Harlem Désir

Harlem Désir é um político francês, nascido em 25 de novembro de 1959 em Paris, filho de pai da Martinica e de mãe francesa.

Harlem Désir fundou a instituição SOS Racisme em 1984, presidindo-a até 1992. Foi uma experiência que se espalhou por vários países da Europa.

O SOS Racismo de Geledés foi lançado em 1991 com a presença de Harlem Désir.

SOS Racismo

Fenômeno da moda, fogo de palha, construção da mídia.O que não se ouviu falar sobre o SOS Racismo após sua criação, em 1984, os fatos, porém, aí estão: SOS Racisme tem 20 anos e desmentiu os comentários de quem queria – ou esperava – ver nele apenas uma realidade passageira.

Decorridos vinte anos de seu nascimento, poucas associações podem reivindicar o estar sempre no âmago da atualidade e dos debates. SOS Racisme, com seus altos e baixos, durante todos esses anos, jamais deixou de angariar adeptos, interpelar, propor, manifestar,colocando-se, em cada um dos diferentes momentos, como uma associação capacitada para perceber as circunstâncias de seu tempo.

Isto não foi fruto do acaso. Se SOS Racisme teve semelhante capacidade, isto se deve ao fato de que a associação permaneceu fiel a seus valores: o da construção de uma República Mestiçada, dando às costas à extrema direita, mas igualmente ao conceitocomunitarista da luta antirracista.

Para nós, o antirracismo jamais foi a vontade de defender determinada população com outra, de ver se constituir, em bases étnicas ou religiosas, sindicatos de defesa de tal ou qual comunidade. 

“Para nós, o antirracismo foi sempre o desejo de ver cada pessoa viver com igual dignidade numa sociedade, quaisquer que sejam suas origens, seu credo religioso ou suas práticas culturais…”

É este projeto de fraternidade e igualdade que sempre orientou o conjunto de nossos combates: o da integração dos estrangeiros, o do conceito de uma França orgulhosa de ser diversa e plural, o combate contra os guetos e as discriminações raciais ou ainda o trabalho da pedagogia necessária para enfrentar o ressurgimento do antissemitismo.

Se tais combates permitiram avanços importantes e contribuíram utilmente a fazer, de nosso país, uma terra de mestiçagem, nem por isto lutas fundamentais nos aguardam nos anos vindouros.

Com efeito, se a integração deu certo globalmente, a existência de guetos e de discriminações continua, mais do que nunca, a abater-se sobre os “novos franceses” originários da imigração. Tais realidades, como SOS Racisme indicou desde seu início, contribuem poderosamente para que uma parte da juventude recue em aderir aos valores republicanos, considerados como simples declarações de intenção, e para que, assim, se implante um comunitarismo que, como se sabe, é profundamente reacionário.

Neste contexto, é preciso, mais do que nunca, conscientizar-se da importância dos referenciais e das perspectivas que temos a capacidade de propor.

Nossas constatações são cotidianas: os guetos e as discriminações, falhas da República, têm sido para as forças integristas uma formidável ocasião de explicar que é preciso abater esta última. Para SOS Racisme, ao contrário, quando existem falhas na República, o único meio de desfazer tais falhas é possuir a ambição de fazer viver a igualdade republicana.

Assim, nosso papel consiste em relembrar que os valores da República são os únicos que permitem a cada indivíduo desenvolver-se na sociedade. É nosso papel defender tais valores,quando são atacados e contestados. É o que fizemos, no que diz respeito à laicidade, mas a defesa da República não pode se reduzir a simples apelos à regra.

Defender a República é fazer com que ela seja considerada fonte de emancipação, é torná-la digna de credibilidade, fazendo com que seus valores sejam vividos por todos e em todos os lugares, no cotidiano. Defender a República é lutar sem tréguas contra os guetos e as discriminações.

Para isto torna-se urgente romper com o discurso de vitimização no qual alguns, que nele enxergam um m

Harlem Désir
Harlem Désir (Foto: Gamma-Rapho)

eio de apaziguar sua consciência, gostariam de aprisionar as jovens gerações. Nosso papel não consiste em considerar as pessoas como vítimas, mas como atores da sociedade, que têm o poder de fazê-la evoluir. Nosso papel é contribuir para que as novas gerações se engajem no combate antirracista,para afirmar que é urgente lutar contra o fascismo e o comunitarismo,para construir uma sociedade que recuse que as pessoas se constituam umas contra as outras.

Em um período de incertezas, de dúvidas,de crispações, tanto no mundo como na França,é urgente encontrar uma nova dinâmica antirracista para que as pessoas adotem perspectivas positivas,tendo a vontade de construir a República mestiçada.

O combate antirracista deve ser travado incessantemente,pois coloca para cada geração a questão de saber se queremos viver juntos e como queremos viver juntos.Tal combate deve ser travado sem tréguas pois, se ele fracassar, unicamente o ódio animará as pessoas.E quando o ódio se torna o motor das sociedades,não há nenhum outro combate progressista possível.

Construir a República mestiçada não é, portanto, um ócio. Construir a República mestiçada é compreender que existe um combate fundamental,o qual possibilita os demais combates:o combate antirracista. Ganharemos este combate,pois temos confiança em nosso dinamismo,em  nossa energia,em nossas convicções.E,para fazê-lo viver,sabemos que podemos contar com o enorme potencial de fraternidade contido na juventude black-branca-beur”.

Carreira Política

Harlem Désir fez seus estudos na Universidade de Paris  (Panthéon Sorbonne), onde licenciou-se em filosofia em 1983.  Engajou-se, em seguida, no sindicato estudantil UNEF-ID, do qual foi membro do diretório nacional, mas sobretudo no SOS Racismo, tendo se tornado seu muito atuante porta-voz até 1992.

Depois disto passou a ter atuação política, no Partido Socialista. Tentado, em alguns momentos, pela geração voltada para a ecologia, alinhou-se definitivamente à corrente da esquerda socialista e entrou para o conselho nacional do Partido Socialista em 1994 e, depois, no diretório nacional em 1997.Tornou-se finalmente responsável nacional para a Europa em 2003, ao seguir Julien Dray, que juntou-se à maioria do partido. Em 2005 ele militou a favor do “sim”, no referendo sobre o projeto de tratado constitucional europeu.

Antes de ser eleito, Harlem Désir teve um programa de rádio, trabalhou numa editora, foi gerente de uma publicação mensal e colaborador de uma rede européia de alojamento para os jovens.

Em paralelo, foi membro do Conselho Econômico e Social, de 1989 a 1994 e de 1997 à 1999. É membro do Conselho Nacional do Partido Socialista desde 1994 e do diretório Nacional desde 1997.

Candidatou-se à eleição legislativa parcial em Aulnay-sous-Bois em 1997,mas foi em 1999 que obteve seu primeiro mandato como deputado europeu. Em  2001 foi eleito conselheiro municipal da oposição em Aulnay-sous-Bois. Em 2004 encabeçou a lista do Partido Socialista relativa à região de Île-de-France,tendo em vista as eleições européias de 2004. Foi reeleito e promovido vice-presidente do grupo parlamentar do Partido Socialista Europeu.

Durante seu mandato de deputado europeu, envolveu-se com as questões relativas à globalização. Participou anualmente do Forum Social Mundial e, com Anne Ferreira, na qualidade de presidente do grupo “taxação do capital”, no Parlamento Europeu, esteve na origem de uma emenda em favor da taxa Tobin.

Esta estipulava que o Parlamento europeu “convide os participantes da Conferência sobe o Desenvolvimento Sustentável” a estudar as possibilidades de instaurar uma taxa sobre as transações financeiras, a fim de que, entre outras medidas, se concedesse meios financeiros suplementares aos países em desenvolvimento, para que lutassem contra a pobreza, e se apoiasse medidas que favorecessem seu desenvolvimento social e econômico. Esta emenda foi rejeitada por 17 votos (176 votos a favor,193 contra e 15 abstenções),em grande maioria de eleitos pertencentes aos grupos do direitista PPE e dos liberais, mas também alguns eleitos do grupo PSE.

Favorável ao “sim”, por ocasião do referendo interno no Partido Socialista e por ocasião do referendo nacional em 29 de maio de 2005, Harlem Désir criticou violentamente os partidários do “não” e a associação ATTAC da qual, sem ser membro, era um dos intermediários parlamentares. Nem por isto rompeu sua ligação com o movimento alternativo à globalização,  mas unicamente com seu componente neo-comunista/soberanista que, segundo ele, a direção do ATTAC representa.

BIBLIOGRAFIA

1985 : Touche pas à mon pote, Grasset, 148 p.(ISBN 2-246-36421-3).
1987 : SOS Désirs, Calmann-Lévy, 181 p.(ISBN 2-7021-1670-1).
1994 : La situation et le devenir des associations à but humanitaire, relatório do Conselho Econômico e Social, apresentado por Harlem Désir, Direction des Journaux officiels, 254 p. (ISBN 2-11-073636-4).
1997 : De l’immigration à l’intégration : Repérages (com Jean-Louis Bianco, Stéphane Hessel e o Club du Mardi), Actes Sud, 76 p. (ISBN 2-7427-1214-3).
1997 : Pour la république sociale : La gauche socialiste dans ses textes (coletivo),L’Harmattan (ISBN 2-7384-5514-X).
2000 : Sept jours dans la vie d’Attika (com Julien Dray, Gérard Filoche, Marie-Noëlle Lienemann e Jean-Luc Mélenchon), Ramsay, 155 p. (ISBN 2-84114-508-5).

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