Estamos doentes

“E eu não vou lhes causar mal ou causar-lhes maus tratos”. Está lá no juramento de Hipócrates, fundamentado no século XVIII e lido milhares de vezes por formandos de medicina todos os anos. Mesmo assim, parece inacreditável ter visto as mensagens de alguns médicos no whatsapp sobre a saúde de Dona Marisa, então na mesa de cirurgia do hospital Sírio Libanês. O mais profundo ódio acima de tudo, até da medicina que lhes foi ensinada.

Por Jandira Feghali Do Jornal Do Brasil

O objetivo de nossa profissão é curar, atender e assistir. Muitos médicos, como o neurocirurgião Richam Faissal Ellakkis, que chegou a sugerir no grupo de whatsapp como interromper a vida de Marisa durante uma cirurgia, esqueceram disso: “Tem que romper no procedimento. Daí já abre pupila. E o capeta abraça…”, escreveu aos colegas.

A ignorância, o desafeto e a raiva são sintomas claros de um pensamento altamente intolerante. A perseguição à família de Lula pela Grande Mídia durante todos esses anos, insuflada pela seletividade da Operação Lava-Jato, fez que parte de nós adoecesse gravemente. Ao vir à luz fatos como esse, preocupa muito o diagnóstico de nossa sociedade. Estamos em estado gravíssimo de falta de solidariedade.

Isso ocorreu em outros momentos em nossa História recente, quando uma médica de Porto Alegre se recusou a atender o bebê de uma mãe que era simpatizante do PT. Quem não se recorda também dos inúmeros protestos em aeroportos de médicos contra cubanos que vinham participar do programa Mais Médicos? O preconceito de um médico gaúcho contra uma médica negra, a recusa do dep. Jair Bolsonaro em que eu atendesse seu filho num debate de TV no ultimo pleito municipal. São inúmeros exemplos.

Comportamentos de exaltação ao ódio não combina conosco. Nem pode, somos médicos! Devemos cuidar de nosso povo, sem olhar a quem!

Sou grata à medicina por ter me ensinado uma das artes mais bonitas que ensina tolerância, ausculta de problemas, angustias e sofrimentos, além da ética e humanidade. Também sou grata por ter a prática médica ter aberto meus olhos para a política, pois me revelou com toda força as consequências da desigualdade na saúde e na vida. Ver a real situação da rede pública reforçou em mim a necessidade de lutar, e esta luta me move até os dias de hoje. É a vontade de resolver as carências de nossa gente. Pude ler com alívio a manifestação coletiva de entidades e grupos médicos que também reagiram ao indigno comportamento de médicos naqueles episódios.

A solução para curar esse mal requer muito esforço. Punição aos aéticos desumanos que empunham o diploma de médico, ao qual não são dignos de manter, e uma dose diária de reflexão, constante reciclagem e respeito às diferenças. Mais amor e menos ódio. Sempre!

O nosso futuro agradece.

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