Morro da Chacrinha teve duas atletas medalhistas

Walmyr Junior conta a história de superação das jogadoras de badminton Lohaynny e Luana Vicente, filhas do Bodão, ‘dono’ do tráfico de drogas do Chapadão durante os anos 1990, e morto durante tiroteio em 2002. “Assim como a história das irmãs medalhistas, muitas outras histórias precisam ser contadas. A superação da pobreza e da vida marginalizada é um roteiro que descreve a superação de muitos outros atores na favela”, diz, para concluir: “Precisamos de mais investimento em projetos que giram em torno do empoderamento, da formação educacional e da capacitação técnica atrelados a políticas públicas de esportes. Não podemos achar que só o futebol transforma vidas dentro da favela”

Por *Walmyr Junior, para o Jornal do Brasil

No Brasil 247

Medalha da favela no Pan-Americano

Uma história emocionante que nasceu no morro da Chacrinha se tornou conhecida recentemente pelos feitos heroicos das medalhistas do Pan Lohaynny e Luana. As irmãs, que são filhas de Sandro de Oliveira Vicente, o Bodão, ‘dono’ do tráfico de drogas da favela do Chapadão durante a década de 1990, são hoje os principais nomes do badminton brasileiro.

Medalhistas de prata no Pan-Americano, as atletas fizeram chegar aos jornais internacionais sua história de superação. Como seu pai era alvo de operações policiais, as meninas e sua mãe, Cátia Mendes de Oliveira, sofreram na pele o cotidiano do morador da favela, já narrado diversas vezes por mim e por meus colegas desta coluna.

Em uma operação policial em 2002, no Chapadão, o futuro das meninas foi mudado. Seu pai foi encontrado e acabou morto pela polícia em uma troca de tiros. Com o falecimento do pai, as meninas e sua mãe se mudaram para a favela da Chacrinha, na Zona Oeste do Rio de Janeiro. Era o começo de uma nova vida surgida em um projeto social que tinha o badminton como opção esportiva para as crianças do morro.

A história das meninas se assimila a de tantos outros que, através do esporte, transformam suas vidas. Craques do futebol como Ronaldo, Adriano e Emerson Sheik também foram moradores de favela. Uma pena que o investimento nos esportes não possibilita que mais meninos e meninas da favela tenham o mesmo futuro que os atletas aqui mencionados.

Assim como a história das irmãs medalhistas, muitas outras histórias precisam ser contadas. A superação da pobreza e da vida marginalizada é um roteiro que descreve a superação de muitos outros atores na favela. Somos marcados pelo abandono, pela falta de políticas públicas e constantemente rifados por projetos sociais que visam meramente o lucro em cima da pobreza alheia.

Precisamos de mais investimento em projetos que giram em torno do empoderamento, da formação educacional e da capacitação técnica atrelados a políticas públicas de esportes. Não podemos achar que só o futebol transforma vidas dentro da favela.

Como já dizia os Titãs: “A gente não quer só comida. A gente quer a vida como a vida quer”

*Walmyr Júnior, morador de Marcílio Dias, no conjunto de favelas da Maré, é professor e representante do Coletivo Enegrecer como Conselheiro Nacional de Juventude (Conjuve). Integra a Pastoral Universitária da PUC-Rio. Representou a sociedade civil no encontro com o Papa Francisco no Theatro Municipal, durante a JMJ.

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