O desafio que é combater o preconceito na educação

Mariana Lazari

No ambiente escolar, a intolerância pode se intensificar. São apelidos, dedos apontados, críticas e desdém que, quando recorrentes, afetam o emocional e até o desempenho escolar da vítima. Diálogo e incentivo à cultura de paz são essenciais no combate dessa prática

É com lágrimas nos olhos e silêncio que a menina explica como se sente diante da crueldade com que é tratada por quem poderia ser parceiro. Clara (nome fictício) tem 12 anos, é aluna do 8º ano, mas sofre como “gente grande”. É chamada de “gorda” constantemente pelos colegas. Sofre. Deixou de frequentar a escola estadual, no Quintino Cunha, por duas semanas neste ano. Não aguentava mais a humilhação diária. Voltou, mas o incômodo continua. Sonha mudar de turma. “Eu não sei por que fazem isso. Eu não faço nada de mal”, lamenta.

Clara é exemplo de triste situação que chega a ser comum no ambiente escolar: o preconceito. Para as “colegas” acusadoras, era apenas uma brincadeira. Mas brincadeira só existe quando os dois riem da situação. E, nesta história, Clara, a vítima, é só lágrimas e vergonha.

 

No ambiente escolar, não é difícil encontrar situações de preconceito. É algo que aparece quando há apelidos não aceitos, exclusão do indivíduo de um grupo, críticas, risos, dedos apontados para a diferença. E esse preconceito, quando emerge, demanda atitude dos educadores e da família. “Se na sociedade há preconceito de várias ordens, termina do mesmo jeito acontecendo na escola. E a escola tem obrigação de combater”, define a doutora em educação Nukácia Araújo.

 

E como combater o preconceito no ambiente escolar? “Uma base que preze pela formação de valores e regras de convivência, pela cultura de paz e respeito às diferenças é segredo pra esse tipo de problema. E a escola é só uma das instituições das quais a criança faz parte. A família é a principal delas”, lembra a psicóloga e psicopedagoga Ana Letícia Nunes.

 

Na primeira infância, até os sete anos, ela diz, é fundamental dialogar e explicar que as diferenças são naturais. “A criança nasce sabendo de nada. Ela escuta coisas e leva para si e para a escola. Ela é capaz de perceber a diferença, mas como natural. Para se tornar algo agressivo, tem o cunho extra-escola, de ela ouvir em algum lugar. A base, na família, de formação de valores e de projetos que incluam conceitos como ética e diferenças, na escola, faz a prevenção”, destaca Ana Letícia. Caso esse primeiro momento não conte com tais ensinamentos, o tempo pode intensificar a agressividade entre os preconceituosos. Em todas as etapas, o diálogo é fundamental.

 

As agressões excludentes podem causar reforço de timidez, dor de cabeça e de barriga, falta de vontade de ir à escola e até abandono, sono intranquilo, pesadelos, tristeza, entre outros problemas.

 

O combate à prática depende muito da preparação de quem ensina. “O ideal é que os próprios educadores, gestores, professores estejam conscientes com relação à questão do preconceito e eles próprios não tenham preconceito. O educador vai perceber mais à medida que ele esteja mais preparado para lidar com o diferente, sempre tratando de moral e ética”, ensina Nukácia Araújo.

 

A família é fundamental na luta contra o preconceito, reitera a professora. “Às vezes a própria criança não tem consciência do que está fazendo e faz sem saber. À escola cabe fazer reflexão e trabalhar com a questão da ética não como disciplina, mas como aprendizagem e vivência cotidianas”, comenta.

 

Bullying

Quando o preconceito acontece com frequência, insistência e crueldade, como acontece com a Clara, contada no início desta reportagem, traveste-se em bullying. A palavra designa a “agressão persistente e incisiva sobre o mesmo individuo”, na definição da psicóloga e psicopedagoga Ana Letícia Nunes. 

O combate a ele, destaca, precisa ser “severo”. Muitas vezes, indica-se a procura de ajuda profissional para vítima e agressor, para que os traumas e a agressividade não se perpetuem.

 

Frases

SE NA SOCIEDADE HÁ PRECONCEITO DE VÁRIAS ORDENS, TERMINA DO MESMO JEITO ACONTECENDO NA ESCOLA. E A ESCOLA TEM OBRIGAÇÃO DE COMBATER.”

Nukácia Araújo, professora da Uece e doutora em 

Educação

 

UMA BASE QUE PREZE PELA FORMAÇÃO DE VALORES E REGRAS DE CONVIVÊNCIA, PELA CULTURA DE PAZ E RESPEITO ÀS DIFERENÇAS É SEGREDO PRA ESSE TIPO DE PROBLEMA”

 

Ana Letícia Nunes, psicóloga e psicopedagoga

Saiba mais

 

Projeto Diretor de Turma

Segundo a Seduc-CE, o projeto está em cerca de 92% das escolas em que pode ser implantado, contemplando cerca de 250 mil alunos do Estado. Através do projeto, um professor acompanha todo o desempenho acadêmico e pessoal dos estudantes de uma turma até o fim da escolarização.

 

Projeto Amigos do Zippy

É um projeto de educação emocional destinado a alunos do 2º ano do ensino fundamental. Foi desenvolvido na Inglaterra e hoje é aplicado em 25 países. Com o personagem Zippy são contadas histórias que motivam a reflexão da criança sobre sentimentos e atitudes.

Pesquisa

Em 2009, a professora Sinara Mota Neves de Almeida realizou pesquisa de doutorado sobre a mediação de conflitos escolares em uma escola do Pirambu. Na ocasião, foram observados comportamentos agressivos verbais, físicos e psicológicos. A escola passou a ter um espaço para mediação que, conforme a conclusão do trabalho, “trouxe uma nova possibilidade de trabalhar a violência, a indisciplina, no contexto educacional, através da escuta do outro”.

Multimídia

 

Saiba mais do projeto Amigos do Zippy

www.amigosdozippy.org.br

 

Fonte: O Povo

 

+ sobre o tema

Racismo e Xenofobia: Os avós daqueles que desprezam nordestinos eram os nordestinos da Europa

RACISMO, UMA VEZ MAIS Por Fábio de Oliveira Ribeiro no Centro...

Espanhóis reagem com racismo às provocações: ‘Macacos, que passem fome’

Alguns internautas espanhóis perderam a cabeça com as brincadeiras...

Estudante denuncia agressão e racismo em festa da USP

Bárbara Ferreira Santos Um estudante de Ciências Sociais da Universidade...

Estudante é expulso de fórum por se recusar a tirar adereço do candomblé

Procurada para comentar a denúncia, a juíza Elque Figueiredo,...

para lembrar

Mulher funda ONG contra machismo após ameaças por perfil no Tinder

Australiana foi alvo de ataques no Facebook por causa...

Bullying: Rapazes são os mais discriminados por homofobia

De acordo com uma notícia avançada este domingo pela...

Obama responde carta de menina que sofre bullying na escola por ter pais gays

Filha de um casal gay, Sophia Bailey Klugh escreveu...
spot_imgspot_img

Bullying, esse velho conhecido

Esta semana, dia 15, o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, sancionou lei que criminaliza bullying e cyberbullying. O texto modifica o...

Crianças que não se identificam com seu gênero biológico falam sobre aceitação

Olhar no espelho e não reconhecer a imagem que vê. Se sentir incomodado e confuso com seu próprio corpo. Preferir usar as roupas de...

EUA: Menina negra de 10 anos é presa após desenhar colega que a intimidava

Uma menina negra de 10 anos foi presa em uma escola em Oahu, no Havaí, após fazer um desenho de outro aluno que estava...
-+=