O poder de “O Segundo Sexo”, de Simone de Beauvoir, hoje

Estou nas asas do feminismo desde que fui à Boca Chica, na República Dominicana, para o 12º Encontro Internacional Mulher e Saúde (20 a 23.10), que reuniu 175 mulheres de 40 países da América Latina e do Norte, África, Ásia, Caribe e Europa. Esses encontros são realizados há exatos 40 anos (1975), dos quais compareci a quatro.

Por Fátima Oliveira Do O Tempo

Os grandes debates focaram no fundamentalismo religioso como inimigo das mulheres no mundo, cujos tentáculos com ares laicos se encontram, inclusive, na esquerda patriarcal – bem explicitada pelo governo brasileiro sob o comando do PT desde 2003 que, apesar de grandes avanços na moldagem de políticas públicas de saúde, retrocedeu ao famigerado ideário da concepção de mulher-mala: programa materno-infantil, numa inolvidável submissão ao “leilão de ovários” do Vaticano/Santa Sé e do neopentecostalismo vulgar!

Há muita luta a ser “lutada” no mundo para que a saúde da mulher seja concretizada e legada às gerações futuras como um direito. Acompanhamos de Boca Chica mais um ataque de fundamentalismo e da misoginia da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, que admitiu o Projeto de Lei 5.069/2013, do deputado Eduardo Cunha (21.10.2015), que dificulta o acesso ao aborto legal para vítimas de estupro! Como destaca Alyson Freire: “é um Malleus Maleficarum” (Martelo das Bruxas) – infame manual inquisidor do final de 1.487! O Encontro emitiu uma declaração repudiando o retrocesso do Brasil quanto aos direitos reprodutivos das mulheres, um atentado ao Estado laico!

Na noite de 25 de outubro, sem desfazer a mala da viagem, li um tuíte de Dilma Rousseff ? @dilmabr: A redação teve como tema “A persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira”. #Enem2015#CombateÀViolênciaContraAMulher. Fucei rapidamente na web e li sobre a celeuma que se formava, centrada na introdução do tema. Respondi: Não tenha dúvida presidente: o título da redação do Enem2015 foi o maior gesto do seu governo contra a opressão de gênero”. Um gesto aparentemente pequeno, mas de grandiosidade incomensurável, levando o tema a 7.746.057 pessoas inscritas no exame!

O fundamentalismo religioso de extração neopentecostal disse o esperado, que era uma “doutrinação”, num chamado à guerrilha virtual, cujo vandalismo atingiu o verbete da filósofa francesa Simone de Beauvoir (1908-1986) na Wikipédia, chegando à Câmara Municipal de Campinas (SP), que, no último dia 28, aprovou moção de repúdio ao Ministério da Educação contra a presença de Simone de Beauvoir como aporte ao tema da redação do Enem: “Ninguém nasce mulher: torna-se mulher”.

A farmacêutica cearense que ficou paraplégica depois que o marido tentou assassiná-la com um tiro, Maria da Penha, que dá nome à lei, disse: “Fiquei feliz, o tema realmente está na boca do povo agora. Plantou uma semente… Num futuro próximo, estudantes que ontem fizeram o Enem vão ser os profissionais que vão atender os casos previstos na Lei Maria da Penha (2006)”.

“O Segundo Sexo”, de Simone de Beauvoir, é um ícone feminista e sua publicação, em 1949, foi um ato de coragem ímpar porque “A premissa do livro é a de que a mulher não é o ‘segundo sexo’ ou o ‘outro’ por razões naturais e imutáveis, mas por uma série de processos sociais e históricos” (resenha do livro no blog O Poderoso Resumão).

Em “Sessenta anos de O Segundo Sexo, Leda Tenório da Motta destaca que o mais importante da obra “É a dimensão filosófica do Outro. A mulher é o Outro do homem… ‘Para o aldeão, todas as pessoas que não participam da aldeia são Outros suspeitos’, como escreve Beauvoir”.

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