Léopold Sédar Senghor

Senghor era de família aristocrática. O pai, serere, era um rico comerciante de nobre descendência; a mãe era peul (ou fulani) povo de pastores nômades. Sua infância, em Joal, a aldeia senegalesa onde nasceu, foi sem maiores problemas.

O menino Léopold estudou na missão católica de Ngazobil e completou seus estudos secundários no Lycée Van Vollenhoven.

Ganhou uma bolsa de estudos e foi para Paris, sendo o primeiro africano a obter o título de “agregé” numa universidade francesa.

Os anos de estudo em Paris são fundamentais para o surgimento do movimento da Negritude, resultante do encontro do senegalês Léopold Sédar Senghor com o martinicano Aimé Césaire e com Léon Gontran Damas, da Guiana Francesa.

Sua carreira na França, foi brilhante. Em 1936 foi professor em Tours, mais tarde em Paris. Durante a II Guerra, foi feito prisioneiro pelos nazistas. Na oportunidade, aprendeu alemão e escreveu poemas que depois foram publicados em Hosties Noires (Hóstias Negras) Depois de libertado, fez parte da Resistência.

Em 1945 foi eleito Deputado do Senegal na Assembléia Constituinte Francesa. Quando o Senegal uniu-se ao Sudão para formar a Federação do Mali, Senghor foi Presidente da Assembléia Federal.

Desfeita a Federação, com a independência do Senegal, Senghor foi eleito o primeiro presidente da nova república e permaneceu no cargo até 1980, quando se retirou, por sua livre e espontânea vontade, indo viver na Normandia, terra de sua esposa.

Em 1983 foi eleito para a Academia Francesa de Letras. Os últimos anos de sua vida passou entre a Normandia, Paris e Dakar.

Senghor visitou o Brasil mais de uma vez, tendo recebido, em 1964, o título de Doutor em Honoris Causa pela UFBa.

Sua obra foi traduzida para uma infinidade de idiomas: japonês, alemão, sueco, russo, italiano, português…

Seus prêmios literários se somam aos que ganhou como político e estadista.

Ele foi Doutor em Honoris Causa em mais de 20 universidades.

Sobre o Movimento da Negritude

Senghor era de família aristocrática. O pai, serere, era um rico comerciante de nobre descendência; a mãe era peul (ou fulani) povo de pastores nômades (Foto: Patrick Aventurier/Gamma-Rapho via Getty)

O encontro de estudantes negros, de diferentes procedências, nas metrópoles européias, foi de fundamental importância para o surgimento de uma consciência negra, melhor talvez dizer de uma consciência pan-africana,Senghor incluindo-se aqui os africanos na diáspora.

Considera-se o marco inicial do Movimento da Negritude a publicação, em 1932, da revista Légitime Défense por um grupo de estudantes antilhanos. Revista que não passou do primeiro número, tendo seus fundadores sofrido as maiores represálias, até mesmo por parte de seus compatriotas conservadores.

Contudo, ela influenciou definitivamente o grupo que surgiu a seguir e fundou outra revista L’étudiant noir (o Estudante Negro). Além da revista, o grupo desenvolveu intensa atividade. Organizando reuniões, exposições, assembléias, publicando artigos e poemas em outras revistas, conseguiu fazer o mundo enxergar que existia, sim, uma cultura, uma civilização africana.

O impacto foi tão forte que Aimé Césaire — o primeiro a usar a palavra negritude em um poema — destruiu tudo o que tinha escrito até então. Para ele e para Léon Damas, foi uma surpresa maravilhosa ouvir Senghor falar de uma África jamais sonhada pelos negros da diáspora, África dos doutores de Tumbuctu, do império Ashanti, das amazonas do Daomé. África cuja música não era feita somente de tambores, mas de sofisticados instrumentos como o khalam e o korá.

Resultante do Movimento foi a publicação da Anthologie de la nouvelle poésie africaine et malgache, com prefácio de Jean Paul Sartre, em que o famoso escritor e filósofo francês escreveu: “Que esperáveis, pois, quando retirásseis a mordaça que tapava estas bocas negras ? Que elas vos entoassem louvores?”

A antologia revela ao mundo uma infinidade de poetas africanos e malgaches (de Madagascar) que vieram a se tornar famosos. Posteriormente, em colaboração com o intelectual senegalês Alioune Diop funda a revista Présence Africaine, que também editou várias obras de escritores africanos em prosa e poesia.

Para Senghor, Negritude significava “a soma total dos valores africanos”. E Damas proclamava: não somos mais estudantes martinicanos, senegaleses, ou malgaches, somos, cada um de nós e todos nós, um estudante negro (daí o título da revista).

Reações

Nem só de elogios viveu o Movimento da Negritude, e muito menos o seu fundador. Dentre as primeiras reações está a célebre frase de Wole Soyinka, nigeriano, primeiro negro a receber o Prêmio Nobel de Literatura (1986): “O tigre, não precisa proclamar a sua tigritude. Ele salta sobre a presa e a mata”.

Intelectuais negros mais radicais criticam o amor de Senghor pela França. Femi Ojo-Ade o chama de híbrido.

Mas é bom lembrar que ele soube bater, quando necessário. Em “Hóstias Negras” ele diz palavras muito duras sobre a Europa e sobre a França:

“Senhor Deus, perdoa a Europa branca

A verdade, Senhor, é que durante quatro séculos de luzes ela lançou às minhas terras a baba e o ladrar dos seus molossos

E a França:

Que também ela trouxe a morte e o canhão às minhas aldeias azuis, que pôs os meus uns contra os outros como cães à disputa de um osso.”

Vale, também, lembrar que o Movimento precede em quase trinta anos a independência dos países africanos.

Sua influência é inegável na literatura que veio a seguir e mesmo no pensar de gerações de africanos.

A obra de Léopold Senghor

É uma obra vasta e diversificada, em prosa e poesia, incluindo desde artigos sobre lingüística , política, religião, até os seus famosos poemas.

Além do Movimento da Negritude, Senghor é considerado fundador do Socialismo Africano e da Civilização do Universal.

Relação das principais publicações

1944 — Les classes nominales em wolof et substantifs à initiales nasales
1945 — L’article conjonctif em wolof

— Chants d’ombre (Cantos da Sombra)

1948 — Hosties Noires (Hóstias negras)

— Anthologie de la nouvelle poésie africaine et malgache

1949 — Chants pour Naëtt
1953 — La apport de la poésie nègre

La belle histoire de Leuk le lièvre (com Abdoulaye Sadji)

1954 — Langage et poèsie negro africaine

— Esthéthique négro—africaine

1956 — Éthiopiques (poesia)
1959 — African Socialism
1961 — Nocturnes (poesia)

— La dialectique du nom — verbe em wolof

1964 — Liberté I: Négritude et humanisme

— Poèmes

1971 — Liberté II : Nation et voie africaine du socialisme
1973 — Lettres d’hivernage
1977 — Liberté III : Negritude et civilisation de l’ universal
1979 — Ëlégies majeurs (poesia)
1980 — La poésie de l’action
1983 — Discurso de recepção na Academia Francesa
1984 — Poèmes
1988 — Ce que je crois ( no que eu creio)
1990 — Ouvre poètique (obra poética)
1991 — Collected poetry (trad. de Melvin Dixon)
1993 — Liberté V: Les dialogue des cultures

Poema Aux Tirailleurs Sénégalais morts pour la France

Voici le Soleil

Qui fait tendre la poitrine des vierges

Qui fait sourire sur les bancs verts les vieillards

Qui réveillerait les morts sous une terre maternelle.

J’entends le bruit des canons—est-ce d’Irun ?—

On fleurit les tombes, on réchauffe le Soldat Inconnu.

Vous, mes frères obscurs, personne ne vous nomme.

On vous promet 500 000 de vos enfants à la gloire des futurs morts, on les remercie d’avance, futurs morts obscurs

Die schwarze Schande !

Ecoutez-moi, Tirailleurs Sénégalais, dans la solitude de la terre noire et de la mort

Dans votre solitude sans yeux, sans oreilles, plus que dans ma peau sombre au fond de la Province

Sans même la chaleur de vos camarades couchés tout contre vous, comme jadis dans la tranchée, jadis dans les palabres du village

Ecoutez-moi, tirailleurs à la peau noire, bien que sans oreilles et sans yeux dans votre triple enceinte de nuit.

Nous n’avons pas loué de pleureuses, pas même les larmes de vos femmes anciennes

Elles ne se rappellent que vos grands coups de colère, préférant l’ardeur des vivants.

Les plaintes des pleureuses trop claires

Trop vite asséchées les joues de vos femmes comme en saison Sèche les torrents du Fouta

Les larmes les plus chaudes trop claires et trop vite bues au coin des lèvres oublieuses.

Nous vous apportons, écoutez-nous, nous qui épelions vos noms dans les mois que vous mourriez

Nous, dans ces jours de peur sans mémoire, vous apportons l’amitié de vos camarades d’âge.

Ah ! puissé-je un jour d’une voix couleur de braise, puissé-je chanter

L’amitié des camarades fervente comme des entrailles et délicate, forte comme des tendons.

Ecoutez-nous, morts étendus dans l’eau au profond des plaines du Nord et de l’Est.

Recevez le salut de vos camarades noirs, Tirailleurs Sénégalais

 

MORTS POUR LA REPUBLIQUE !

 

Musicado por: Manu

Violino arabe e percussion: karim lkiya

Imagem em destaque: reprodução do site Revista Galileu

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