A comissão para analisar cotistas negros não tem nada a ver com “tribunal racial”. Por Marcos Sacramento

A decisão do Governo Federal de exigir dos candidatos de concursos públicos a comprovação de que são negros, caso tenham optado pelas cotas raciais, provocou uma inusitada união entre esquerda e direita.

Por Marcos Sacramento, do DCM 

Tanto blogueiros progressistas quanto o reacionário Rodrigo Constantino desceram a lenha na instrução normativa que prevê uma comissão para avaliar o fenótipo do candidato.

Os lados denunciam a criação de um “tribunal racial” e citam o nazismo e o apartheid para reforçar seus argumentos.

Ambos estão equivocados, pois uma das principais reivindicações das entidades e coletivos do Movimento Negro é a implantação de mecanismos para evitar as fraudes na aplicação das cotas raciais em vestibulares e concursos públicos.

A proposta de uma banca para avaliar se o candidato é realmente negro pode até soar polêmica, mas por enquanto é a forma mais razoável de impedir ou ao menos diminuir a ocorrência das fraudes, que existem aos montes.

Só no último vestibular da Ufes (Universidade Federal do Espírito Santo) foram constatados mais de 40 casos. Na UFRB (Universidade Federal do Recôncavo Baiano) houve dez casos suspeitos.

Uma pesquisa rápida no Google recupera situações parecidas no Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Rio de Janeiro.

Há também a história do rapaz branco reincidente no uso das cotas para passar nas primeiras etapas do concurso do Itamaraty, malandragem que foi tema de dois artigos escritos por mim aqui no DCM.

É perfeitamente aceitável que um sujeito da laia de RC tente deslegitimar o combate às fraudes nas cotas. Por ele elas nem existiriam, até porque é adepto da falácia de que o Brasil é um país mestiço.

Mas causa estranhamento ver gente que se diz progressista e defensora dos direitos das minorias criticando a medida sem ao menos sugerir uma saída mais eficiente de impedir que espertalhões brancos, com olhos claros, cabelos lisos e ascendência europeia se autodeclarem negros tirar vantagens disso.

Pode ser que o afã de combater o golpe faça com que tudo vindo de Brasília neste momento seja considerado maléfico, mas eles se esqueceram de que as cotas e as tentativas de melhorá-las são resultados de uma construção história que remonta às origens do Movimento Negro.

Nem de longe a medida contra as fraudes nas cotas tem raízes no governo-golpista-usurpador de Temer, por isso não deve ser confundida com os vários deslizes da choldra interina.

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Sobre o Autor

Marcos Sacramento, capixaba de Vitória, é jornalista. Goleiro mediano no tempo da faculdade, só piorou desde então. Orgulha-se de não saber bater pandeiro nem palmas para programas de TV ruins.

 

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