Fundação Dorina lança livro em braille para debater acesso universal à cultura

Palavras Invisíveis conta com textos inéditos de Luis Fernando Veríssimo, Lya Luft, Eliane Brum e Fabricio Carpinejar

por Xandra Stefanel

Você não poderá ler o livro Palavras Invisíveis, recém-lançado pela Fundação Dorina Nowill. E é exatamente esta a intenção da organização que atua há quase 70 anos na inclusão social de pessoas com deficiência visual. O lançamento será feito exclusivamente em braille para provocar o debate sobre a importância do acesso universal à bens culturais. Segundo a fundação, 95% das obras não têm versão em braille.

Sob o tema “Tudo aquilo que não se pode ver”, Palavras Invisíveis conta com 10 textos inéditos de renomados autores brasileiros, entre eles Luis Fernando Veríssimo, Lya Luft, Eliane Brum, Martha Medeiros, Fabrício Carpinejar, Antônio Prata, Tati Bernardi, Ivan Martins, Carlos de Brito e Mello e Estevão Azevedo.

A obra será distribuída em escolas públicas e, pelo menos por enquanto, não haverá versão sem ser em braille no mercado editorial. Mas as histórias podem ser escutadas no hotsite de Palavras Invisíveis por meio de vídeos em que pessoas com deficiência visual leem os textos dos autores.

Felipe Brás, de 32 anos, cego há 15, lê Meu Livro Favorito, texto em que Luis Fernando Veríssimo traz lembranças emotivas sobre a primeira obra marcante de sua vida, quando ainda nem sabia ler e o pai, o escritor Érico Veríssimo, lia seu clássico infantil As Aventuras do Avião Vermelho. “Não era minha leitura preferida, eu ainda não sabia ler. Era o livro que eu mais gostava de manusear, folhar, cheirar, além de, claro, olhar as ilustrações. Acho que toda criança tem uma experiência parecida, de gostar do invólucro antes de poder decifrar o conteúdo.”

O Pescoço, da jornalista literária Eliane Brum, é lido por Thiago Beck Veiga, deficiente visual há cinco anos. Cristiely Carvalho recita o poema Lendo Sem Enxergar, de Lya Luft, sobre as sensações que as palavras causam nas pessoas: “Palavras não precisam ser vistas. Elas são sentidas, são reais. Formam as mais incríveis figuras em nossa alma sensível. Palavras respondem sem som se tivermos a mente curiosa e aberta, mesmo se não as enxergamos. As mais eloquentes são as palavras invisíveis”.

Agora você sabe como um cego se sente a cada lançamento de livro que não poderá ler. É esta a sensação, no mínimo inquietante, que a Fundação Dorina Nowill pretende espalhar para incentivar o mercado editorial brasileiro a produzir mais obras em braille.

Fonte:redebrasilatual

 

+ sobre o tema

Tribunais são enviesados contra mulheres e negros e não fazem justiça, diz advogada da OAB

Os Tribunais de Justiça são enviesados e, por isso,...

Em 2025 comemoraremos as mudanças que começam aqui e agora

Em 2025 comemoraremos a primeira década de significativa redução...

O silêncio da mídia diante da denúncia de golpe do fotógrafo brasileiro ganhador do Pulitzer

Dez dias atrás, o fotógrafo Mauricio Lima foi festejado pelos grandes meios...

para lembrar

Antiautoajuda para 2015

Em defesa do mal-estar para nos salvar de uma...

Vagina – Por: ELIANE BRUM

Será que a revolução sexual falhou? Não é curioso...

O que o velho Araweté pensa dos brancos enquanto seu mundo é destruído?

O Brasil etnocida avança na Amazônia paraense: primeiro Belo...

ELIANE BRUM: Como se fabricam crianças loucas

Os manicômios não são passado, são presente. Uma pesquisa...

Pesquisa revela que Bolsonaro executou uma “estratégia institucional de propagação do coronavírus”

A linha de tempo mais macabra da história da saúde pública do Brasil emerge da pesquisa das normas produzidas pelo Governo de Jair Messias...

“A pandemia expôs o apartheid não oficial do Brasil em toda a sua brutalidade”. Entrevista com Eliane Brum

O Brasil vive o caos sobre o caos. Em pouco mais de um mês, a Covid-19 fez mais de três mil mortes e o...

“O ódio deitou no meu divã”

“O ódio deitou no meu divã”. Relatos de psicanalistas revelam a violência que cresce e se infiltra no Brasil com a possibilidade de Jair...
-+=