Fundação Palmares lança livro sobre circuito editorial negro

Obra vai orientar, a partir de diretrizes, objetivos e metas, políticas públicas relacionadas à literatura nas redes municipais e estaduais

No  Portal Brasil

Com o objetivo de apresentar um diagnóstico sociocultural do circuito editorial, com recorte racial, a Fundação Cultural Palmares (FCP) lança o livro “Africanidades e relações raciais: insumos para políticas públicas na área do livro, leitura, literatura e bibliotecas no Brasil.”

O mapeamento foi desenvolvido a partir de consulta pública realizada em 2014, pela instituição em parceria com a Diretoria do Livro, Leitura, Literatura e Bibliotecas (DLLLB) da Secretaria Executiva do Ministério da Cultura.

A proposta é que as informações orientem diretrizes, objetivos e metas à qualificação do circuito do livro no País, subsidiando possíveis políticas públicas relacionadas a livros e literatura nas instâncias municipais e estaduais. Organizada pela escritora Cidinha da Silva a obra, composta por 402 páginas, traduz o pensamento de 48 autores predominantemente jovens e negros.

Ao afirmar que “escrever é um ato de coragem!”, Cidinha resume a atitude dos autores ao considerarem os desafios enfrentados para o combate ao racismo e para a formação do leitor-literário. Numa provocação, questiona o porquê de se incluir a literatura periférica em uma abordagem da literatura negra.

Como resposta, a própria escritora sugere “É nossa vocação alcançar a população negra onde quer que ela esteja, e existe um número significativo de autoras e autores negros entre os escritores periféricos.”

Africanidades

O primeiro capítulo do livro é composto por 12 conceitos que justificam a importância da diversidade em cultura negra, dando sentido à toda a argumentação em defesa das políticas públicas, com recorte racial, na área do livro, leitura, literatura e bibliotecas no Brasil.

Conceito primeiro de “africanidades”, Eduardo Oliveira define como “uma categoria de tempo e espaço conjugada. Reúne o que a injustiça separou […] Promove o face-a-face depois do esquecimento provocado pela travessia do Atlântico”. Desse modo, Oliveira traduz o termo como “cultura material e simbólica da Diáspora Africana, recriada e ressemantizada em território africano”, mas também, fora dele.

Outros conceitos, como de “Favela”, “Letramento”, “Literatura periférica” e “Oralitura”, dão a realidade do que é necessário para que mesmo a literatura transmita outras perspectivas. De acordo com Regina Delcastagnè, professora de Literatura da Universidade de Brasília, o mercado carece de escritores negros. “Na sociedade brasileira, a cor da pele – assim com o gênero ou a classe social – estrutura vivências distintas”.  Segundo ela, precisam-se de negros, moradores de periferias, trabalhadores escrevendo para que sua sensibilidade e imaginação dêem forma a novas criações.

Confira os autores da obra:

Acácio Almeida, Adélcio Cruz, Aline Vila Real, Analu Souza, Bel S. Mayer, Cidinha da Silva, Cristina Assunção, Dinha (Maria Nilda Mota), Edimilson de A. Pereira, Eduardo Mota, Eduardo Assis, Eduardo Oliveira, Emerson Alcalde, Érica Peçanha, Esmeralda Ribeiro, Euclides Ferreira, Fabiana Lima, Fernanda Felisberto, Grace Passô, Janja Araújo, Josemeire A. Pereira, Josias Marinho, Lívia Natália, Lucélia Sérgio, Márcia Cruz, Marco Antônio silva, Marcos F. L. da Silva, Martha Rosa Queiroz, Mauro L. Silva, Michel ?Yakini, Neide Almeida, Pablo Guimarães, Pedro Neto, Regina Delcastagnè, Renato Botão, Ricardo Riso, Rodrigo Bueno, Rodrigo Motta, Ronald Augusto, Rosa V. Pereira, Rubenilson de Araújo, Silvane Norte, Uilian Chapéu e Vagner Souza.

 

+ sobre o tema

Governo, organizações e quilombolas se unem em defesa do Decreto n°4887/2003

Por Daiane Souza Quilombolas, órgãos públicos e instituições de todo...

Quilombolas deixam sede do Incra após passarem noite no local

Órgão se comprometeu a retomar diálogo sobre desapropriações no...

Seminário Educação 2011 marca o Ano Internacional do Afrodescendente

Evento com quase 3 mil inscritos vai até quarta-feira...

Consciência Negra programação Mato Grosso do Sul 2011

05/11 Feira da Agricultura Familiar de Furnas dos...

para lembrar

spot_imgspot_img

João Cândido e o silêncio da escola

João Cândido, o Almirante Negro, é um herói brasileiro. Nasceu no dia 24 de junho de 1880, Encruzilhada do Sul, Rio Grande do Sul....

Levantamento mostra que menos de 10% dos monumentos no Rio retratam pessoas negras

A escravidão foi abolida há 135 anos, mas seus efeitos ainda podem ser notados em um simples passeio pela cidade. Ajudam a explicar, por...

Racismo ainda marca vida de brasileiros

Uma mãe é questionada por uma criança por ser branca e ter um filho negro. Por conta da cor da pele, um homem foi...
-+=