Brasil de Carne e Osso

Os 8.515.767,049 quilômetros quadrados do território brasileiro nos tornam o 5º país do mundo em extensão. Temos recursos hídricos fartos – impressionantes 19% das reservas mundiais. Nossas costas marítimas vão do “Oiapoque ao Chuí”: 9.200 km é a extensão do contorno do litoral brasileiro. Somos um País exposto ao oceano Atlântico, temos muito sol e riquezas naturais imensas – algumas delas ainda desconhecidas. A Amazônia –  o “pulmão do planeta” – dentre tantas riquezas que temos, parece um bônus meio exagerado – coisa que só os banqueiros entendem quando se autopremiam.

Por Hélio Santos no Brasil de Carne e Osso

Além desse inventário preliminar da riqueza material do país, o IBGE estima-nos uma população acima de 202 milhões de pessoas que se distribuem por 5.570 cidades. Somos a 5ª população do mundo. Ou seja: na realidade somos um continente que vem sendo denominado BRASIL.

O Blog “Brasil de Carne e Osso” pretende trabalhar com o dia a dia vivido por essas mais de duas centenas de milhões de almas que aqui habitam. Como a vida flui é no cotidiano e não noutra instância, como gostam alguns especialistas de plantão,  acreditamos que por esse caminho vamos flagrar as impressões digitais que singularizam o Brasil, mas não um brasil qualquer, mas o País de carne e osso, tal qual a vida funciona de fato. Sem maneirismos de um “homem cordial” que não se identifica, mas com a crueza de quem procura conhecer e diagnosticar a partir dos fatos tal qual eles se descortinam.

A missão do Blog “Brasil de Carne e Osso” é, mediante uma crítica isenta de posições preconcebidas, propor ideias-caminhos para o País a partir de dados reais – muitos deles óbvios. Aliás, o Brasil de Carne e Osso é uma montanha de obviedades – algumas escandalosas mesmo. Consciências e olhos se acostumaram com as calamidades que estão aqui desde sempre.

O segredo para essa invisibilidade dos malfeitos está entrelaçado com o perfil de quem pratica e de quem sofre essas mesmas calamidades…

Antônio Carlos Jobim – maestro, compositor e arranjador  – afirmou que o nosso País não era “para principiantes”. Sugeria o músico, reconhecido em todo o mundo, que aqui as coisas tinham e têm alguma sofisticação que carecem de cuidadosa atenção.  Seria mais ou menos dizer que aqui “não existe ponto sem nó”. Quem duvidar disso preste atenção às idiossincrasias da terra brasilis e confirmará o insight daquele grande brasileiro.

Apesar de bradarmos na mídia, na academia, nas empresas e nos parlamentos por mérito para vetar oportunidades aos filhos dos mais pobres, não conseguimos até hoje nem um Prêmio Nobel sequer – em Economia, Física, Medicina. Quando disputamos com o primeiríssimo mundo, nosso propalado mérito vira piada. Piada de mau gosto para quem banca grande parte dos custos da universidade pública onde a maioria dos ricos estuda.

Por outro lado, a despeito do fiasco na copa de 2014, o Brasil já conquistou 5 vezes a taça da FIFA e foi ainda 2 vezes vice-campeão. Tanto no futebol, como também na música, temos um padrão de excelência reconhecido mundialmente. Padrão e reconhecimento estes que não têm as lideranças empresariais, políticas e acadêmicas. O que chama a atenção é que tanto a expressão musical quanto o futebol são precisamente aqueles setores do País onde não ocorre vetos aos talentos das pessoas que provêm dos estratos mais baixos da população. Aqui, ministros da área econômica, depois de atuarem como gestores de bancos privados que detêm taxas de lucratividade obscenas – 30% sobre o patrimônio! – apresentam como primeira medida para “ajustar” a Economia, alterar negativamente o mecanismo que calcula o salário mínimo da faxineira terceirizada que limpa as privadas daqueles mesmos bancos. Quem dispensar o uso de uma abordagem de cunho patológico para decifrar o Brasil seguramente não fará um bom trabalho.

O País que detém a 2ª frota mundial de jatos executivos é o que produz ainda industrialmente os melhores jatos de porte médio do mundo. Num rol de mais de 200 nações, o Brasil se coloca entre as  maiores economias ocupando a 7ª posição global.

Apesar dessas grandezas todas, esse super país ainda vive uma esquizofrenia renitente: não consegue treinar as mães empobrecidas a ferver água para que as crianças não continuem a morrer de diarreia.

São esses 2 brasis, vivenciando essas assimetrias agudas, que esse blog pretende tratar. O Brasilzão – os dois países juntos – é o que chamamos de Brasil de Carne e Osso.  Trata-se ainda de um lugar especialíssimo que detém uma diversidade esfuziante: étnico-racial, ambiental e cultural – fatores estes que de longe constituem a principal riqueza do Brasil a qual não pode ser facilmente roubada como em uma licitação ou num desvio de verbas; mecanismos seculares usados para surrupiar o patrimônio público.

Venham comigo observar de perto o que acontece quando uma nação opta por desperdiçar talentos. Como será visto, essa opção não sai impune.

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