Menino de 12 anos é vítima de racismo em mercado na Zona Sul do Rio de Janeiro

Andre Couto, educador de 38 anos, e seu filho Everton, de 12 anos, foram fazer compras, neste sábado, no supermercado Princesa, em Laranjeiras, na Zona Sul do Rio, como costumam fazer sempre. Porém, o que era para ser mais um dia na rotina dos dois, acabou se transformando num episódio de racismo contra o menino.

Por Marta Szpacenkopf no Extra Globo

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— Quando acontece uma situação dessas com você é muito duro, muito desestabilizante. Mas nada se compara com você ver isso acontecendo com um filho seu. Nunca tinha experimentado uma situação como essa — contou o educador, que está com Everton há 18 meses, desde que o adotou.

Andre estava passando os produtos no caixa para pagar, quando o filho pediu para comprar também um chocolate. Como o produto estava sem o preço, o educador pediu que o menino fosse procurar uma máquina para saber o valor do produto e continuou passando o resto das compras no caixa.

Quando se virou, Andre viu que Everton tinha sido abordado por um segurança que tirou o chocolate da mão do menino e estava encaminhando-o para a saída. Imediatamente, Andre questionou a atitude do funcionário.

— O funcionário, que disse ser um fiscal, falou que uma pessoa disse alguma coisa sobre o meu filho para ele. Não faz sentido nenhum abordar um cliente com um produto na mão atrás da linha do caixa. Não existe nada mais banal do que isso dentro de um mercado, é assim que se faz. Se houve mesmo essa pessoa, o que fez o segurança abordar o meu filho foi o fato dele ser um menino negro. Porque fora isso não há nada de diferente das outras pessoas dentro do mercado — disse.

#racismo
Rio de Janeiro, 10 de junho de 2017, por volta de 13h, na filial do supermercado Princesa (perto da General…

Publicado por Andre Couto em Sábado, 10 de junho de 2017

Depois de ser questionado, Andre contou que o funcionário acabou se retirando e chamando um gerente. Um segundo gerente foi chamado e os quatro foram para uma sala onde os funcionários se desculparam pelo ocorrido.

— Eu falei que não aceitava porque não acho que seja o caso de pedir desculpas. Qual é o protocolo do mercado para abordar clientes? Se existe um, é importante que ele seja revisto e se não existe, é importante que seja criado e não leve em consideração aspectos exteriores. O meu filho não pegou o chocolate, ultrapassou os caixas e estava se dirigindo para a rua, longe disso. Então para mim é inaceitável e não aceito desculpas — desabafou o pai que relatou a situação em seu perfil no Facebook.

Andre ainda não foi na delegacia prestar queixa por racismo, mas disse que pretende fazer um boletim de ocorrência para que o episódio sirva como mais um alerta sobre os casos de racismo no Brasil.

— Não tenho sentimento de revanchismo ou vingança. Essa situação não se encerra nela mesma, é muito mais um sintoma que tem a ver com 500 anos de história desse país. Eu não posso lidar com essa história toda, mas se significar um repensar do Princesa e dos seus funcionários, colocar o assunto em pauta e constar nas estatísticas de vítimas de racismo no Brasil, então vale a pena. Vou fazer o que me couber para proteger o meu filho, isso me parece o mais correto a fazer — desabafou.

O EXTRA procurou o supermercado Princesa para falar sobre o episódio, mas foi informado por funcionários da unidade de Laranjeiras que o escritório só funciona de segunda a sexta-feira.

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