Cartazes contra o feminismo são espalhados em corredores da UFRGS

Mensagens ofensivas foram fixadas em murais de diretórios acadêmicos. Departamento de História da universidade divulgou nota de repúdio.

Alunos e professores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em Porto Alegre, se depararam com cartazes ofensivos e de teor machista pelos corredores, na segunda-feira (11). Eles foram fixados em portas e murais de centros acadêmicos da universidade, principalmente no de História, no campus do Vale, Zona Leste da cidade. Na mesma ocasião, paredes foram pichadas.

Um dos textos dizia: “O feminismo não luta pela igualdade de direitos, mas é um movimento político socialista, inimigo da família, que estimula a mulher a largar seu marido, matar seus filhos, praticar bruxaria, destruir o capitalismo e tornar-se lésbica”.

No mesmo cartaz, aparece a foto de uma professora da Universidade Federal do Ceará (UFC), que escreve sobre questões feministas no blog ˜Escreva, Lola, Escreva”. Os olhos dela foram alterados e embaixo uma frase dizia: “Corra da Lola, Corra”.

Ainda na segunda, a autora do blog, Lola Aronovich, comentou sobre o assunto. Se reconheceu nas imagens, e condenou o ato, que diz não ser o primeiro. “Este não é apenas mais um ataque contra mim – é contra o feminismo de modo geral”, escreveu.

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Essa não seria a primeira vez que cartazes com esse tipo de mensagem circulam na UFRGS. Segundo estudantes, há algumas semanas teria ocorrido o mesmo no centro acadêmico do Direito, da Educação, Economia e Ciências Contábeis.

Cartazes em apoio à candidatura do deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ) para a presidência também já haviam sido espalhados no campus. As ações são assinadas por um grupo que se intitula como F.O.D.A.S.C.E (Frente de Opressão de Abobados, Socialistas, Comunistas, Etc.).

A aluna de Publicidade e Propaganda da universidade Tatielly Pinto, de 23 anos, que é também diretora de comunicação da União da Juventude Socialista (UJS), disse que há suspeitas sobre os responsáveis pela ação, mas que não há confirmação, pois o grupo age às escuras. “A gente tem procurado apoio dos diretórios nacionais para fazer uma denúncia formal, com maior número de pessoas possivel”, revela.

Conforme a aluna, o ato é considerado uma afronta aos diretórios que se posicionam em defesa do direito das mulheres. “O próprio movimento estudantil da UFRGS se posiciona como feminista, além de movimentos feministas orgânicos que surgem dentro da Universidade. Assim como tem uma ofensiva conservadora que tem sido forte também, mas não é declarada, só se manifesta na forma desses cartazes”, explica.

O G1 entrou em contato com a UFRGS que, até a publicação desta matéria, não se posicionou sobre o ocorrido. O Departamento de História da Universidade divulgou, via rede social, uma nota de repúdio.

Confira a nota na íntegra:
A Chefia do Departamento de Históriada UFRGS manifesta publicamente o seu repúdio aos ataques fascistas sofridos nesta semana pelo Centro Acadêmico de História e por outros diretórios acadêmicos da UFRGS. No contexto de exacerbadas disputas políticas pelo qual passa o país, a luta constante contra práticas autoritárias fundadas unicamente na discriminação social, racial e de gênero se torna cada vez mais necessária. A Universidade Pública deve se constituir como lugar privilegiado para o resguardo das práticas políticas democráticas e republicanas.
 Porto Alegre, 11 de abril de 2016.

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