De Pretas para Pretas

Nós, feministas negras e radicais, existimos. Entendemos que o feminismo radical pode abrigar perfeitamente nossas especificidades, assim como acreditamos que as mulheres compõe uma classe, um povo que compartilha demandas, dores e características que lhes são universais. Assim como não há dificuldade em entender que de acordo a teoria Marxista o proletariado compõe uma classe, e que sobre os negros e negras proletários incidem opressões estruturais específicas, entendemos que as mulheres também compõe uma classe devido ao gênero e que as negras e as periféricas estão colocadas uma outra carga de opressão.

 


Nós também reconhecemos que somos consideradas cidadãs de segunda classe a partir do momento que nascemos e que é pela nossa designação biológica que passam a designar o lugar ao qual pertencemos na sociedade. A esse processo dá-se o nome de socialização. Da mesma maneira que é através da leitura do nosso fenótipo que sofremos o racismo cotidiano. Só quem nasce com uma pele preta, pode ter noção do que é ser uma mulher negra, uma vez que trata-se de realidade material. Sujeitas ao abandono, a negligência médica na hora do parto, somos as maiores vítimas de abusos na infância. É desonesto desconsiderar toda a vivência das mulheres negras, desde seu nascimento, a vida adulta em virtude de favorecer o ideário racista de que “somos todos negras”. Por isso não admitimos como legítima a política identitária de raça.

 

Somos vítimas de uma sociedade machista como somos vítimas de terrorismo racial diário. Não tivemos a chance de conhecer outra realidade. Não queremos burlar ou impedir que classes subalternizadas lutem pelo seu lugar ao sol na sociedade. Mas enquanto feministas radicais negras construímos a nossa pauta focadas naquilo que nos interessa discutir, sob a perspectiva que nos apraz. Não estamos sob tutela de ninguém. Nós estamos dentro dos espaços feministas radicais nos colocando e tentando construir um movimento que dialogue com a nossa pauta racial. Nossa realidade não é fetiche.

 


Gostaríamos de oferecer nossa solidariedade e apoio as mulheres negras que sofreram alguma espécie de ofensa racista recentemente advindo de alguma feminista radical branca. Não corroboramos com silenciamento das feministas negras, das mulheres negras, nenhuma delas. Mas precisamos atentar para o fato de que racismo não é uma exclusividade dos espaços feministas radicais, nem de qualquer outro espaço feminista ou de militância. Mas o que acontece na sociedade reflete nesses espaços também.

 

É claro que não é porque sabemos disso que vamos deixar de combater o racismo. Dito isso, qualquer mulher negra vítima de racismo tem o nosso apoio e não iremos corroborar com seu silenciamento. Porém , devido aos acontecimentos recentes, acreditamos que é desonesto acusar toda uma corrente ideológica e teórico-filosófica de racista, sem diligentemente apontar onde se encontra esse racismo ou acusar aleatoriamente toda uma corrente do movimento feminista de racista se baseando apenas em boatos. As nossas lutas, tanto enquanto mulheres como enquanto negras é muito preciosa para nos dividirmos nos baseando apenas em rumores.

 


É importante frisar, como bem sabemos, que corrente alguma está isenta de cometer esse tipo de crueldade. Limitar o campo da crítica a apenas uma corrente e ignorar ataques racistas vindos de outra não é o que pretendemos fazer. Denuncias de racismo vindas que qualquer corrente serão consideradas. .

Carta redigida por feministas radicais negras organizadas de maneira autônoma.

Fonte:Pirao das Mulheres

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