Goiás é o segundo Estado com mais homicídios de mulheres

Mulheres pretas e pardas são as que mais sofrem com a violência

Por Karla Araujo, do Mais Goiais 

POLONEZ / SHUTTERSTOCK

Goiás é o segundo Estado brasileiro que mais teve homicídios de mulheres em 2014. O dado foi divulgado nesta semana no Panorama da Violência Contra as Mulheres no Brasil, publicado pelo Observatório da Mulher contra a Violência do Senado Federal. De acordo com a pesquisa, Goiás registrou taxa de 8,4 homicídios por 100 mil mulheres, o número é superior à média nacional, de 4,6 homicídios por 100 mil mulheres. Goiás fica atrás apenas de Roraima, que teve taxa de 9,5 para cada 100 mil mulheres.

O levantamento aponta ainda que a violência letal registrada no ano foi maior contra mulheres pretas e pardas, uma vez que a taxa de homicídios relativa a essas mulheres se mostrou quase duas vezes superior àquela relativa a homicídios de mulheres brancas. Este dado se repete na maior parte dos estados brasileiros.

Os números mostram também que entre 2006 e 2014 o registro deste tipo de violência tem aumentado. Enquanto a taxa de homicídios de mulheres brancas residentes no Estado aumentou em 53%, passando de 3,6 a 5,5, a taxa de homicídios de mulheres pretas e pardas aumentou em 96%, passando de 5,3 a 10,4 homicídios por 100 mil mulheres.

Em relação aos registros de estupro, Goiás apresentou um número de ocorrências para cada grupo de 100 mil mulheres mais de duas vezes inferior à taxa de estupros registrada no País. Este dado foi citado na pesquisa do Observatório, mas foram publicados inicialmente no 10° Anuário Brasileiro de Segurança Pública, publicado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

Análise

Para a professora da Faculdade de Direito da Universidade Federal de Goiás (UFG) e membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Bartira Macedo de Miranda, os dados mostram que Goiás é um Estado de população machista e com cultura autoritária que perdura mesmo em meio ao aumento do debate em relação à violência contra a mulher. “Faltam políticas públicas direcionadas principalmente às mulheres mais pobres. No caso dos estupros, sabemos que os dados ainda estão longe da realidade porque a maior parte das vítimas não fazem denúncia”, lamenta a especialista.

Bartira afirma ainda que o problema de todos os tipos de violência contra a mulher está no fato de o Estado tratar a segurança pública com a ideia de combate e guerra e não em um paradigma de proteção dos direitos. A falta de divulgação periódica dos dados, afirma a professora, também é um empecilho, pois impede o conhecimento da população sobre o assunto e também barra a pesquisa de especialistas em segurança.

A pesquisa aponta esta falta de informação por parte da Polícia Civil de Goiás. Já a Secretaria de Estado de Segurança Pública, a pedido do Observatório, informou que, no ano de 2014, foram registradas 20.092 ocorrências relacionadas à violência contra mulheres, perfazendo uma taxa de 605,3 ocorrências para cada 100 mil mulheres residentes no estado.

Expectativa

A delegada titular da Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher (Deam) de Formosa, Fernanda Lima, lembra que os números da pesquisa não separam os casos de feminicídio e de homicídio. “É importante lembrar que alguns assassinatos acontecem durante assaltos ou em decorrência de outra criminalidade urbana. Mas no que diz respeito a registrar o número de homicídio de mulheres, a pesquisa cumpre seu papel e os números são realmente altos”, avalia a delegada.

Ainda de acordo com Fernanda, em relação à violência doméstica, o número realmente tem crescido devido a criação de mecanismos que levam cada vez mais mulheres a denunciarem os casos. “Existem estados que o número de estupros, praticado por familiares ou desconhecidos, é menor. Isso acontece porque as mulheres não têm a mesma possibilidade de procurar uma delegacia, como existe aqui”, explica Fernanda. A delegada afirma também que, a longo prazo, os indicadores começarão a diminuir pois os resultados das denúncias e das políticas públicas vão começar a aparecer. “A estatística nua e crua não representa a realidade”, conclui.

+ sobre o tema

Fim do feminicídio está associado a mudança cultural, dizem participantes de audiência

Mudanças socioculturais são necessárias para acabar com a violência...

Vitória em Goiás, derrota em São Paulo: “resoluções” de casos de estupro

Universidade Federal de Goiás demite professor acusado de estupro,...

Violência de gênero é tema de debate gratuito no Campo Limpo, em São Paulo

No dia 11 de setembro, terça-feira, o Usina de Valores e...

Lugar mais perigoso para mulheres é a própria casa, diz ONU

Segundo o relatório, assassinatos cometidos por parceiros ou familiares...

para lembrar

Nudez e pedofilia: onde está o real problema?

Incentivamos uma relação com a sexualidade desigual e potencialmente...

Quem são as vítimas “invisíveis” dos estupros no Brasil?

Estimativa é que apenas 10% de quem sofre com...

Médica alerta para estupro de meninas silenciado por familiares

Especialista do Ministério da Saúde alerta que falta integração...

Mutilação genital afeta 200 milhões de mulheres no mundo, diz ONU

Prática é considerada violação flagrante aos direitos humanos Do O...
spot_imgspot_img

Coisa de mulherzinha

Uma sensação crescente de indignação sobre o significado de ser mulher num país como o nosso tomou conta de mim ao longo de março. No chamado "mês...

A Justiça tem nome de mulher?

Dez anos. Uma década. Esse foi o tempo que Ana Paula Oliveira esperou para testemunhar o julgamento sobre o assassinato de seu filho, o jovem Johnatha...

Dois terços das mulheres assassinadas com armas de fogo são negras

São negras 68,3% das mulheres assassinadas com armas de fogo no Brasil, segundo a pesquisa O Papel da Arma de Fogo na Violência Contra...
-+=