Ato na USP cobra ação de diretor sobre ‘ranking sexual’ em Piracicaba

Grupo se reuniu em frente à diretoria da universidade com faixas e cartazes. Sindicância que apura lista com intimidades de estudantes termina nesta 4ª.

Do G1

Um ato de estudantes da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), campus da USP em Piracicaba (SP), cobrou, na tarde desta quinta-feira (3), ações da diretoria da instituição sobre o “ranking sexual” que expôs intimidades de alunos da universidade. Com cartazes e faixas, os jovens pediram explicações e queriam a presença do diretor Luiz Gustavo Nússio, mas ninguém apareceu para falar com os manifestantes.

O prazo de 60 dias para que a sindicância fosse concluída terminou em no dia 24 de agosto, mas foi ampliado por dez dias para que a comissão responsável apresente “informações adicionais” à instituição. A nova data para o fim da investigação da universidade se encerra nesta quarta. A Esalq não se manifestou até a publicação.

Os estudantes se concentraram às 14h no Centro de Vivência, mesmo local onde o cartaz foi colocado, e caminharam com faixas, cartazes e palavras de força até o prédio da Prefeitura do Campus. O ato durou cerca de meia hora e contou com aproximadamente 50 pessoas. Integrantes de coletivo de mulheres e de movimentos sociais participaram do protesto.

O cartaz, considerado preconceituoso e ofensivo, revoltou um grupo de estudantes no fim de maio deste ano, após ser colocado no mural do Centro de Vivência, pátio onde os universitários se reúnem na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq). O material foi retirado depois de causar polêmica e protestos que se espalharam pelos muros da universidade.

‘Machismo e racismo’
A aluna do curso de Gestão Ambiental Malu Santana, de 21 anos, membro do coletivo “Raiz de Fulô”, leu uma carta enderaçada à direção da Esalq durante o ato. “Cansamos da conivência da Universidade em relação aos casos de machismo, racismo e LGBTfobia que são naturalizados dentro do campus”, diz um trecho do documento.

cartaz_esalq

O texto lido em voz alta em frente ao prédio central da Esalq pede medidas socioeducativas para acabar com o preconceito. A carta que os manifestantes tinham em mãos termina com a frase: “Queremos respostas! E punição não é a solução, o que queremos é uma universidade e uma sociedade mais igualitária, livre e plural”.

O aluno do quarto ano de economia Felipe Vitti, de 21 anos, afirmou que a universidade deve oferecer um ensino libertador. “Viemos fortalecer a luta. Nenhuma tradição pode ficar de pé se ela é opressora. Estamos aqui para pressionar a direção para que ela dê respostas aos casos de preconceito, racismo e homofobia no campus”, disse o jovem.

Já o aluno do primeiro ano do curso de Gestão Ambiental, Akil Alexandre Costa, de 18 anos, que também é integrante do diretório central dos estudantes, contou que a ideia do protesto é desconstruir o preconceito. “A mesma ideologia que oprime a mulher e a que reproduz também atitudes racistas”, explicou.

O ‘ranking’
O “ranking” era dividido em colunas que atribuíam, com palavra de baixo calão e termos como “teta preta”, as supostas características das estudantes listadas pelos apelidos com que foram batizadas no campus, além do número de pessoas que teria mantido relações. Os “codinomes” são uma tradição na Esalq e muitos universitários os carregam após o curso.

A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) em Piracicaba (SP) avaliou que os responsáveis pelo cartaz incorreram em três crimes: homofobia, difamação e calúnia. O presidente da entidade, Fabio Ferreira de Moura, apontou que os crimes de difamação e calúnia aconteceram pelo ato de expor a intimidade sexual das alunas da instituição e identificá-las por apelidos. Já a homofobia é caracterizada porque a lista também cita homossexuais.

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