Mais de 50 mil indígenas farão Enem para tentar vaga em universidade

Em aldeia da etnia pareci, oito estudantes já escolheram o que querem ser.
Mulher do cacique está concluindo o curso de pedagogia pela internet.

Do G1

Foto: Tato Rocha / Acervo JC Imagem

Oito milhões de candidatos vão fazer no fim deste mês o Enem, o Exame Nacional do Ensino Médio, uma das portas de entrada para as universidades brasileiras. E, nesse grupo, estão mais de 50 mil índios.

Da oca, um grupo de guerreiros da etnia parecis, em Mato Grosso, sai pra mais um dia de batalha. Em vez de arco e flechas, livros. O inimigo é o tempo: o dia da prova do Enem está chegando e o professor da aldeia dá as últimas orientações.

Neste ano, quase 55 mil indígenas em todo o país vão fazer a prova do Enem. Em uma aldeia, são oito, que já estão decididos. Querem ser engenheiro agrônomo, professora, advogado, jornalista, enfermeira…

O nome é complicado: Jossinaldo Ezenazokemaecê. Bem, mesmo que não seja tão fácil guardá-lo, o candidato a engenheiro agrônomo está se dedicando dia e noite pra que esse nome apareça na lista de aprovados no Enem. “Estou estudando bastante pra isso. Eu quero cuidar das lavoura dos índios e vai em frente”, diz.

Valquíria Maizkero estuda para ser jornalista e ajudar a divulgar a cultura indígena. “Estudar pra ajudar povo, povo pareci”, afirma a estudante.

Mas por lá a preparação não se resume somente aos livros. Os indígenas são muito apegados às tradições e aos costumes. Por isso, nessa época, os estudantes têm se reunido também para fazer cantorias, atrais bons espíritos e atrais bons fluidos para os que pretendem fazer a prova do Enem.

“Esses conhecimentos que eles vão ter quanto à nossa sociedade, quanto à sociedade não indígena”, aponta o cacique Nelson Zoinzome.

Aos 49 anos, a mulher do cacique busca recuperar o tempo perdido. Segue o exemplo dos jovens e quer ser professora. O cacique mandou até instalar computador com internet na aldeia e ela está quase concluindo o curso de pedagogia online. “Tem que abrir a mente mais pra trabalhar com o povo, o povo indígena”, afirma.

+ sobre o tema

USP oferece curso online de programação para alunos do ensino médio

USP oferece curso online de programação para alunos do...

‘Com a política de cotas, a universidade passa a ser uma possibilidade real’

Com a política de cotas, a universidade passa a...

Universidade de Coimbra usará enem para brasileiros

Estudantes brasileiros poderão ingressar na Universidade de Coimbra, em...

UNICAMP: 4 Cursos de extensão a distância na área da Educação abrem inscrições

A Escola de Extensão da Unicamp – EXTECAMP é...

para lembrar

Apoiar entrada de jovens negros na universidade é pensar sobre qual futuro queremos

Em um cenário de crise aguda, a educação continua...

Kelly se tornou professora na pandemia e luta por inclusão na sala de aula

Kelly Aparecida de Souza Lima, de 46 anos, tornou-se...

Joel Rufino fala da literatura nas escolas

Joel Rufino dos Santos é um dos nossos mais...

Matrículas das universidades federais caem pela primeira vez desde 1990

George Monteiro, de 20 anos, já tinha encaminhada sua...
spot_imgspot_img

Geledés participa do I Colóquio Iberoamericano sobre política e gestão educacional

O Colóquio constou da programação do XXXI Simpósio Brasileiro da ANPAE (Associação Nacional de Política e Administração da Educação), realizado na primeira semana de...

A lei 10.639/2003 no contexto da geografia escolar e a importância do compromisso antirracista

O Brasil durante a Diáspora africana recebeu em seu território cerca de 4 milhões de pessoas africanas escravizadas (IBGE, 2000). Refletir sobre a formação...

Aluna ganha prêmio ao investigar racismo na história dos dicionários

Os dicionários nem sempre são ferramentas imparciais e isentas, como imaginado. A estudante do 3º ano do ensino médio Franciele de Souza Meira, de...
-+=