Fidel

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“Passei no vestibular, mas a faculdade é particular. Particular, ela é particular. Livros tão caros, tantas taxas para pagar…”. O trecho citado, cantado em verso e prosa por Martinho da Vila na música “O Pequeno Burguês”, de 1969, mostra a realidade nua e crua do sistema educacional daquele período, em que o negro possuía pouco acesso à educação não só no Brasil, mas em toda a América Latina. No caso brasileiro, vale lembrar que permanecemos até hoje ingressando majoritariamente em faculdades particulares, devido à exclusão histórica que sofremos e que começou a ser reparada somente com as cotas e outras medidas inclusivas.

Por Maurício Pestana enviado para o Portal Geledés 

Porém, na mesma época da canção, havia um local no Caribe onde negros tinham acesso gratuito à educação em todos os níveis. Era a ilha de Fidel, a Ilha de Cuba. Chegavam-nos notícias de que os negros cubanos se destacavam no esporte, na saúde, na educação e também na solidariedade, uma vez que muitos deles partiam para missões humanitárias no continente africano, ajudando por exemplo os irmãos angolanos.

Mas Cuba sempre esteve longe de ser um paraíso racial. Embora com uma população negra proporcionalmente numerosa, com 9,3% de cubanos declarando-se negros e 26,6% declarando-se mestiços segundo dados do Censo de 2012, nos espaços de poder as “caras pretas” não se apresentavam e ainda não se apresentam. A população negra cubana, apesar de desfrutar dos mesmos benefícios sociais que as outras etnias do país, também sofre com a sub-representação.

Com a morte de Fidel Castro na última sexta-feira, um dos maiores líderes do Século XX se foi, mas ainda podemos aprender com seus acertos e erros. Sabemos agora que o carisma de um líder e medidas sociais e políticas não são suficientes para a superação do racismo, e que a educação e conscientização racial devem estar na base estrutural de qualquer nação com sonhos igualitários. De todo modo, obrigado, Fidel! A sua tentativa de construir uma sociedade mais justa para todos, inclusive para nossos irmãos negros, com certeza será lembrada pela História.

 

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