Ismael Ivo traz montagem inédita à capital

Consagrado no exterior, o coreógrafo Ismael Ivo apresenta Francis Bacon, remontagem inédita de uma antiga coreografia de sua autoria

 

Poucos bailarinos construíram uma carreira tão longeva e consistente no exterior quanto o paulistano Ismael Ivo.

Nascido no bairro da Vila Ema, na Zona Leste, e radicado na Alemanha há quase duas décadas, o artista se tornou um dos maiores nomes da dança contemporânea no cenário internacional. No sábado (20) e no domingo (21), ele traz ao palco do Teatro Sérgio Cardoso Francis Bacon, remontagem inédita de uma antiga coreografia de sua autoria. Junto de três dançarinos da companhia que leva seu nome, Ivo transforma em movimento os quadros do pintor irlandês. De trilha sonora soturna, a peça de setenta minutos recria imagens assustadoras a partir de passos bruscos. Sob sombras ou luzes fluorescentes, os bailarinos usam uma plataforma de metal, um saco de papel e um pano preto esticado para reforçar os efeitos da coreografia. “Não se trata de uma apresentação fácil para o espectador”, reconhece Ivo. Ainda assim, o espetáculo agradou ao público de Viena, na Áustria. Recentemente, passou por lá com duas sessões programadas. Foram necessárias sete datas extras (todas com ingressos esgotados) para atender à demanda.

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Ivo começou a se interessar pelos palcos nos tempos da escola. Foi parar em um curso de balé clássico, mas a empolgação não durou muito. “Percebi que não é todo dia que um negro faz o papel do príncipe em O Lago dos Cisnes, por isso resolvi criar um repertório próprio”, conta. Em seguida, participou como bailarino de shows de Arrigo Barnabé, na fase do disco Clara Crocodilo. Acabou descoberto em um festival na Bahia, em 1983, pelo coreógrafo americano Alvin Ailey, que lhe ofereceu uma bolsa de estudos em Nova York. Daí em diante, Ivo só voltou ao Brasil para se apresentar e “comer arroz e feijão”. Ele hoje comanda dois importantes festivais de dança da Europa, o da Bienal de Veneza e o ImPulsTanz. Poliglota, de sotaque carregado, o homem de 1,80 metro (que não revela a idade) não deve parar de dançar tão cedo. “Seguirei enquanto o prazer for maior que a dor”, afirma. Segundo ele, o corpo do brasileiro é o mais criativo que existe. “Somos filhos do antropofagismo: assimilamos várias formas de expressão e regurgitamos outro tipo de arte, sem deixar as raízes de lado.”

 

 

Fonte: Veja SP 

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