Como o DCM fez o G1 mudar sua política de comentários

 

Os editores da Globo ouviram o DCM. Foi estancada uma das maiores fontes de aberrações no mundo digital brasileiro: os comentários do G1.

Paulo Nogueira

Isso aconteceu dias depois de termos dado algumas matérias sobre o tema.

Tinha me chamado a atenção, particularmente, um comentário em que um leitor dizia, sem nenhum constrangimento, que já era hora de entrar na casa de políticos como Genoino e matar as pessoas.

Escrevi um texto. Perguntei: os acionistas não lêem este tipo de coisa? E os editores? E os anunciantes? Que anunciante quer ver sua marca associada a leitores facínoras?

E depois agi como repórter.

A Globo é espantosamente desorganizada – fruto do monopólio e da reserva de mercado, coisas que minam a boa administração. Numa maratona telefônica em que sucessivas pessoas me passavam para gente que dizia nada a ter com o assunto, cheguei enfim ao editor-chefe do G1.

Perguntei qual era a política de comentários do site, e ele disse que não poderia falar nada. Era assunto da Central Globo de Comunicação, a Cegecom.

Falei enfim com uma funcionária, que me pediu que colocasse a questão num email, que ela responderia depois.

Bem, jamais veio a resposta.

Narrei minha epopeia num outro texto sobre o assunto, no qual disse o óbvio: que o G1 tinha que ser responsabilizado criminalmente pelas barbaridades que publica.

Minha passagem pelo Conselho Editorial da Globo me mostrou que com meia hora, se tanto, de conversa numa das reuniões de terça se poderia resolver o problema.

No DCM resolvemos isso em minutos, ao decidir adotar a moderação proporcionada pelo sistema Disqus, um dos mais prestigiosos do mundo.

Dias depois de meu texto, um leitor do DCM nos avisou que ao G1 fechara a porta – ou ao menos uma das portas – para os criminosos digitais que semeiam ódio na internet.

A opção do G1 foi precária e preguiçosa, é verdade, mas pelo menos o horror foi estancado. Em vez de moderar as mensagens, o G1 deixou de habilitar os comentários em textos que os maníacos vão certamente infestar de coisas torpes.

Se você for, por exemplo, a qualquer matéria sobre Joaquim Barbosa ou Dirceu, não terá como fazer comentários.

Não é a melhor solução do mundo, mas é um avanço sobre a política de portas escancaradas para celerados.

Os melhores sites do mundo moderam, e uma hora, se quiser ter qualidade, o G1 terá que seguir este caminho também. Do jeito atual, os mal-intencionados estão banidos dos debates, mas os demais também.

A Globo demorou para se mexer. Faltou excelência editorial que levasse à questão básica: se na tevê, no rádio e no jornal não publicamos comentários criminosos, por que na internet o fazemos?

Este fundamento não muda, qualquer que seja a mídia. O Globo, o jornal, publicaria em sua seção de cartas uma que pregasse o assassinato de Genoino, ou de quem for?

O DCM se orgulha de haver contribuído para melhorar a internet brasileira. É previsível que outros sites enfrentem este problema também.

Os psicopatas digitais não podem ter livre acesso na internet brasileira.

Empurrado pelo DCM, o G1 se movimentou. Fez menos do que deveria, mas enfim se mexeu.

E isto é bom.

Sobre o Autor

O jornalista Paulo Nogueira é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.

Fonte: DCM

+ sobre o tema

Preconceito racial, discriminação e racismo, distinções de letramento – Por Cidinha da Silva

Certos amigos, aborrecidos, perguntam-me se gosto de tudo em...

Ministério Público solta nota de repúdio contra Reinaldo Azevedo

Associação Paulista do Ministério Público, entidade que representa promotores...

O jornalismo publicitário

Por Marcos Fabrício Lopes da Silva O poema “Relato”, que...

O complexo de viralatas pode nos vacinar contra a raiva da mídia

Jura Passos Nem preciso dizer quantas coisas americanas são adoradas...

para lembrar

Cineasta Joel Zito Araújo avalia que mídia tradicional é injusta no debate racial

Passados 125 anos da lei que libertou africanos e...

Jornalista desenvolve portal para desmentir notícias que circulam nas redes sociais

Christh Lopes A internet oferece uma infinidade de oportunidades aos...

Uma ativista da crítica de mídia

Por Marcos Fabrício Lopes da Silva Nos livros Cada tridente...

A objetificação da mulher e a naturalização do machismo na mídia

Nós mulheres ouvimos desde muito pequenas frases como: “não...
spot_imgspot_img

Plataforma de semiótica abre inscrições para curso sobre racismo e Mídia no Brasil

Com forte adesão de profissionais, estudantes e pesquisadorxs de Comunicação em todo o Brasil, o curso 'Racismo e Mídia no Brasil: uma abordagem semiótica'...

Como a mídia ajudou a construir o “mito” que ameaça a democracia

Décadas de discurso anti-política, anti-PT e em prol da intolerância forjaram o caminho para que fascistas chegassem onde estão Por Helena Martins Do Carta Capital Nos últimos...

Manifestantes tomam o Largo da Batata, em SP, para lutar contra o fascismo

As manifestações contra a escalada do ódio e do fascismo convocadas por mulheres ganharam as ruas de mais de 30 cidades no Brasil e de 15...
-+=