Desde sempre tive uma admiração muito grande pelo Colégio Pedro II, lugar que sempre quis estudar.
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A instituição, desde sua criação, pretendia através da formação de uma elite nacional formar uma gama de políticos e intelectuais da alta administração pública. E essa proposta educacional reverbera até hoje no ensino e ações do CPII. A exemplo temos a adoção do “X” para suprimir gênero em termos, como já era utilizado nos movimentos feministas e LGBTs. A iniciativa incrível é uma das concretizações das implementações dos planos de estudos determinados desde a fundação.
Outra inciativa foi o evento « Fela Kuti: Afrobeat e a Resistência Negra », promovido pelo Grêmio CPII Humaitá junto a professores e a Frente de Negrxs Lélia Gonzalez (frente negrx de alunxs da unidade) e é um desdobramento da mobilização dxs alunxs a favor de um estudante que sofreu racismo durante uma partida de futebol na escola.
Estive lá na semana passada, quinta-feira 17/09, por indicação de Iara Cassano. Na primeira mesa estava Pedro Rajão, produtor cultural e diretor do documentário Anikulapo. No intervalo entre uma mesa e outra, compartilhei com xs estudantes uma oficina de turbantes e ali conversamos muito sobre apropriação cultural, autoestima e belezas. Foi lindo ver o interesse e atenção dx meninxs empenhadxs a descobrirem os outros “eus”. Como é sensível elxs se tocarem e se permitirem tocar pelo outro, se admirarem… e admirarem o outro. Estavam radiantes. Num segundo momento foi chegada a hora da mesa onde palestramos eu e a antropóloga Nathalia Oliveira.
O tema foi: “A luta política de Fela Kuti: pan-africanismo, antiautoritarismo e resistência negra.” Pensar na luta política de Fela é entender de onde veio, por onde se desdobrou, por qual caminho se deu e por quais se mantém: Funmilayo, mae de Fela, lutou pelos direitos de mulheres na Nigéria e em África e primeira mulher negra a dirigir um carro no país. Sandra Smith (Isidore), Panteras Negras, influenciou a luta apresentando o movimento Black Power, Malcom X e outros pensadores negros. The Queens, se tornaram parceiras de Fela em corpo pleno e faziam o Afrobeat cumprir seu papel político, espiritual, resistencial e transcendental. Mulheres de Kalakuta, nao sei dizer quantas eram, quem eram, mas se estavam ali é porque eram.
E foi sentindo-se em casa, sem ambições acadêmicas, que a mesa se fez. Uma relação horizontal que nos permitiu pensar sobre o movimento Afrobeat que existe no funk, no sambam nas culturas populares e no protagonismo feminino que os acompanha. É impagável observar que tudo aquilo que pretendia ser um canal de informação, se verte em troca voluntária e fortalecimento da educação.
NOTA : A Reitoria do Colégio Pedro II emitiu Nota Pública destinada à comunidade escolar e à sociedade em geral acerca do o uso da letra “x” para suprimir a designação de gênero em substantivos.
Gessica Justino
Bailarina e pesquisadora de em cultura popular. É educadora no Projeto Afrobetizar. Gessica é também produtora do Coletivo Obá.
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