Filho de pescador entra na universidade pela 3ª vez

Natural de Cametá, Leonardo Pinheiro dos Prazeres foi aprovado em Licenciatura em Língua Inglesa, na Universidade Federal do Pará (UFPA), com a ajuda de cursinho gratuito da colônia de pescadores da cidade

Do Leia Já

A colônia de pescadores Z16, de Cametá, município da região do Tocantins, no Pará, com seu cursinho gratuito chamado Rede de Conhecimento, conseguiu ajudar a aprovar no vestibular da Universidade Federal do Pará (UFPA), no campus de Cametá, o estudante Leonardo Pinheiro dos Prazeres, de 20 anos, calouro no curso de Letras – Licenciatura em Língua Inglesa. O projeto visa preparar os pescadores e filhos de pescadores gratuitamente para as provas do vestibular no Estado do Pará. Foi a terceira aprovação do jovem em universidade pública.

Leonardo Pinheiro iniciou os estudos na localidade de Mapiraí de Baixo, a cerca de duas horas de distância do centro da cidade, conhecida como a “terra do mapará (peixe característico da região)”. Sétimo filho de um total de nove, passou a infância remando pelo rio Tocantins até chegar à escola. Ajudou os pais Raimundo e Maria do Carmo Pinheiro dos Prazeres na pesca do mapará e na coleta de palmito para manter o sustento da família. “Meu filho caprichou muito para conseguir. E tudo isso com muita luta e muita dificuldade. Com a graça de Deus ele conseguiu e eu sabia que ele iria conseguir porque ele era muito animado para estudar. Quero agradecer ao presidente José Fernandes Barra (da colônia Z16) por ter criado o projeto Rede de Conhecimento e dizer aos outros filhos de pescadores para estudarem que conseguem”, disse Maria do Carmo dos Prazeres.

O pai do calouro que será o futuro bilíngue na cidade diz que o estudante não foge à luta. “Para mim é um grande orgulho e eu dou todo o apoio para ele e espero que ele continue nessa. Quero dizer que o Leonardo Pinheiro não é só um filho de pescador. Meu filho já passou em outras faculdades, essa não é a primeira vez”, informou Raimundo. Leonardo acumula aprovações em Educação no Campo, pela UFPA, no ano de 2014, que está cursando, e Matemática, pela Uuniversidade Estadual do Pará (Uepa) e UFPA, em 2015. O projeto Rede de Conhecimento, segundo Raimundo, ajudou muito a família e o jovem Leonardo, que também frequentou aulas em uma escola particular.

No barco a remo, Leonardo começou a ir à escola aos 5 anos, na comunidade, e dividia os estudos com a paixão pelo futebol, quando não estava no rio Tocantins. “Eu fui convidado a participar desse projeto por um amigo e cada licenciatura que a gente consegue alcançar é uma evolução para o nosso projeto de vida. É a terceira graduação que eu já passei na UFPA; contudo, essa foi a que mais me deu suporte. Esse cursinho popular é muito importante para os filhos dos pescadores e esse meio para fazer o filho do pescador evoluir”, contou.

Leonardo disse que, agora, quer acompanhar mais de perto o trabalho da Rede de Conhecimento para poder contribuir para a aprovação de muitos calouros. “Nós que somos do campo não temos muitas possibilidades e recursos. Todas as vezes que eu pensava em desistir eu lembrava de uma célebre frase de Thomas Edison: ‘A pior fraqueza é desistir e o caminho para vencer é tentar mais uma vez’. Meus amigos desistiram ao longo do caminho e eu fiquei firme, porque para mim é uma prosperidade principalmente por se tratar de um filho de pescador”, afirmou. “O melhor caminho para entrar na universidade é o vestibular; portanto, sugiro a todos os filhos de pescadores que entrar na faculdade é difícil, mas não é impossível. A universidade não foi feita só para o filho do rico, mas, também, para o filho do pobre”, concluiu Leonardo dos Prazeres.

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