Morte e vida virgulina – Por: Cidinha da Silva

Fábio Mandingo, autor de Salvador Negro Rancor (Ciclo Contínuo, 2011), lançou o segundo livro pela mesma editora, trata-se de Morte e vida virgulina. A obra tem dinamismo e agilidade, características essenciais do texto de Mandingo.

O verbo do autor baiano tem verdade, versatilidade, alvo e faz com que nossos olhos ajam durante a leitura da palavra sua que, literalmente, nos transporta a outros mundos, propicia a formação de imagens pautadas pelo seu repertório rico de lugares de fala desconhecidos ou ignorados.

Raimundo Carrero, autor pernambucano, nos diz que autor não tem estilo, quem tem estilo é o personagem. Mandingo parece ter levado essa ideia às últimas consequencias nos dois primeiros textos do livro, Infanto Juvenil I e Infanto Juvenil II, os que menos gostei por serem muito masculinistas. Senti falta da interferência de um autor mais sensível, ainda que não transversalizado pelo feminismo, propriamente. Falta do autor que se manifesta nos três textos seguintes, que faz uma leitura menos crua, menos descritiva, do passado.

A poeticidade de Mara, Morte e vida virgulina e Oju Oyin merece entrar para o inventário de belezas incomparáveis da literatura brasileira. O texto de mandingo é paradigmático na literatura negra, original, sem ser pretensioso, diferente de tudo o que já li.

Morte e vida virgulina é um livro de contos, pleno. As personagens todas são bem construídas, as tramas não são lineares e Mandingo joga um jogo de Capoeira Angola cheio de ginga, belos e certeiros golpes. Econômicos, também, embora seu texto não seja propriamente econômico, o jogo o é. É preciso, incisivo. Mandingo não deixa a ponta da corda solta, mas dá liberdade ao barco para navegar.

 

+ sobre o tema

Eu era menino quando os da caserna confundiram-me com um comunista

Eu tinha pouco mais de dois anos quando raiou...

UFRJ terá primeira mulher negra como diretora da Faculdade de Educação

Neste ano, a Faculdade de Educação da Universidade Federal do...

Ditadura invadiu terreiros e destruiu peças sagradas do candomblé

Desde criança, a iyalorixá Mãe Meninazinha d’Oxum ouvia a...

Morre Ykenga Mattos, que denunciou o racismo em seus cartuns, aos 71 anos

Morreu na manhã desta segunda-feira aos 71 anos o...

para lembrar

Instituto de Mulheres Negras pede a prisão de acusado de xingar fotógrafa

O Instituto de Mulheres Negras de Mato Grosso (Imune)...

Ator tem peça cancelada após comentários preconceituosos em rede social

  O ator Marauê Carneiro postou um comentário em um...

Racismo no Brasil é comprovado por César Menotti e Altas Horas

O cantor sertanejo César Menotti, ao declarar no programa...
spot_imgspot_img

Frugalidade da crônica para quem?

Xico, velho mestre, nesse périplo semanal como cronista, entre prazos apertados de entrega, temas diversos que dificultam a escolha, e dezenas de outras demandas,...

O PNLD Literário e a censura

Recentemente fomos “surpreendidas” pela censura feita por operadoras da educação no interior do Rio Grande do Sul e em Curitiba a um livro de...

Cidinha da Silva e as urgências de Cronos em “Tecnologias Ancestrais de Produção de Infinitos”

Em outra oportunidade, dissemos que Cidinha da Silva é, assim como Lélia Gonzalez e Sueli Carneiro, autora importante para entendermos o Brasil de hoje e...
-+=