O povo está cansado de políticos que agem como imperadores

Eu só vejo vantagens em eleições. Gosto da época do pleito desde criança. Cresci vendo a muvuca das eleições em minha casa, nos grotões do Maranhão, lá em Graça Aranha, onde papai foi vereador duas vezes. Já relatei como mamãe era terrível em dia de eleição! Relembrem:
Por Fátima Oliveira
“Mamãe recebia os caminhões, distribuía um papelzinho e levava o povo pra votar. Era o terror das seções eleitorais. Muito simpática, abordava mais mulheres, dizia: ‘Deixa ver se tá levando o papel certo’. Se não era dos candidatos dela, bradava: ‘Num é esse não! Pega o certo!’ E, de braço dado, ia com a pessoa até a entrada da seção. Boca de urna de 100%. Papai era dos mais votados.
“Ela sabia, certinho, os votos dele em cada urna! Dias antes, fazia serão escrevendo à mão os tais papeizinhos, acho que eram números, que no dia da eleição carregava dentro do sutiã. Ainda adora eleições, mas diz que hoje são sem graça. Tem razão. Impossível reproduzir a sua boca de urna. Adoro eleições porque insisto em sonhar”. (“Nas eleições, se não acredita, eu vou sonhar pra você ver”, O TEMPO, 20.4.2010).
O período eleitoral é momento singular da luta por mais democracia e cidadania e também de muitas esperanças… As pessoas estão sempre a desejar mais e mais daquilo que signifique algum conforto adicional em suas vidas, a exemplo de transporte público de qualidade, boas escolas, bom atendimento na assistência à saúde e tudo o mais que torne a vida mais digna.
O dito “povão” não exige nada de mais da Presidência da República, de governos de Estado nem de prefeitos, apenas aquilo a que tem direito. O outro lado da questão em tela é que os candidatos em geral demonstram não saber qual a função deles, uma vez eleitos. Por que será, hein?
Imagino que numa sociedade mais evoluída serão abolidas as tais propostas de programa de governo. Não sei como, mas deve haver um jeito! Algo tipo uma consulta popular sobre as necessidades mais prementes da população, e o resultado seria elencado como o programa daquela cidade, daquele Estado ou país. Ou seja, bem diferente do que hoje que a candidatura diz: “vou fazer, isso, aquilo etc.”.
Caberia às candidaturas demonstrar quem é mais confiável para executá-lo. Cada pessoa votaria em quem a convenceu de que seria o melhor para materializar aquelas demandas… Ah, e o compromisso de finalizar todas as obras de seu antecessor! Porque é costume abandonar obras públicas tão somente porque terminá-las significa avalizar o trabalho iniciado por outrem…
Depois de muito pensar e pensar, avalio que seria a única maneira de enterrarmos a ideia de quem se elege para o Executivo (Presidência da República, governo de Estado e prefeitura) acreditar que foi ungido para receber um cheque em branco da população e, uma vez aboletado no poder, faz o que bem lhe aprouver, como acontece hoje em dia. É que eleitos para o Executivo tendem a achar que são imperadores e se danam a fazer o que lhes dá na telha! Agem como donos do lugar e como se tudo devesse obedecer aos seus desejos pessoais. Chega a ser acintoso!
Tenho a impressão de que o cansaço que as pessoas demonstram em época de pedição de voto tem a ver com o tradicional comportamento de dono de quem ocupa os postos máximos do Executivo. É tão forte que muita gente se irrita e diz: “Tanto faz votar em qualquer um, porque são todos iguais depois de eleitos!”. Quem duvidar faça a sua própria experiência, dando-se ao trabalho de andar de ônibus e/ou de táxi para sentir o pulsar das ruas nas eleições: é de descrença e desânimo.
Fonte: O Tempo

 

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