Militarizada, GCM paulistana age como PM e mata criança de 11 anos

Foto: Gabriel Brito/Correio da Cidadania

No último domingo (26) o menino Waldik, de 11 anos, foi assassinado pela GCM – Guarda Civil Metropolitana paulistana, no bairro da Cidade Tiradentes, na Zona Leste da cidade de São Paulo. Após perseguição a carro roubado, a criança foi atingida por um disparo fatal. A ação demonstra o quanto a prática da GCM se aproxima das práticas da Policia Militar. Aliás, não há diferenças substanciais entre a Prefeitura da cidade de SP e o Governo do Estado de SP no que diz respeito as suas políticas de segurança pública. Tanto políticas quanto polícias são radicalmente militarizadas e treinadas para a proteção do patrimônio privado, logo racistas e assassinas. Esse foi o tema de nossa coluna semanal no Nosso Jornal, da TVT.

Por Douglas Belchior, com informações do site Ponte, no Carta Capital 

Responsabilidade da Prefeitura de São Paulo

Essa é a hora daqueles que se dizem representantes dos povos oprimidos colocarem a cara. Criticar o governo do PSDB de Alckmin a cada assassinato promovido por sua polícia fascista é hábito, gera aplausos e “curtidas” no Facebook.

Mas é inadmissível ver a passividade da prefeitura de SP diante do assassinato do menino Waldik, pela sua força armada. O comando da GCM precisa ser afastado. A prefeitura disse que “termos de regras podem ser revistos”, ou seja, a GCM não pode perseguir nem atirar, mas se necessário, sim. Um absurdo! Trata-se de mais uma vida perdida. A Guarda Municipal não poderia sequer perseguir “suspeitos”, menos ainda atirar.

Não podemos nos render a naturalização do assassinato de quem quer que seja, menos ainda de crianças! Não podemos deixar que essa gestão silencie nossa voz e nem que gente nossa, por pertencer a esse campo, guarde silêncio diante de tal brutalidade.

O afastamento do comandante da GCM é o mínimo que se espera; A devida atenção e reparação – se é que cabe esse termo, à família do garoto assassinado é obrigação; E que a prefeitura abra um debate sincero e honesto junto aos movimentos populares, de direitos humanos e à sociedade como um todo sobre a desmilitarização e retirada imediata das armas letais de sua Guarda.

Entenda como foi

Do Site da Ponte

Por André Caramante, Luís Adorno e Paulo Eduardo Dias

 

Entre sexta-feira (24) e domingo (26), dois menores de idade foram mortos em Guaianazes e Cidade Tiradentes, bairros do extremo leste de São Paulo, de maneira muito parecida. Ambos estavam em um carro roubado e, após perseguição, foram mortos. A diferença está em quem atirou contra eles. Robert, de 15 anos, morreu na sexta com três tiros (dois no peito e um na boca) deflagrados por PMs (policiais militares) da Força Tática. Ele foi alvejado após cair com o carro em um córrego e tentar sair pela janela. Já Waldik, de 11 anos, foi morto na manhã deste domingo dentro de um carro por um guarda civil metropolitano, conforme a Ponte Jornalismo publicou às 17h50 deste domingo.

Somados ao caso de Ítalo Ferreira de Jesus Siqueira, 10 anos, morto com um tiro no olho por um policial militar no dia 2 de junho deste ano, já são três casos neste mês de agentes da segurança pública de São Paulo matando crianças após perseguição a carros roubados. O corpo de Robert, que estava registrado no IML (Instituto Médico Legal) como indigente, só foi liberado à família por volta das 17 horas deste domingo (26). Os familiares tentavam tirar o corpo dele para o enterro desde o sábado (25). Ninguém da família quis falar com a reportagem.

Procurada, a SSP (Secretaria da Segurança Pública) divulgou na tarde desta segunda-feira (27) a seguinte nota: “O DHPP instaurou inquérito policial para investigar a morte em decorrência de intervenção policial ocorrida na Cidade Tiradentes, na zona leste da capital. O veículo roubado passou por perícia e foi devolvido para a proprietária. A investigação segue em andamento pela Divisão de Homicídios. A Corregedoria da PM acompanha, como é praxe neste tipo de ocorrência.”

De acordo com a Polícia Civil, o menino Waldik, de 11 anos, morreu na manhã deste domingo após roubar um Chevette prata com outros dois rapazes. Ele estava no banco de trás do carro e foi o único baleado. Os outros dois fugiram. Segundo o histórico do BO (Boletim de Ocorrência) do caso, uma viatura da GCM, com três ocupantes, foi acionada, sendo alertada que o Chevette havia sido roubado. Os GCMs acharam o carro e teria ocorrido uma perseguição. Os guardas afirmaram que os suspeitos atiraram contra eles, mas foi constatado pela equipe pericial apenas um disparo de fora para dentro do veículo, sendo que os vidros das portas estavam fechados. E não foi encontrada nenhuma arma.

A Ponte Jornalismo publicou a morte de Waldik às 17h50 deste domingo (26).

chevette-menor

Chevette em que menor foi morto (Foto: advogado Ariel de Castro Alves)

A perseguição acabou na rua Regresso Feliz, 131, próximo de onde ocorria uma quermesse. Os frequentadores da festa cobraram os GCMs para que eles socorressem a criança que estava agonizando dentro do carro. O menino foi levado a um Pronto-Socorro da região, mas já chegou ao local sem vida. Um PM aposentado, identificado como Jackson, e que mora na região, testemunhou à Polícia Civil que presenciou a fuga e, ao perceber que havia uma criança baleada, preservou o local.

O GCM Caio Muratori foi indiciado por homicídio culposo. Segundo a Prefeitura de São Paulo, Caio e os outros dois GCMs que estavam na perseguição ficarão afastados de suas funções até que se esclareçam os fatos. A SSP informou que, por envolver menor de idade, a apuração é mais rigorosa e, por isso, mais demorada.

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