Festival Latinidades: racismo persiste no Brasil, reforçam ativistas

Mesmo com a conquista de direitos civis, o racismo persiste em diversos níveis da sociedade brasileira e dos Estados Unidos. A opinião é da ativista, professora e filósofa norte-americana Angela Davis: “mesmo que o Brasil tenha sido proclamado uma democracia racial, há problemas sérios [de racismo], que são relacionados à economia, à sociedade e à política”, disse em coletiva de imprensa no Festival Latinidades 2014: Griôs da Diáspora Negra, que vai até o dia 28, em Brasília.

Por Mariana Tokarnia

Na opinião de Angela, o mesmo fenômeno acontece nos Estados Unidos. “O tipo de racismo que se tem depois [da conquista de direitos civis] é mais difícil de combater que antes”. Ela cita o sistema carcerário e a polícia que, em ambos os países, perpetuam a discriminação. “Como no Brasil, nos Estados Unidos a raça importa quando é para determinar quem vai para a prisão e quem vai para a universidade”.

No Brasil, o Mapa da Violência 2014 mostra que as principais vítimas são jovens do sexo masculino e negros, eles representam 53,4% do total de homicídios do país. Nas universidades, há um contraste, o Censo da Educação Superior de 2012 mostra que, dos 7 milhões de estudantes, 187 mil são pretos e 746 mil pardos, o que representa 13,3% do total.

“É preciso haver uma mudança em todas as instituições racistas que temos, que nesse caso do genocídio da população negra, é a polícia”, disse a escritora brasileira mineira Ana Maria Gonçalves, também presente no evento. “O governo tem que criar uma polícia mais humanitária, tem que dar cursos sobre como se lida com o racismo dentro das instituições”. Ana Maria é autora do premiado romance Um Defeito de Cor.

O racismo existe também entre as crianças, na escola. A escritora da Costa Rica, Shirley Campbell mora em um bairro nobre em Brasília, no Lago Sul. Quando se mudou para a cidade, ela matriculou a filha, de 4 anos, em uma escola perto de casa. “Ela me perguntou o que era ser preta. Fiquei asssustada. Mas respondi que era ser como nós. Ela me respondeu: ‘Eu não quero ser preta, quero ser como todas as meninas da sala'”.

A escritora se disse impressionada porque sabia que no Brasil, a maior parte da população é negra (50,7%), segundo o Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). “Onde estão os negros?”, questiona Shirley, que logo responde: “Eu sei onde estão os negros do Lago Sul, estão nas paradas de ônibus, são os piscineiros, são os que trabalham nas casas”.

O Festival Latinidades 2014: Griôs da Diáspora Negra começou ontem (23) e vai até o dia 28 de julho, em Brasília. Na programação estão previstos conferências, debates, feiras, saraus e shows, além de outras atividades. A programação completa pode ser acessada no site do evento.

Fonte:Ebc

+ sobre o tema

Eventos promovem feminismo negro com rodas de samba e de conversa

"Empoderadas do Samba" ocupa espaço ainda prioritariamente masculino e...

Dandara: ficção ou realidade?

Vira e mexe, reacende a polêmica sobre a existência...

Michelle Obama está farta de ser chamada “mulher revoltada de raça negra”

“Uma mulher revoltada de raça negra”. Michelle Obama está...

A banalização da vida diante da cultura do abandono e da morte

O ano de 2017 expondo as vísceras da cultura...

para lembrar

Mortalidade materna de mulheres negras é o dobro da de brancas, mostra estudo da Saúde

Assim como outros indicadores de saúde, a mortalidade materna é...

Racismo institucional e ensino da cultura africana são debatidos entre governo e movimento negro

 A presidenta Dilma Rousseff recebeu nesta sexta-feira (19),...

Igreja continuará satanizando direitos das mulheres? por Fátima Oliveira

O papa Francisco, num mesmo dia, 20 de setembro,...

O fascínio de Summerhill, uma escola democrática e instigante – Por: Fátima Oliveira

Criar filhos em uma sociedade cada vez mais individualista...
spot_imgspot_img

Ela me largou

Dia de feira. Feita a pesquisa simbólica de preços, compraria nas bancas costumeiras. Escolhi as raríssimas que tinham mulheres negras trabalhando, depois as de...

“Dispositivo de Racialidade”: O trabalho imensurável de Sueli Carneiro

Sueli Carneiro é um nome que deveria dispensar apresentações. Filósofa e ativista do movimento negro — tendo cofundado o Geledés – Instituto da Mulher Negra,...

Comida mofada e banana de presente: diretora de escola denuncia caso de racismo após colegas pedirem saída dela sem justificativa em MG

Gladys Roberta Silva Evangelista alega ter sido vítima de racismo na escola municipal onde atua como diretora, em Uberaba. Segundo a servidora, ela está...
-+=