Moços improvisam nas ruas de Luanda ‘clínicas’ de unhas

Atendem no passeio e por ali montam verdadeiros salões de beleza ao ar livre. Pintam e tratam, até unhas de gel colocam às clientes.

Do Rede Angola

São moços que trabalharam nos mercados, cantinas ou nas obras, que aprenderam o ofício com amigos e que hoje ganham o suficiente para sustentar a casa: tratam das unhas de homens e mulheres nas ruas de Luanda e clientes não faltam.

Improvisam o atendimento no passeio e por ali montam, todos os dias, verdadeiros salões de beleza ao ar livre, onde além de pintar e tratar, até unhas de gel colocam às clientes, entre outros serviços. Chegam a atender mais de 10 clientes por dia, incluindo homens, até porque o preço na rua é substancialmente mais baixo do que a concorrência, o que também conta em tempo de crise.

É o caso de José Gamela, que aprendeu a tratar das unhas com um amigo, depois de deixar a venda no mercado, já lá vão mais de três anos. Monta agora a sua ‘clínica’ de manicura e pedicura junto a um banco da capital, tirando partido do interesse crescente dos angolanos pela imagem.

“Num bom dia tenho 10 clientes. Há clientes que chegam com Kz 500 , mas se tiver Kz 300 também pode deixar. Por dia posso fazer uns Kz 4.000 , é bom”, conta à Lusa.

Assume que ganha o suficiente para pagar as contas da casa e da escola dos filhos, mas sobretudo para não ter de “roubar na rua”.

Todos os dias coloca unhas de gel ou faz pinturas mais artísticas e retocadas a mulheres, mesmo que em termos de material, como para secar, não consiga competir com os salões, nomeadamente de chineses.

“No salão é mais caro. Quem não tem possibilidade, vem aqui”, atira, recordando que para pôr unhas de gel chega a cobrar Kz 1.500, preço que varia conforme a cliente. Ainda assim, menos de metade do que é cobrado nos salões.

O serviço é também mais rápido e sem marcações, o que também atrai clientes, sejam mulheres ou homens.

“Não venho arduamente, mas quando tenho valores venho fazer as unhas. No salão é mais caro”, admite Agostinho Silva, um dos clientes destes moços de rua e que normalmente gasta Kz 500 na manicura.

Mais cara é a factura que paga todos os meses Alga Cunha. Chega a gastar Kz 1.500 e prefere a rua: “Aqui é mais barato, não tem dinheiro. No salão é caro”, diz, reconhecendo que a qualidade do serviço é praticamente a mesma.

De lima entre os dedos, como o faz há dez anos pelas ruas de Luanda, Augusto Gabriel conta àLusa que aprendeu o ofício de manicura e pedicura na tenda do irmão, no antigo mercado do Roque Santeiro.

“Ia vendo os catálogos das unhas e fui aprendendo com ele, sempre que podia, aos poucos”, recorda.

Hoje faz de tudo um pouco na manicura e até se especializou em pintar unhas no estilo brasileiro. “Sextas e sábados posso tratar mais de 20 pessoas e até casamentos faço. Num dia bom posso levar uns Kz 9.000”, explica.

Por uma noiva pode cobrar, para tratar das unhas dos pés e das mãos, mais de Kz 6.000, mas sair da rua está para já fora de questão.

“O dinheiro não chega para ir para um salão, aqui na rua está bom”, garante.

Apesar de o trabalho ser feito em pleno passeio, na habitual agitação e caos de Luanda, estes verdadeiros profissionais de manicura de rua garantem que por cada cliente é utilizada uma lima e que todos os utensílios são desinfectados previamente.

“É na rua, mas temos segurança no que fazemos”, remata Augusto.

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