Ativista do Borel faz chamado para a “Marcha das Mulheres Negras”

Mônica Francisco, membro da Rede de Instituições do Borel, fez um chamado em sua coluna no Jornal do Brasil para a “Marcha das Mulheres Negras”, no próximo dia 18, em Brasília: “Daremos voz às nossas irmãs, desde aquelas que brilham como Taís, a Araújo, até aquelas que foram caladas como Cláudia Silva, a Ferreira, violada em sua vida e sua morte. Às meninas que são violadas nas escolas, por seus cabelos, sua pele, sua cultura, sua dança. Vamos fazer barulho e marchar por nossa dignidade”

Por *Mônica Francisco, no Brasil 247 

Vamos fazer barulho e marchar por nossa dignidade

Chegou novembro e a já intitulada “Primavera das Mulheres” segue firme seu propósito de ampliar cada vez mais as vozes femininas pela garantia de direitos alcançados e à alcançar.

No bojo deste lindo movimento, o “Novembro Negro”, celebra os 300 anos de Zumbi dos Palmares, imbuído do espírito guerreiro de Dandara. A Marcha das Mulheres Negras traz mais uma vez a temática do enfrentamento da violência recorrente e sistemática contra as mulheres e meninas negras.

O Mapa da Violência 2015 revelou o horror dessa iniquidade que acomete às mulheres negras, e que em dez anos aumentou 54%. A pele negra, o corpo negro feminino é sinistramente violável em diversas nuances. É multifacetada a cara da violência contra a mulher negra, e o que é pior, muito menos sentida ou é de certa forma , uma dor que comove muito menos.

São elas a sofrer a perda de seus filhos e a amargar a dor e a humilhação de ter que provar ao custo até de suas vidas a inocência de seus filhos e companheiros, que tem por parte de toda uma sociedade e suas instituições, culpa presumida.

São elas que têm seus ventres violados nas salas de pré e de parto dos hospitais públicos de nosso país. São elas que, além de serem assassinadas, tem seus cadáveres violados e são expostas nos noticiários sem nome, assim mesmo, na continuidade e manutenção da cultura escravagistas de nos ver como “peças”, assim, sem nome.

A “baleada”, a “estuprada”, a “arrastada”, sem nome, sem rosto, a coisificação e a banalização da vida, da dor e da morte das mulheres negras. Dão à luz em balcões de pias das emergências, tem seus partos desumanizados ao extremo da sanidade humana (já escrevi aqui, se a memória não estiver me pregando peças, sobre a amiga de Manguinhos que teve em seu parto uma parcela de horror, digna de salas arianas da Alemanha nazista, com sua filha vivendo hoje em estado vegetativo, como resultado disso).

Quase 50 milhões de mulheres negras, invisibilizadas na mídia escrita, falada e televisada. Sua presença nos veículos de comunicação, salvo algumas exceções, é em posição de subalternidade e estereotipada ao máximo.

Não casamos, porque nas revistas que versam sobre o assunto, não há modelos negras (viva Preta Gil que sambou com aquele casamento deslumbrante, e minha nora, que foi uma das noivas mais deslumbrantes que já vi até hoje), não comemos, porque nos comercias de alimentos, as famílias são brancas, até dos lava-roupas e louças nos excluem, ou seja, é a sociedade que não quer que sejamos, ou seja, não somos, não existimos no imaginário cotidiano, embora sejamos o maior alvo das violações.

Por isso, marcharemos no dia 18 de novembro no centro do poder nacional. Marcharemos como guerreiras, como Dandaras, como Marianas Criolas, como Luizas Mains, como nossa mães e avós, que guerreiras que foram, abriram caminho pra nós à sua maneira.

Marcharemos, mesmo não estando fisicamente lá. Daremos voz às nossas irmãs, desde aquelas que brilham como Taís, a Araújo, até aquelas que foram caladas como Cláudia Silva, a Ferreira, violada em sua vida e sua morte. Às meninas que são violadas nas escolas, por seus cabelos, sua pele, sua cultura, sua dança. Vamos fazer barulho e marchar por nossa dignidade.

“A nossa luta é todo dia. Favela é cidade. Não aos Autos de  Resistência, à GENTRIFICAÇÃO, à REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL , ao RACISMO, ao RACISMO INSTITUCIONAL, ao VOTO OBRIGATÓRIO, ao MACHISMO, À VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER e à REMOÇÃO!”

*Mônica Francisco é membro da Rede de Instituições do Borel, coordenadora do Grupo Arteiras e consultora na ONG Asplande.

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