“Jovem Negro Suspeito de Matar ciclista Também tem mãe: Nunca abandonei meu filho, afirma dona Jane”.

Será que estamos diante de mais um caso de pré-condenação, resultado da combinação de inépcia investigativa e preguiça da grande imprensa, em avaliar informações “off” obtidas ao arrepio da lei?

Do Mama Press

Dona Jane, a “suspeita” e “condenada” por suposto abandono do filho, apareceu. É uma mulher ativa, que luta pelos seus direitos.

Ao seu filho ser preso, o acompanhou no carro de polícia para garantir a sua integridade física, pelos menos até a delegacia.

Dona Jane confirma na entrevista, “que o menino cometeu infrações, como roubo de celulares, carteiras e bicicletas, mas não acredita que ele tenha chegado a matar alguém. A catadora conta que as facas encontradas perto da casa deles eram usadas por ela no trabalho. “Falei com o delegado: quero ver as câmeras de segurança [do local]. Se ele não for o culpado, ele não pode pagar. E quero ver as duas testemunhas”, disse. Se for provado o contrário, garante, que não vai “passar a mão na cabeça”.

Dona Jane, mãe, pobre e preta tem os mesmos direitos que qualquer mãe do Brasil. Tem o direito a que o crime que seu filho é acusado seja provado. Tem o direito que seu filho não sofra danos físicos, nem morais durante as investigações e em palavras mais claras que não seja torturado, como já o foi uma vez no DEGASE, para confessar, o que até agora afirmou para a sua mãe e para as autoridades que não fez.

O “Correio do Brasil” deu um passo, foi escutar dona Jane Maria da Silva enquanto ela falava no sábado no Fórum Social de Manguinhos. Dona Jane não sabe nem onde o filho está preso, logo ela que tem acompanhado seu filho durante todos estes anos de pobreza e miséria, em que tentou de tudo para educar seu filho, dar-lhe uma formação que a burocracia do Estado nunca permitiu.

Dona Jane precisa de ajuda, seu filho precisa de ajuda, para que tenham o mínimo de proteção cidadã durante este processo.

Nós da Rede Mamaterra e do Sos Racismo Brasil, estamos solidários com dona Jane e seu filho. Que ele tenha o direito a um processo justo e republicano. Como temos assistido nos processos dos maiorais do lava-jato.

Pré-condenação pela imprensa e por interesses políticos que usam da comoção pública de toda esta tragédia, que envolve as famílias tanto da vítima quanto do suspeito, já não é mais admissível no Rio de Janeiro do século XXI.

O jovem suspeito quer tenha cometido o crime ou não, precisa da proteção da sociedade, para que não venha a sofrer novamente tortura no DEGASE, que o Ministério Público está processando por já haver torturado o menor, filho da dona Jane, em passagem anterior pelas suas dependências. Marcos Romão- Editor da Mamapress

Corpo franzino, voz rouca e mãos calejadas. Aos 55 anos, a catadora de latas, papelão e garrafas plásticas Jane Maria da Silva, semianalfabeta, criou sozinha três filhos que têm hoje 25 anos, 23 e 16. Na última semana, viu o caçula estampado nas capas de jornais como suspeito da morte do médico e ciclista Jaime Gold, na Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio. Em entrevista exclusiva à Agência Brasil, lamenta que sua criação e seu trabalho em defesa de políticas públicas na comunidade onde mora, Manguinhos, na zona norte, por mais de dez anos, não tenham impedido as nove anotações criminais em nome do filho. “Não são 15”, ressalta, ao rebater o número divulgado na última semana pela polícia.

Durante o lançamento no sábado da cartilha Manguinhos tem fome de direitos, da organização não governamental Fórum Social de Manguinhos, da qual é fundadora, Jane desabafou. Ela disse que nunca abandonou o filho. Esteve presente todas as vezes em que ele foi internado no sistema socioeducativo e que, quando o adolescente foi apreendido em casa, semana passada, entrou no carro da polícia para garantir a integridade dele até a delegacia.

Para ela, pesam dúvidas sobre a participação do adolescente na morte do ciclista. Jane conta que o jovem estava com amigos no dia do ocorrido, em um tradicional ponto de skate da favela, apesar de relatos de testemunha, segundo a polícia, ligarem o jovem ao crime. “Eu e ele tínhamos visto esta reportagem (sobre a morte do ciclista, na televisão) quarta-feira. Mas ele não teve reação, estava tranquilo e eu estava tranquila. Ainda perguntei: Você tem algo a ver com isso aí?”, disse. “Se ele tivesse, a reação teria sido outra, conheço meu filho”, completou.

Jane confirma que o menino cometeu infrações, como roubo de celulares, carteiras e bicicletas, mas não acredita que ele tenha chegado a matar alguém. A catadora conta que as facas encontradas perto da casa deles eram usadas por ela no trabalho. “Falei com o delegado: quero ver as câmeras de segurança [do local]. Se ele não for o culpado, ele não pode pagar. E quero ver as duas testemunhas”, disse. Se for provado o contrário, garante, “não vai passar a mão na cabeça”.

facas

O filho de Jane passou por três internações. Crítica do sistema socioeducativo, a mãe do adolescente cobra atividades profissionais que incluam os jovens no mercado de trabalho. Para ela, todos na faixa etária do filho querem se divertir, cortar e pintar o cabelo, fazer coisas que custam dinheiro. “Esse modelo (de semi-internação), em que o jovem entra na segunda-feira e sai às sextas-feiras, não funciona, o jovem não volta”, destacou.

Para tentar evitar que o filho cometesse atos infracionais, ela conta que matriculou o adolescente no Programa Caminho Melhor Jovem, do governo do estado, cujo o objetivo é promover oportunidades. Mas a iniciativa, financiada pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), nunca saiu do papel. “Queria que esse programa fizesse alguma, porque o jovem de bolso vazio vai roubar. Então, com uma ajuda de custo para o lanche, pelo menos, o jovem fica entretido; não vai roubar”, completou. Procurado pela Agência Brasil, o governo do estado ainda não se manifestou sobre do programa.

Ao falar no lançamento da cartilha, que marcou um ano da morte de Johnata de Oliveira Lima, aos 19 anos, Jane negou que tenha abandonado o caçula. “Olha, gente, eu não sei onde meu filho está (em qual unidade). Mas vocês podem perguntar que ele vai dizer quem sou de verdade, que soumãe e pai. Que ele sempre andou comigo, nunca passou fome, sou uma mãe presente”, afirmou.

A atuação de Jane na favela é conhecida desde 2007. Na época, o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) previa a desapropriação de casas, entre as quais, o barraco de madeira onde morava. A partir daí, ela integrou associação de moradores, organização em defesa da mulher, da saúde até a formação do Fórum de Manguinhos, que luta contra a violência policial.

Nesse sábado, ao falar do filho, Jane recebeu apoio de Ana Paula Gomes de Oliveira, mãe de Johnata, morto em maio de 2014, com um tiro nas costas por um policial da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) de Manguinhos, deDeyse Carvalho, mãe de André Luis da Silva de Carvalho, morto aos 17 anos, sob tortura, quando cumpria pena no sistema socioeducativo, em 2008, no Rio, e por Débora Maria Silva, coordenadora do Movimento Mães de Maio, de São Paulo.

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