‘Essa neguinha pode ter roubado alguma coisa’: cliente acusa segurança de supermercado de racismo

Vigilante teria desconfiado de balconista que saía com pacote de fraldas em sacola

Do R7 

Uma cliente do supermercado Sonda da avenida Itaberaba, na Freguesia do Ó, zona norte de São Paulo, afirma ter sido testemunha de um ato de racismo praticado contra outra cliente por um segurança da loja no início da tarde do último sábado (25).

A balconista Juliana Branco, de 24 anos, afirma que, após abordar e liberar a também balconista Marcela Souza, de 26 anos, na saída do supermercado, o segurança teria dito a outro funcionário do local: “Vai ver a gôndola porque essa neguinha pode ter roubado alguma coisa”.
O caso foi parar no 13º DP (Casa Verde). A delegada Elaine Paraguassu registrou um boletim de ocorrência de injúria por raça/cor. O segurança negou à polícia ter praticado a ofensa. Ele consta como averiguado no registro policial.

O Sonda afirma que o relato foi levado à alta administração do supermercado.

A vítima, Marcela, diz que não conhecia a testemunha e a agradece por a ter defendido.

— Fiquei indignada com o que aconteceu. Eu tinha comprado um pacote de fralda em uma farmácia e entrei no supermercado. Não achei o que queria e, quando saía, o segurança me pegou pelo braço. Já não gostei disso. Ele então perguntou se eu tinha pagado a fralda. Mostrei a nota e ele me liberou. Em seguida, ouvi a outra cliente protestando, dizendo que o que ele tinha falado era racismo.

Tarde na delegacia
Juliana, a testemunha, diz que acompanhou a entra e a saída de Marcela da loja.

— Eu vi ela entrando no supermercado já com a fralda. Quando saiu, o segurança pegou no braço dela. Por que pegar no braço? Eu conheço o supermercado e sei que aquele tipo de fralda não é vendido lá. Ela mostrou a nota, o segurança soltou o braço, mas mesmo assim não acreditou nela. Virou para outro funcionário e falou: “Vai ver a gôndola porque essa neguinha pode ter roubado alguma coisa”.

A testemunha afirma que, no mesmo momento, protestou.

— Esse segurança já tinha me parado outro dia. Também já me pediu nota. Mas racismo assim eu não tinha visto ainda? Quando ele falou “neguinha”, eu falei na hora que era racismo. A gente chamou a polícia e fomos para a delegacia.

Marcela, a vítima, diz que fez questão de prestar queixa.

— Eu nunca tinha passado por isso. Fiquei na delegacia das 15h até pelo menos as 21h para registrar o BO.
Segurança nega

Durante a tarde de ontem, o R7 tentou contato por telefone com o segurança, mas ele não atendeu. À polícia, ele afirmou ter realizado a abordagem de modo educado e negou ter segurado Marcela pelo braço.
O segurança disse ainda que pediu a nota fiscal porque, ao entrar, a vítima não tinha colocado o lacre na sacola da fralda — que seria um procedimento padrão do estabelecimento. Ele negou também que tenha pedido a outro funcionário para que verificasse a gôndola.

No boletim de ocorrência, a delegada Elaine afirmou que decidiu classificar o segurança como averiguado — e não como indiciado — por considerar é necessário colher mais informações para caracterizar o crime.

Supermercado apura

O Sonda afirmou, em nota, que “a companhia zela por uma postura profissionalcalcada no respeito e não admite qualquer manifestação de preconceito por parte de seus funcionários”. Segundo o supermercado, trata-se de uma acusação incomum.
“O relato do caso de suposta injúria racial foi levado à alta administração da companhia, onde está sendo apurado”, afirma a nota. “Na eventualidade de vir ser positivada a veracidade das informações prestadas pela cliente supostamente ofendida, a empresa Sonda fará por realizar todas as medidas necessárias à responsabilização do causador do dano, com o rigorismo que o caso exige.”

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