Debret e a Cultura Negra no Brasil

Obras do pintor francês e documentos do Arquivo Histórico Municipal em exposição no Centro Histórico

Do A Voz da Cidade

No mês em que é comemorado o Dia da Consciência Negra, lembrado no último dia 20, a Prefeitura de Resende, por meio da Fundação Casa de Cultura Macedo Miranda, e o programa Câmara Cultural, desenvolvido pela Câmara de Vereadores e o Arquivo Histórico Municipal promovem a exposição “Debret e a Cultura Negra no Brasil”. Composta por 12 painéis com cópias do pintor francês, a mostra segue em cartaz até o próximo dia 30, no corredor Cultural Amâncio, Augustinho e Estevão da Casa de Cultura, localizada no Paço Municipal, no Centro Histórico de Resende.

Ao longo dos painéis, desenhos de Debret mostram registros do dia a dia dos escravos na época da chegada da Família Imperial no Brasil, o que para Claudionor Rosa, historiador e diretor do Arquivo Histórico Municipal é um bom momento para mostrar a população um pouco sobre a história do negro no nosso país desde 1802, quando Dom João VI e a princesa Isabel e toda a corte portuguesa para o país. “A exposição é uma oportunidade de aprofundar as questões do negro em nossa região. De acordo com dados estatísticos, o quantitativo de negros que havia em Resende no século 19 seria de seis mil, uma vez que a população da cidade era de 14 mil. Eles contribuíram muito para a construção e o desenvolvimento do município”, disse, exemplificando que os imóveis, pontes, e demais construções eram feitas pelos escravos.

Na mostra, os visitantes poderão ver a réplica da carta enviada por negros de Resende – após a abolição da escravatura – à princesa Izabel, onde solicitam que interceda pela devolução de uma imagem de São Benedito que estava “guardada” na Igreja Matriz à Igreja do Rosário. Claudionor explica que no documento histórico que descoberto em Resende, a Guarda Negra pede a princesa Isabel que a libertação da imagem guardada pelo padre João da Matta Tarlé.

“Na época, este padre pegou emprestada a imagem do santo após a procissão da Nossa Senhora da Boa Morte da Igreja Matriz, e não quis devolver a Igreja do Rosário e a comunidade negra. Então, eles redigiram a carta comunicando o fato e pedindo a intervenção da princesa Isabel”, relatou, afirmando que existe a informação de que a princesa respondeu ao delegado para ele tomar providência.

Apesar dos fatos, o conteúdo da carta não foi localizado, e, por fim, o Santo acabou sendo devolvido pouco tempo. “Para evitar conflito com os negros da Irmandade o padre Talé só devolveu o santo após o pagamento de uma quantia da época. Ele teria alegado que o São Benedito deu despesa com flores, velas e toalha para a igreja. A Irmandade se reuniu juntou o dinheiro e entregou ao vigário. Após este episódio nunca mais emprestaram o santo para a Igreja Matriz”, contou Claudionor, lembrando que o padre costumava aprontar na cidade.

“Em outra ocasião, o padre Talé ameaçado de levar uma surra da população acabou fugindo fantasiado de mulher embarcando na Estação Ferroviária Oliveira Botelho, que funcionava em Bulhões, indo para o Rio de Janeiro”, disse.

BANDEIRA DA IRMANDADE DE SÃO BENEDITO

Outro achado histórico presente na exposição é a bandeira da Irmandade de São Benedito. O historiador explicou que naquela época, grande parte dos negros frequentavam a Igreja do Rosário, localizada no Centro Histórico de Resende e tinham como devoção São Benedito. “Isso culminou na criação da Irmandade São Benedito, formada por homens negros, livres e escravos”, disse, concluindo que a bandeira foi encontrada no salão da Igreja do Rosário há aproximadamente 15 anos, sendo atestado que a mesma era verdadeira por meio de um documento centenário, expedido pelo laboratório da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) há dez anos. “Isso é uma relíquia que tem que ser levada ao conhecimento da população”, completa.

Com entrada franca, “Debret e a Cultura Negra no Brasil” pode ser visitada de segunda a sexta-feira, das 12 horas às 17h30min. Escolas podem agendar visitas pelo telefone (24) 3354-6927.

+ sobre o tema

13 de maio: Comemorar o que?

O Brasil, ultimo país a abolir a escravidão nas...

Navio negreiro trouxe malária para a América do Sul

Uma equipe de cientistas descobriu que o mais comum...

Série “Negros da Contracosta” mostra a beleza de Moçambique

Durante quase 400 anos, a ilha foi a capital...

‘Amistad’: O navio negreiro, porão do liberalismo

Flávio Ricardo Vassoler* O Amistad O navio negreiro singra através do Atlântico....

para lembrar

Referências da cultura negra auxiliarão a formular políticas

O Ministério da Cultura (MinC) terá, a partir de...

“Preta de Ébano” na Zona Norte

O espetáculo infantojuvenil atualiza o papel feminino na sociedade,...

Timbalada saúda a ancestralidade viva e celebra três décadas de axé

"Meu coração palpita sempre, quando sempre penso em você"....

Entrevista com Fábio Konder Comparato

Írohín- Jornal Online - O Professor Fábio Konder Comparato titular...
spot_imgspot_img

Toussaint Louverture, o general negro que libertou o Haiti

Toussaint Louverture liderou a revolução haitiana que conquistou a libertação de dezenas de milhares de escravos negros da antiga colônia francesa no Haiti e abriu caminho...

Passeio pela mostra “Um defeito de cor”, inspirada no livro de Ana Maria Gonçalves

"Eu era muito diferente do que imaginava, e durante alguns dias me achei feia, como a sinhá sempre dizia que todos os pretos eram...

Caso de dona Maria de Moura pede urgência no combate ao crime de escravidão

Quantas pessoas brancas alguém aqui conhece que passou um, dez, 20, 40, 72 anos em regime análogo à escravidão? Tenho curiosidade em saber. Conte-me nos...
-+=