Negras e negros marcham pelo direito de viver

Ato contra o genocídio da juventude negra reúne diversos movimentos e milhares de pessoas  na capital paulista. “Estamos na rua em busca de nossa emancipação. É revolta demais, pois estamos morrendo e ninguém faz nada”

Por Igor Carvalho

Na noite da última sexta-feira (22), o movimento negro se reuniu e marchou pelo centro de São Paulo. Na pauta, aquilo que não deveria ser pedido, uma reivindicação básica e primária, o direito de viver.

A 2º Marcha Internacional Contra o Genocídio do Povo Negro reuniu 2,5 mil pessoas, segundo a organização. O ato partiu do Masp e seguiu até o Teatro Municipal, onde foi encerrado com uma homenagem ao Movimento Negro Unificado, fundado na escadaria do teatro em 1978.

“O movimento negro ressurge com força hoje, no Brasil. Hoje, ele demonstrou ser autônomo e não institucional, vivemos aqui uma noite histórica”, afirmou o militante da UneAfro, Douglas Belchior.

A união de diversos setores também foi comemorada por Beatriz Lourenço, do Levante Popular, um dos coletivos que organizaou a Marcha em São Paulo. “O mais legal é poder olhar para a rua e ver que o movimento negro está quase inteiro aqui, lutando pela vida do nosso povo.”

Faixas contra Polícia Militar e gritos durante a marcha lembraram que a corporação, chamada de “racista” pelos manifestantes, é a maior responsável pelo genocídio da população negra.

Em fevereiro deste ano, um estudo da Universidade Federal de São Carlos apontou que a polícia mata três vezes mais pessoas negras do que brancas. 79% dos assassinatos de negros foi cometido por policiais brancos.

O Mapa da Violência 2014, mostrou que morreram, em 2012, 146,5% mais negros do que brancos. Entre 2002 e 2012, esse número duplicou. São números que justificam a Marcha realizada em São Paulo e outras capitais em todo o país: Rio de Janeiro, Curitiba, Porto Alegre, Vitória, Manaus, Belo Horizonte e Salvador.

O rap é compromisso

Acompanhando negros e negras, na marcha, esteve um velho conhecido do movimento: o rap. Diversos artistas do estilo musical caminharam na 2º Marcha Internacional Contra o Genocídio do Povo Negro, entre eles Gog, Ba Kimbuta, Aláfia, Rocha Miranda e Fino Du Rap.

“Hoje, é importante a gente ver o despertar do “um só”, o movimento unido por todo o país pedindo o fim dos assassinatos contra nosso povo. As nossas vitórias são na base do conta gotas, temos que nos unir mais e lutar mais”, afirmou Gog.

Para Ba Kimbuta, o dia era histórico para o movimento negro. “Estamos na rua em busca de nossa emancipação. É revolta demais, pois estamos morrendo e ninguém faz nada”, afirmou o rapper, que criticou os governos tucanos, que se sucedem no poder desde 1994 em São Paulo. “É retrocesso demais colocarmos novamente essa direita no poder, eles tem repulsa da gente, eles nos odeiam.”

Na mesma linha foi Jairo Pereira, um dos vocalistas do Aláfia. “Nós somos o alvo preferencial, mano. Somos perseguidos nas ruas e isso precisa mudar. Essa noite está linda e os negros e negras aqui precisam ser escutados.”

Fonte: Spresso SP

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