Mulheres negras e a felicidade no meio do caminho…

Há algumas semanas, na Inglaterra, eu conversava com uma jovem negra inglesa de vinte e poucos anos.

Por Viviana Santiago Do Palavra de Preta

Em nossa conversa a jovem me dizia o quanto percebia e as vezes era exaustivo  ter que se esforçar tanto, e por mais que se esforce parece que nunca era suficiente para convencer de sua competência, dedicação, aptidão…Que não importa quanto ela aprende, nunca é o bastante…

Uma jovem negra de 21 anos, em outro país, outro continente  me disse isso em algumas semanas passadas..

E eu me vi ali em cinco segundos congelada, me vendo exatamente no mesmo lugar em que ela está: olhando para a minha vida de mulher negra adulta e percebendo a maneira como também ainda sou questionada, destituída, invisibilizada…durante 5 segundos me vi ali naquele lugar de também querer conforto…

Devolvida a mim mesma e a nossa conversa me vi buscando, mas não encontrando um final feliz para contar, buscando uma história em que a final todas nós mulheres negras num dado momento de nossas vidas passamos a ser respeitadas integralmente, não precisamos mais ter que convencer arduamente as pessoas de que sim, somos competentes, que as pessoas não duvidaram mais de nossa autoria em nossos artigos,  que as pessoas não nos oferecem mais apenas o trabalho que ninguém mais queria, que ninguém mais segura a bolsa ou muda de calçada quando nós passamos,  que em um dia não riram mais de nossos cabelos, busquei essas histórias em minha memória e esses dias… e percebi que apesar dos anos que nos separam, nossas histórias de sobrevivência ainda são as mesmas, e esse dia de final feliz ainda não chegou

Conectando-me a mim mesma e com essa jovem  trajetória preta, pude então ver mais e ofereci a essa jovem mulher negra,  uma história de meio-do-caminho, uma história que é luta, mas também é apoio- na- luta…uma história que lhe permita se conectar com sua força, com sua grandeza, construir suas certezas, e as vezes isso o que nós mulheres negras na diáspora podemos oferecer umas as outras…a certeza de que nesse meio-do-caminho teremos umas as outras e ainda que todas as dúvidas do mundo estejam sobre nós, em nosso processo de cuidado, apoiamos umas as outras a descobrir  quem somos, a separa o que é nosso do que é da/o outra/o, a ter segurança em nosso melhor e em nosso por desenvolver e assim nao precisar ser confirmada pelos olhares e falas alheios, e dessa maneira, juntas, como dizemos na marcha das mulheres negras: Uma sobre e puxa a outra e assim seguimos, resistimos e tentamos nesse meio-do-caminho construir a felicidade e o bem viver que é direito nosso.

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