu nunca tinha usado meu cabelo solto até os 15 anos quando fui obrigada pois eles estavam caindo e eu ficando com “entradas”.

Lembro que pós relaxamento eu tive coragem mesmo criança de usar ele solto na escola e foi o dia mais infernal da minha vida. As piadas, os apontamentos, os apelidos, os olhares, eu com 7 anos corria para o banheiro e ficava molhando. Pois molhado ele não tinha tanto volume…

Minha mãe, meus avós e tias diziam que eu era linda, mas eu NUNCA acreditei.

Aos 14 anos eu entrei num concurso de beleza pq eu me achava tão feia que minha mãe achou que se eu fizesse um book eu acreditaria que era bonita. Eu fiz um book e tive vergonha de ver as fotos, quando chegou eu precisei de um momento sozinha para abrir e ver as fotos já que eu pensava que estariam todas horrorosas.

Eu me achava feia, os garotos me chamavam de feia, ninguém queria ser “meu namorado” ou até mesmo ficar comigo, eu fui perder o “bv” no segundo ano do ensino médio, as pessoas falaram tanto que eu era feia que eu acreditei.

Aos 14 anos eu tinha EXATAMENTE esse rosto e mesmo assim eu era a garota das listas de feias, nojentas e “zoada” da sala, do colégio e foi assim a vida inteira.

Eu sempre choro pensando nisso, eu sou e eu era muito muito linda, mas as pessoas me fizeram acreditar no contrário. E mesmo hoje ainda tenho que lutar pra reconstruir a autoestima, não é só sobre estética, é sobre ter acreditando que eu era o que os outros diziam: um lixo.”

 

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