Griôs da Dança: fortalecimento das mulheres negras capixabas

Griôs da Dança. Com a idéia inicial de praticar a dança afro-brasileira nas salas do Museu Capixaba do Negro, mulheres negras veteranas no movimento de negras e negros de Vitória/ES começaram um encontro semanal que rapidamente se transformou num dos mais ativos movimentos da capital capixaba.

Enviado por Ariane Celestino Meireles via Guest Post para o Portal Geledés

A roda das Griôs começa com uma apresentação nominal, onde cada uma fala de si e “convida” para a roda mulheres ausentes que foram significativas para suas vidas. Este convite às vezes é verbal, outras vezes apenas mentalizado. E ali começa a energia das mulheres a reverberar em toda a sala de dança. São convidadas mães, avós, benzedeiras, artistas, crianças, professoras e outras e outras mulheres. Aquelas que fizeram cafuné nos seus cabelos crespos quando crianças. Aquelas que ofereceram um pedaço do bolo de fubá quando o cheirinho invadia a rua. Todas entram na roda e a dança dos Orixás começa, sempre embalada por uma voz feminina, variando de Clementina de Jesus a Clara Nunes, passando por outras artistas que emprestam seus cantos ao grupo das Griôs da Dança, incluindo as artistas negras locais. Após uma hora de dança, a roda continua com as histórias de mulheres negras inspiradoras para a vida de todas.

A dança afro para mulheres, que transformou-se no grupo aberto Griôs da Dança, teve seu começo com mulheres acima de 40 anos que desejavam reunir-se para terem as companhias umas das outras, fortalecerem-se e exercitarem-se por meio da dança. A contação de histórias foi a marca principal do pequeno grupo dançante, que rapidamente cresceu quando diversas mulheres jovens e até crianças passaram a frequentar os encontros. E só enriqueceram o que já estava bom.

Nesses encontros, muitas mulheres negras revelaram terem-se reconhecido negras a partir das histórias ouvidas, assim como passaram a respeitar as tradições religiosas e culturais das populações negras a partir das danças dos Orixás. Estas mulheres, com vozes firmes e bastante fortalecidas, levam para as rodas suas próprias histórias de submissão somente ali reveladas. E falam das estratégias de enfrentamento das submissões vividas. Levam também histórias de outras mulheres que passaram a pesquisar a partir dos estímulos recebidos nos encontros. Assim foram conhecidas na roda as histórias de vida de Nina Simone, Benedita da Silva, Carolina Maria de Jesus, Lélia Gonzáles e tantas outras mulheres negras da cidade, do país e do mundo.

O coletivo das Griôs da Dança, nascido em maio de 2014, continua a revelar histórias inspiradoras de mulheres que passam a compor a vida de cada uma. Assim, o enfrentamento ao racismo e às outras opressões passam a ser um compromisso delas consigo mesmas e também em respeito às demais mulheres que as compõem. E continuam a dançar, a contar histórias e a mudar vidas. Para melhor.

A bênção a todas as Griôs, com desejo de vida longa!

Ariane é professora de dança afro-brasileira; mestra em política social; ativista dos movimentos sociais de negras e negros do Espírito Santo.

+ sobre o tema

Barça bate Milan, mas é Ronaldinho Gaúcho quem leva troféu para casa

Na volta ao Camp Nou, craque é ovacionado pela...

Literatura Africana Contemporânea

A literatura africana contemporânea não tem recebido, especialmente...

MODA E ARTE AFRO – Artes Visuais da Bahia

  Washinton José, o Yosh, é apontado como uma das...

A Natureza e seus significados entre adeptos das Religiões Afro-Brasileiras

  As religiões afro-brasileiras são reconhecidas como religiões de matriz...

para lembrar

Ana Paula Xongani estreia no GNT e se torna primeira brasileira com dreads em campanha de cabelos

A influenciadora digital fez os dreads durante uma viagem...

Sem Bolt, Gatlin e Gay são os astros dos 100 m em Paris

Com derrota de Bolt para Blake nas seletivas dos...

Sobre a solidão da mulher negra

Esse texto é sobre a solidão da mulher negra. Por Albertina...

Morre em Salvador a líder religiosa Makota Valdina

A educadora, líder religiosa e militante da causa negra,...
spot_imgspot_img

Refletindo sobre a Cidadania em um Estado de Direitos Abusivos

Em um momento em que nos vemos confrontados com atos de violência policial  e  não punição, como nos recentes casos de abuso de poder...

Comida mofada e banana de presente: diretora de escola denuncia caso de racismo após colegas pedirem saída dela sem justificativa em MG

Gladys Roberta Silva Evangelista alega ter sido vítima de racismo na escola municipal onde atua como diretora, em Uberaba. Segundo a servidora, ela está...

Uma mulher negra pode desistir?

Quando recebi o convite para escrever esta coluna em alusão ao Dia Internacional da Mulher, me veio à mente a série de reportagens "Eu Desisto",...
-+=