Le Monde Diplomatique assume racismo

Jornal não havia assumido posicionamento racista em nota de retratação

Por Pedro Borges Do Alma Preta

No dia 17 de Outubro, na sede do Le Monde Diplomatique, Rua Araújo, 124, República, aconteceu o debate “Mídia e Racismo” organizado pelo próprio veículo de comunicação. A conversa, mediada por Ana Claudia Mielke, jornalista e militante do Intervozes, contou com a participação de Gisele Brito, jornalista com experiência em redações de esquerda, Suzane Jardim, historiadora e pesquisadora no campo das dinâmicas raciais, Gabriela Moura, relações públicas e co-autora do livro #meuamigosecreto, e Frei David, fundador e diretor executivo da Educafro.

O debate é fruto da representação racista feita pelo jornal na edição de número 111, em que uma pessoa negra aparece com o corpo animalizado e deformado. Para Gisele Brito, mais do que a capa, a não existência de negros no corpo editorial da revista mostra o olhar da esquerda para a comunidade negra. “Não priorizam a questão do negro na sociedade, porque elas não veem isso como estratégico para a construção de uma sociedade justa. Então aquela capa é um sintoma de como boa parte da esquerda no Brasil está baseada em valores tão racistas quanto os demais que estruturam o resto da sociedade”.

Ana Claudia, apesar de fazer ressalvas ao que foi debatido, acredita que a iniciativa fora positiva. “Eu acho que foi uma iniciativa importante do jornal. Chamar movimentos negros, pesquisadores negros, pessoas que debatem especificamente o estereótipo construído nos meios de comunicação para fazer esse debate, mas eu acredito que a gente precisa avançar mais. A gente precisa trazer mais os intelectuais negros para formular questões dentro do jornal”.

Gabriela Moura destaca a importância de avançar nesta questão no país. “O debate mostrou como a gente precisa se aprofundar ainda em temas óbvios para nós negros, mas não para as pessoas brancas, como o espaço do negro no mercado editorial. A gente sai daqui com algumas propostas que a gente precisa esperar um tempo para ver se elas vão se concretizar e então fazer uma reavaliação desse mesmo mercado. No geral eu acho que o debate foi produtivo em alguns pontos, preocupante em outros, justamente porque a gente percebe o quanto a gente tem que caminhar”.

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Silvio Caccia Bava, responsável pelo jornal no Brasil, ressalta a riqueza da atividade e aponta para medidas a serem tomadas afim de alterar a estrutura do Le Monde Diplomatique. “A primeira proposta que eu fiz foi ampliar o conselho editorial para que nós tenhamos lideranças do movimento negro. O segundo passo é criar uma série especial de artigos que sejam escritos por lideranças do movimento negro, por outras pessoas que não necessariamente negras, mas tratando do racismo e que aprofundem a questão sobre a esquerda e o racismo. Estamos dispostos e propondo uma série de artigos para isso”.

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