Mary Ann Shadd

Mary Ann Camberton Shadd (9 de outubro de 1823 – 5 de junho de 1893), foi filha de Abraham e Harriett Shadd, ambos negros nascidos livres, e nasceu em Wilmington, Delaware. Era a mais velha dos 13 filhos do casal. Seu pai, um sapateiro, foi figura de grande importância no movimento abolicionista intitulado Estrada de Ferro Clandestina e agenciava assinaturas para o jornal abolicionista The Liberator, de William Lloyd Garrison.

Quando tinha dez anos, Mary Ann Shadd e sua família mudaram-se para West Chester, Pennsylvania, para que as crianças pudessem ser educadas em uma escola quaker, que ela frequentou durante seis anos, antes de todos regressarem a Wilmington.

Em 1840 Mary Ann voltou a West Chester e ali fundou uma escola para crianças negras. Ensinou também em Norristown, Pennsylvania e na cidade de Nova York.

Ativismo social

Quando a Lei dos Escravos Fugidos, de 1850, ameaçava reduzir novamente à escravidão os negros livres do norte e os escravos que haviam escapado do cativeiro, Mary Ann e seu irmão Isaac mudaram-se para o Canadá, estabelecendo-se em Windsor, Ontario. Ali fundaram uma escola racialmente integrada, com o apoio da Associação Missionária Americana. A defesa de Mary Ann em relação à integração racial levou-a a envolver-se em uma disputa pública com Henry Bibb, líder da comunidade negra do Canadá. The Voice of the Fugitive, o jornal de Bibb, atacou as idéias e o caráter dela, levando Mary Ann a fundar, em 1853, o jornal The Provincial Freeman, ao lado de Samuel Ringgold Ward. O jornal não foi bem sucedido, mas Mary Ann e Ward retomaram-no daí a um ano, estabelecendo-se em King Street, Toronto. O jornal continuou a ser publicado até 1859 e promovia a temperança, a reforma moral, os direitos civis e a auto-ajuda, por parte dos negros, ao mesmo tempo em que atacava as discriminações que os negros enfrentavam na América do Norte. Foi um dos jornais negros de maior duração até a eclosão da Guerra Civil.

Mary Ann Shadd acreditava que igrejas, escolas e comunidades separadas, constituídas apenas de negros, em última análise acabariam prejudicando a busca da liberdade. Fez campanhas pela igualdade e integração dos negros, realizando discursos públicos, nos quais abordava questões ligadas à abolição e a outras reformas. Muitos dos membros de sua família, incluindo seu pai e suas irmãs, acabaram indo morar com ela no Canadá.

Em 1856 casou com Thomas F. Cary, um barbeiro de Toronto, envolvido com o jornal dela. Tiveram dois filhos, Sarah e Linton, e moraram em Chatham, Ontario, onde ela continuou publicando seu jornal e dedicou-se ao ensino. Em 1858, John Brown realizou uma “convenção” secreta na casa do irmão dela, Isaac. Em 1861, Mary Ann Shadd publicou Voice from Harper´s Ferry, uma homenagem aos mal sucedidos esforços de Brown.

A Guerra Civil e o ativismo pós-guerra

Residência de Mary Ann Shadd Cary em Washington, D.C.
Residência de Mary Ann Shadd Cary em Washington, D.C. (Foto: Imagem retirada do site Wikipédia)

Após a morte de seu marido em 1861, Mary Ann e seus filhos regressaram aos Estados Unidos.  Durante a Guerra Civil ela se dedicou, como funcionária do governo, a recrutar voluntários negros para o Exército da União no Estado de Indiana.  Após a Guerra Civil ensinou em escolas negras de Wilmington, antes de mudar-se para Washington, D.C., onde lecionou em escolas públicas e cursou a Faculdade de Direito da Universidade Howard.  Formou-se em 1883, tornando-se a segunda mulher negra dos Estados Unidos a graduar-se em direito.  Colaborou com os jornais National Era e The People´s Advocate.

Mary Ann Shadd Cary participou da Associação Nacional pelo Sufrágio Feminino, trabalhando ao lado de Susan B. Anthony e Elizabeth Cady Stanton.  Testemunhou perante a Comissão Judiciária da Câmara dos Representantes e foi a primeira mulher negra a obter um voto por ocasião de uma eleição nacional.

Faleceu em Washington, D.C., em 5 de junho de 1893.  Sua casa, em U Street Corridor, foi declarada Marco Histórico Nacional, em 1876.

  • História afro-americana
  • Literatura afro-americana
  • Lista de escritores afro-americanos

Bibliografia

  • Beardon, Jim e Butler, Linda Jean.   Shadd: the Life and times of Mary Shadd Cary. Toronto: NC Press Ltd., 1977.
  • Rhodes, Jane.  Mary Ann Shadd Cary: the Black Press and Protest in the Nineteenth Century. Bloomington: Indiana University Press, 1998.

Ligações externas

Tradução e pesquisa:

Carlos Eugênio Marcondes de Moura

+ sobre o tema

Com poesia e didatismo, “Favela” exala o perfume de uma “flor em resistência”

A Jatropha phyllacantha, flor que nasce no sertão baiano,...

‘Reencontros na travessia: a tradição das carpideiras’ no teatro?

É UM DOM, O DE ENCOMENDAR ALMAS PARA O...

Autoestima ajuda a driblar crueldade do racismo na infância

"Ser negra é algo que vai muito além da...

A atitude corajosa e pedagógica da atriz Angelina Jolie – por Fátima Oliveira

Até agora, maio foi pródigo em temas palpitantes da...

para lembrar

Ferramenta anticolonial poderosa: os 30 anos de interseccionalidade

Carla Akotirene, autora de Interseccionalidade, pela Coleção Feminismos Plurais,...

Rosana Paulino: a mulher negra na arte

Longe de negar sua realidade e condicionar sua produção...

Carta aberta a Beatriz, Joacine e Romualda

Mais de 45 anos depois da ditadura, temos a...

Raça e educação por Sueli Carneiro

Os estereótipos dos professores a respeito da educabilidade das...
spot_imgspot_img

Peres Jepchirchir quebra recorde mundial de maratona

A queniana Peres Jepchirchir quebrou, neste domingo, o recorde mundial feminino da maratona ao vencer a prova em Londres com o tempo de 2h16m16s....

O futuro de Brasília: ministra Vera Lúcia luta por uma capital mais inclusiva

Segunda mulher negra a ser empossada como ministra na história do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a advogada Vera Lúcia Santana Araújo, 64 anos, é...

Ela me largou

Dia de feira. Feita a pesquisa simbólica de preços, compraria nas bancas costumeiras. Escolhi as raríssimas que tinham mulheres negras trabalhando, depois as de...
-+=