O atentado contra o Instituto Lula é filho da impunidade das manifestações de ódio. Por Paulo Nogueira

O atentado terrorista contra o Instituto Lula é filho da permissividade com que manifestações de ódio vem sendo tratadas no Brasil.

Por Paulo Nogueira Do DCM

A impunidade leva a novos degraus.
Primeiro você xinga, calunia, massacra nas redes sociais. Depois, começa a jogar bombas.

O Brasil tem que adotar uma política de tolerância zero com o ódio.

Em Nova York, nos anos 1990, o então prefeito Michael Bloomberg revolucionou o combate à criminalidade com a adoção da tolerância zero.

O sujeito que fazia xixi em área pública, se não coibido, depois estava cometendo pequenos furtos, e depois sabe-se lá o que ele faria.

O papel da extrema direita na disseminação do ódio impune, em geral pela mídia, é central.

Veja o que algumas pessoas falaram a respeito do atentado.

No Twitter, Danilo Gentili escreveu que Lula forjou o ataque, e que o máximo que ele conseguiu foi as pessoas lamentarem que ele não estivesse lá na hora.

Piada?

Na verdade, crime. Gentili acha que pode fazer uma acusação grave dessas sem nenhuma consequência.

E não dá para culpá-lo. Ele foi processado por racismo por um negro depois de mandá-lo comer bananas.

O juiz disse que não havia ofensa.

Felipe Moura Brasil, blogueiro da Veja que ultrapassou qualquer limite da sanidade, também disse que Lula inventou a bomba.

“A melhor defesa para o PT é se atacar”, escreveu ele no Twitter.

Lobão fez o que se espera de Lobão.

Numa sociedade civilizada, você não pode fazer uma acusação tão grave, e com tamanha dose de ódio irracional, e não responder por isso criminalmente.

Mas é o que acontece no Brasil de hoje.

A Justiça é o que é, mas mesmo assim os promotores do ódio e os assassinos de reputação têm que ser processados.

No mínimo, eles enfrentarão aborrecimentos. E terão que arcar com despesas de advogados.

O que não pode acontecer é nada.

Neste sentido, Lula merece aplausos por decidir processar o diretor de redação da Veja e os repórteres que assinaram a matéria sobre a delação que não existiu.

Romário deveria fazer o mesmo.

Talvez a perspectiva de um passivo jurídico elevado leve as empresas jornalísticas a refrear seus aloprados.

O Brasil não haverá de ser para sempre a terra do valetudo jornalístico. Uma hora a opinião pública exigirá penas duras para assassinos de reputação homiziados na mídia.

Aconteceu em países avançados, e acontecerá também no Brasil.

Agora mesmo, nestes dias, a revista americana Rolling Stone enfrenta uma ação de indenização de 7,5 milhões de dólares por haver relatado um estupro numa universidade com uma série de erros factuais.

No plano das coisas previsíveis, até o momento em que escrevo não aparecera nenhuma manifestação de solidariedade a Lula de FHC, de Aécio e do PSDB.

Mas o que importa agora é reprimir os agentes do ódio. Tolerância zero com eles.

Ou o Brasil acaba com o ódio ou o ódio acaba com o Brasil.

É tempo de fazermos a escolha.

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