Com histórico de agressões, mulher mata ex com nove tiros em SC

O comerciante Renato Patrick Machado de Menezes, 35, morreu nesta sexta-feira (5) no Hospital Universitário de Florianópolis (SC), em consequência dos nove tiros que levou da ex-namorada Ana Roberta, 29, em 16 de novembro, na casa dela, na praia dos Ingleses. Ela alegou legítima defesa, mas foi presa em flagrante.

Por Renan Antunes de Oliveira  Do Uol

O relacionamento do casal terminou em 2011. De lá para cá, segundo a Polícia Civil, Ana Roberta queixou-se de abuso e violência doméstica 21 vezes na delegacia da praia e outras 16 na Delegacia de Proteção à Mulher, sem conseguir proteção efetiva.

No período, ela relatou várias agressões e disse que teria sido estuprada três vezes. Menezes é de São Paulo e sua família ainda não se pronunciou sobre o caso.

Segundo o boletim de ocorrência, no dia 16 de novembro, às 13h, Menezes invadiu a casa onde Ana vivia com o filho de seis anos, de outro relacionamento. Ele jogou sua camionete no portão e entrou no pátio, quando foi surpreendido pela reação de ex. Armada com um revólver calibre 32, com tambor de seis balas,  ela começou a atirar nele, descarregando a munição.

Vizinhos ouviram os primeiros tiros, saíram à rua, viram a cena e contaram o desfecho à polícia: Menezes se arrastou pelo pátio em direção à saída, enquanto Ana recarregou o revólver com mais seis balas. Pronta, ela continuou atirando até esgotar a munição, errando três dos 12 tiros.

Abalada, ela ficou no lugar, amparada pelos vizinhos, esperando pela polícia e pelo socorro. Menezes, sempre consciente, gritou por socorro. Os vizinhos chamaram o Samu e ele foi levado para o Hospital Universitário.

O delegado Carlos Diego Pinto, da Central de Polícia do Norte da Ilha, prendeu Ana em flagrante. Ele disse que sabia das ameaças de Menezes contra a mulher, mas que isso não justificaria o crime.

“Tive que prendê-la porque houve excesso na legítima defesa, evidenciado pelo fato dela ter recarregado a arma e atirado nele já caído.”

A comunidade dos Ingleses fora da temporada é pequena e o caso dela era conhecido.

As servidões estreitas e com casas em terrenos abertos facilitam a comunicação entre os moradores. Os vizinhos testemunharam as agressões que Ana Roberta sofria.  Eles relataram que ela colocou cerca elétrica e muros altos para impedir a entrada de Menezes, mas que nada o detinha.

Segundo Marta Simas, amiga de Ana, quando o ex queria entrar “ele simplesmente pulava o muro”. “A gente ficava ouvindo a gritaria, mas não se podia fazer nada.”

Ana Roberta está no presídio feminino de Florianópolis. O filho dela está aos cuidados da avó materna. O advogado Lídio Moisés da Cruz reuniu os boletins de ocorrência que atestam os abusos e encaminhou à Justiça um pedido de relaxamento da prisão.

Segundo o Hospital Universitário, um familiar de Menezes chegará a Florianópolis na segunda-feira para providenciar o enterro.

+ sobre o tema

Mortes de mulheres no Brasil têm raça e classe definidas, dizem pesquisadores

"Violência no Brasil é um fenômeno social articulado a...

Atleticanos e sociedade não podem banalizar o estupro

Um time como o Galo, cujo slogan é "paixão...

Pelo menos sete casos de violência contra mulher são registrados este domingo

Quantidade de ocorrências espantou a PMDF, que lembrou sobre...

Patrícia Mitie, a mais nova vítima de feminicídio no Brasil

Patrícia Mitie Koike, de 20 anos, foi espancada até...

para lembrar

“Um dia vou te matar”: como Roraima se tornou o Estado onde as mulheres mais morrem no Brasil

HRW aponta falha na investigação e arquivamento de denúncias...

Dossiê mulher: maior parte da violência contra a mulher ocorre dentro de casa

Companheiros e ex-companheiros, familiares, amigos, conhecidos ou vizinhos foram...

Erros não, machismo: o caso Laís Andrade

A história é das mais tristes. Uma mulher, Laís Andrade,...
spot_imgspot_img

Coisa de mulherzinha

Uma sensação crescente de indignação sobre o significado de ser mulher num país como o nosso tomou conta de mim ao longo de março. No chamado "mês...

A Justiça tem nome de mulher?

Dez anos. Uma década. Esse foi o tempo que Ana Paula Oliveira esperou para testemunhar o julgamento sobre o assassinato de seu filho, o jovem Johnatha...

Dois terços das mulheres assassinadas com armas de fogo são negras

São negras 68,3% das mulheres assassinadas com armas de fogo no Brasil, segundo a pesquisa O Papel da Arma de Fogo na Violência Contra...
-+=