Comissão da Verdade da Escravidão realiza audiência pública em Belém

A Comissão Nacional da Verdade sobre a Escravidão Negra no Brasil realizou audiência pública nesta segunda-feira (27) durante a VI Conferência Internacional de Direitos Humanos. No encontro, foram debatidos aspectos práticos do funcionamento do grupo e apresentadas denúncias de violações de direitos humanos no Pará. Também foi empossada a comissão no âmbito da Seccional.

no OAB

O presidente da Comissão, Humberto Adami, explicou que a questão das cotas raciais, após ser pacificada nas universidades com o entendimento do STF sobre sua constitucionalidade, sofre agora nos editais de concursos públicos para serem reconhecidas. “Se vamos começar toda a discussão de novos, vamos aumentar a cota”, afirmou.

“Temos 12 membros na Comissão, 35 consultores e 15 convidados do judiciário. Temos comissões nos Estados do Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Espírito Santo e Bahia. Há também pesquisas já feitas sobre escravidão em várias universidades”, listou.

Segundo Wilson Prudente, membro da Comissão, “o crime da escravidão não foi reparado no sentido de que não há nem um pedido de desculpa formal do Estado brasileiro”.

“A sociedade pós-moderna vive assombrada pelo espírito da escravidão. O Brasil ainda não se olhou no espelho para apagar essa mancha do passado. Todo processo histórico traumático requer um encontro para que pessoas possam seguir adiante”, explicou. “A Comissão trabalha sobre três perguntas: Quais foram, por quem foram e como foram cometidos os crimes que tornaram realidade a escravidão negra no brasil.”

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“Precisamos trazer para a pauta o tema da escravidão. A nação sempre quis colocar para baixo do tapete, desde a abolição. Fomos jogados à própria sorte. É necessário curar a sociedade brasileira da patologia do branco brasileiro, que acha que está nascendo com um capital que é a cor da pele, enquanto negro traz prejuízo. A sociedade, quando tolera o racismo, é porque ainda somos menos humanos. O certo é despertar empatia e não pena. Enquanto não for capaz de empatizar com população negra, não vai se curar dessa patologia. Comissão contribui para que sociedade comece processo de cura”, afirmou Zélia Amador de Deus, fundadora do Centro de Estudos e Defesa do Negro no Pará.

A audiência pública contou com a participação da população paraense, que denunciou os abusos sofridos pelas populações quilombolas no Estado, que têm suas terras invadidas e seus rios poluídos, além de não contarem com estrutura básica de educação e saúde.

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