Número de jovens negros assassinados preocupa autoridades, entidades e grupos sociais

Encontro discutiu sobre racismo, discriminação racial, intolerância religiosa e crimes homofóbicos e raciais

Do Alagoas 24 Horas

A quinta-feira (17) foi marcada por mais uma ação da Ordem dos Advogados do Brasil Seccional Alagoas (OAB/AL) dentro da programação do projeto voltado ao mês em que se faz referência à Consciência Negra. A audiência pública contou com a presença de diversas entidades, como Conselho Estadual de Promoção da Igualdade Racial e representantes de grupos sociais discutindo sobre racismo, discriminação racial, intolerância religiosa e crimes homofóbicos e raciais. Durante o encontro, o presidente da Comissão da Promoção da Igualdade Social, Alberto Jorge, que está à frente das ações divulgou um dado alarmante, no último ano mais de 1.500 jovens negros foram assassinados.

A presidente da OAB Alagoas, Fernanda Marinela, participou da audiência e ressaltou o trabalho desenvolvido pela Comissão evidenciando discussões importantes dentro do processo histórico do país, da formação da sociedade e da cultura brasileira, além de enaltecer a urgência em fortalecer a busca por soluções contra o racismo, a discriminação racial, a violência contra a população negra e LGBT e a intolerância religiosa.

“Essas discussões precisam existir o ano inteiro e fazemos isso através da Comissão da Promoção da Igualdade Social. Nesse mês de novembro, tão importante dentro desta luta, comemoramos os avanços, mas ficamos atentos diante de muito do que temos que fazer ainda. Por isso, propomos uma forma muito importante de conscientização. Semana passada, recebemos quase 300 alunos de turmas do ensino médio participando de palestras que discutiram sobre essas temáticas. Ninguém nasce preconceituoso. Infelizmente, vemos que o preconceito é consolidado durante a vida, e foi justamente essa triste realidade que nos fez criar essa abordagem, trabalhando jovens em sua formação. Em relação a igualdade social, seja ela racial, de gênero ou religiosa, caminhamos a passos lentos. Temos um número extremamente preocupante de jovens negros vítimas da violência. Nossa busca é por uma sociedade sem preconceitos. Hoje trouxemos mais um debate de extrema importância. Lembrando que esse espaço não se limita a discussões sobre racismo”, lembrou a presidente da OAB Alagoas.

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Número de jovens negros assassinados preocupa autoridades, entidades e grupos sociais durante audiência pública promovida pela OAB/AL

O Brasil, historicamente, teve uma postura permissiva quando o tema tratado é discriminação e racismo. Apesar dos avanços, a população afrodescendente brasileira ainda sofre diante das desigualdades. Segundo o presidente da Comissão da Promoção da Igualdade Social, essa desigualdade é, justamente, um dos elementos mais fortes para que no contexto atual o registro de jovens negros vítimas da violência continue em um nível extremamente preocupante.

“É o segundo ano consecutivo que Alagoas lidera o número de homicídios tendo como vítimas jovens negros. Temos muitos fatores que levam a essa realidade. Apesar das muitas conquistas, que claramente devem ser exaltadas, a falta de políticas públicas é evidente. Quando deixamos de atuar nas comunidades negras e periféricas, ou temos uma atuação limitada, perdemos nossa juventude para a criminalidade. A falta de qualificação e o desemprego caminham ao lado do tráfico, por exemplo. É preciso investimento, cuidado e motivação para que o crime não vença. Essa audiência pública é muito importante para o documentário do nosso povo, da raça negra. Então é isso que vamos fazer hoje, nós vamos analisar. A mesa foi composta por estudiosos, por representantes do movimento. Diversas reuniões são realizadas, não só no mês de novembro, por uma referência a Zumbi dos Palmares, mas durante todo o ano essas pessoas que aqui estiveram se organizam para discutir, para elaborar, para sofrer, para visitar, para denunciar”, pontuou Alberto Jorge.

Representantes de órgãos e entidades estiveram presentes somando às discussões. A secretária de Estado da Mulher e dos Direitos Humanos, Cláudia Simões, ressaltou o desejo de uma sociedade sem racismo ou qualquer tipo de preconceito e intolerância, lembrando que agressões sofridas em atos deste tipo, verbais ou físicas, geram marcas duradouras nas vítimas.

“Eu, como psicóloga, posso dividir com vocês que no meu consultório, chegam pessoas com graves problemas deste tipo. Eu tenho um caso de uma senhora que está em depressão, de moderada para grave, porque a filha está noiva de um negro e ela é uma menina branca que tem doutorado. Vocês imaginam como ainda posso receber um caso desse? O sentimento profissional, nesse momento, é de compaixão. Ela tem um sentimento, que ela considera verdadeiro, porque ela foi criada desse jeito. Agora você imagina o sofrimento que as pessoas se colocam e colocam no outro. Imaginem dentro desse contexto quanto sofrimento esta senhora está levando para a filha e para o noivo, para a família como um todo. Nossa sociedade ainda permanece doente em vários sentidos de desequilíbrio e este é um deles. Se essa palavrinha “respeito” fosse melhor refletida, teríamos menos doença e aí não estaríamos aqui falando desse tema com essa indignação, de tantas coisas que precisamos fazer. Como psicóloga, posso dizer a vocês que a primeira referência realmente é a família e essas famílias andam desestruturadas. A segunda referência é a escola, por isso que a minha sugestão é que a gente possa ir juntos a escola e levar essas rodas de conversa essas discussões que muito tem a trazer para a sociedade”, refletiu.

Após a audiência, a Comissão pretende produzir um documento que será entregue as autoridades competentes locais e a nível nacional, com todas as deliberações e proposituras, no intuito de amplificar, junto a outros órgãos, a busca pela solução da desigualdade, discriminação e conflitos, além da violência que continua vitimando gravemente a população afrodescendente.

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