Padrões e Tabus

A mulher desde que nasce já tem um fardo a carregar. Além de ter que passar pelos seus momentos complicados da vida, que é quando surge a menstruação, as cólicas, a transformação do corpo, em que ele está em desenvolvimento e em mudanças e precisa ser entendido. E é em meio a essas transformações que muitas adolescentes engravidam.

por Amanda Martins Cruz de Mattos via Guest Post para o Portal Geledés

A partir desse momento inicia-se um verdadeiro período de terror para elas, que são vistas pela sociedade como transgressoras de regras criadas e impostas e que, na realidade, escondem uma visão machista, apontando a mulher como única responsável pela gravidez indesejada, enquanto que o homem nada mais é do que o precursor da iniciação sexual, não sendo responsabilizado pelo ato praticado.

O aborto

Mas a resolução para a gravidez precoce traz alternativas nada agradáveis, pois muitas vezes é obrigatório um casamento indesejado, outras vezes há a rejeição da família, o abandono aos estudos, e uma das piores alternativas é o aborto, e como este não é legalizado, é feito de forma clandestina, em precárias condições de higiene, trazendo, assim, risco de morte para as adolescentes, principalmente àquelas de classe menos privilegiada.

O mais incrível é que temos uma massificação de informações através dos meios de comunicação como a rádio, a televisão, os jornais, as revistas, a internet, mas ao mesmo tempo, em contrapartida, é um mundo de ignorância sobre o corpo e o funcionamento da sexualidade.

Por que é tão difícil e constrangedor para algumas mulheres falar sobre sexo com a naturalidade que os homens falam? Será que a repreensão feita com elas todos esses anos fez desse assunto um tabu tão difícil de se quebrar?

Afinal é praticado por ambos de inúmeras maneiras e quase nunca numa roda de amigos quando os homens expõem suas experiências e duvidas é tão confortável para as mulheres exporem as suas por mais intimidade e confiança que eles tenham uns com os outros.

Esse problema vem desde o começo da vida sexual feminina, que precisa de um relacionamento sério, uma certa idade e maturidade também impostas pela sociedade para pensarem em ter sua primeira vez que muitas vezes não é incentivada nem muito conversada pelos pais, e amigos , diferente dos homens que no começo da adolescência são incentivados a praticarem e se tardio criticados.

A mulher ainda é vista como um objeto, um serviço, um pedaço de carne, que deve atender a necessidade masculina, e quando essa mulher se auto afirma, declara-se independente, trabalha, estuda e busca meios de ascensão profissional, deixando a construção familiar para um momento que sua vida esteja estrutura e embasada, é questionada pela sociedade, passa a ser vista como egoísta, capitalista, sem princípios morais, éticos e familiares, passa a não ser vista com bons olhos, por aqueles que ainda vivem sob os principio patriarcal, conservador e machista.

Observando o contexto histórico, percebemos que as mulheres casavam-se cedo para evitar uma gravidez indesejada, e muitas das vezes seus parceiros eram quinze , vinte, trinta anos mais velhos que elas, e era considerado normal. O sexo não era visto como uma vontade, era obrigação da mulher relacionar-se sexualmente com o seu marido, mesmo contra a sua vontade, por pertencer a ele.

A mulher conseguiu um papel muito importante na sociedade, depois de muitas lutas e manifestações, em que elas conseguiram o direito de votar; Que teve de lutar para chegar onde está.
Cada vez mais vem ocupando trabalhos que antigamente, segundo os homens, só eles podiam ocupar pelo fato da força e alguns por machismo.

Se hoje as mulheres estão mais independentes é porque não ligam tanto para a força e sim para a inteligência que faz com que ela passe a conquistar novas fronteiras, novos horizontes. Hoje podemos ver que as coisas estão mudando.

Algumas pessoas nunca chegaram a pensar que o Brasil poderia ter uma presidente, ainda mais sendo mulher e superando todos os preconceitos e mostrando que mulher também tem coração, que não foi feita para ficar só no fogão, lavando, passando, cuidando da família que apesar de ser sensível pode chegar muito mais longe do que todos pensam.

Durante longo período da história da humanidade se verificou que as mulheres foram dominadas pelos homens e, sendo assim, isto se dava em decorrência de uma cultura que fez tradição há séculos, por isso, imutável, devendo todos conformar-se com tal realidade, mesmo não assentindo, como era o caso de muitas mulheres. Elas, durante a evolução da sociedade ocidental, nunca se conformaram com a situação de inferioridade, mas nem sempre tiveram oportunidade de expressar-se. Foi a partir do momento em que puderam fazer suas vozes serem ouvidas, que elas não mais se calaram e, desse momento em diante, a vida das mulheres mudou consideravelmente.

Foi unindo-se em torno das lutas por reconhecimento que as mulheres começaram a ocupar um espaço antes reservado somente aos homens, o público. Das lutas eventuais passaram aos movimentos sociais de maior expressão em busca da igualdade, de reconhecimento e de respeito às diferenças naturalmente existentes entre homens e mulheres. A partir deste momento, as mulheres adquiriram uma nova identidade, que possibilitou uma nova história das mulheres, agora com direitos assegurados formalmente e inseridas nos diversos campos de atuação do mercado de trabalho.

O século XXI atesta esta nova realidade, com mulheres inseridas no mercado de trabalho em diversas áreas de atuação, à frente de postos de comando, mulheres independentes que não mais se sujeitam à violência por parte dos maridos ou companheiros, mulheres com voz ativa na sociedade tomando decisões importantes no contexto social, mulheres com liberdade e direito de expressão, enfim, mulheres cidadãs, porém, isso não quer dizer que as desigualdades deixaram de existir, elas persistem, todavia de forma mais amena, vez que grande parcela da população de mulheres, atualmente, não silencia.

No entanto, apesar de dar sua contribuição à família, às empresas, à sociedade, a mulher ainda tem sido considerada uma força de trabalho secundária, mais cara e menos produtiva. A maternidade é central na produção da imagem secundarizada da mulher como trabalhadora. A imagem dominante é sempre a existência de um risco permanente de gravidez entre as mulheres trabalhadoras. Contudo, é dado objetivo que o número de filhos por mulher na força de trabalho vem-se reduzindo significativamente nas últimas décadas.

Deste modo, com essa situação e circunstância, ou seja, a das mulheres cuidarem dos filhos, da casa, do marido ou pais ou outros dependentes, elas vão aos poucos sendo levadas a não ter todas as informações sobre novas técnicas e tecnologias desenvolvidas para proteger o grupo. Vão sendo excluídas do conhecimento. Elas vão sendo privadas de informações importantes que, em contrapartida, permanecerão restritas aos homens.

Entretanto, com o passar dos anos, foram sendo incorporados no ordenamento jurídico novos direitos para as mulheres, direitos estes que foram conquistados arduamente por meio dos movimentos sociais engendrados por elas, que teve como consequência a abertura de uma nova visão de relações de gênero capaz de construir uma “nova sociedade”.

A mulher, em sua história teve um papel submisso e não questionador. A partir do movimento feminista e das diferentes configurações da sociedade, ela iniciou um processo de mudança. Depois do impacto desse movimento social, que ocorreu principalmente nas relações familiares e conjugais, a mulher passou a se tornar independente naturalmente.

Aos poucos entrou no mercado de trabalho e conquistou um poder argumentativo diante do homem. A mulher atual não tem apenas o papel de mãe e de esposa, ela possui outras realizações pessoais, ela atingiu um universo amplo e possui uma gama de possibilidades e de atividades.

Levando em conta o contexto histórico, essas mudanças no papel da mulher são recentes. Foram séculos de submissão para algumas décadas de mudanças e maior “liberdade”. A mulher hoje está de fato mais independente, ela possui um universo próprio e possibilidades de escolha. Outra conclusão também é possível, pois mulheres da mesma faixa etária apresentam opiniões diferentes referentes ao papel da mulher, do homem e do casamento, mostrando que a diferença de opinião não se dá apenas no âmbito geracional. É necessário dar a devida relevância a fatores pessoais e ligados à história de cada um.

Percebe-se, principalmente, como influência no pensamento da mulher uma questão transgeracional. O ser mulher e as atitudes assumidas estão relacionados ao que lhe foi passado de geração em geração. Pelo fato da mulher possuir um histórico marcado pelo seu papel submisso dentro da família, ela atualmente não consegue se desvincular completamente desses valores tão arraigados ao feminino. Ela não consegue se desvencilhar dessa visão de mulher conservadora e tem um desejo inconsciente de exercer esse papel tão criticada por ela mesma, da mulher dona-de-casa, bem casada e mãe, necessitando da proteção de um provedor – marido/pai.

Sendo assim, pode-se dizer que as mulheres jovens e de meia idade possuem um conflito inconsciente entre uma imago de mulher e de homem pautada em uma leitura tradicional de relacionamento amoroso que difere do que elas buscam e vivem com seus parceiros.

Temos vivido a era dos direitos humanos, mas por desconhecer o poder de influência que a mídia, através dos meios de comunicação, exerce em nossas vidas, em como penetra em nossa mente, não percebemos que nossos direitos jamais foram tão violados como nos dias de hoje.

Temos visto um verdadeiro massacre humano, de mulheres, adolescentes se matando para atingir um inatingível padrão de beleza imposto pela mídia. Em uma sociedade democrática, as mulheres tornaram-se escravas da indústria da beleza, tão difundida pelos meios de comunicação, os quais tem dilacerado a nossa juventude, pessoas que estão perdendo o prazer de viver, tornando-se solitárias, por estarem inconformadas com sua forma física, controlam alimentos que ingerem, para não engordar; esta escravidão assassina a autoestima, produz uma guerra contra o espelho e gera uma auto rejeição terrível.

Hoje, podemos ver mulheres independentes, confiantes e distribuindo confiança, temos no Brasil uma mulher no comando do país, Dilma Rousseff, entre tantos outros exemplos de mulheres no comando de empresas, na chefia de cargos públicos, entre outros.

As cobranças que as mulheres tem feito a si mesma para atingir o padrão de beleza imposto pela mídia, tem lhes prejudicado em todos os sentidos, tanto psicológicos, como em seu corpo. A sociedade exige uma dupla ou tripla jornada de trabalho (cuidar da casa, do marido, das crianças, do emprego, do curso de especialização, do cabelo da estética, entre outros). Diante de tudo isso vem o stress, a não aceitação de seu corpo, as dietas malucas, distúrbios alimentares e mais tarde doenças como bulimia e anorexia nervosa.
Os meios de comunicações tem imposto um estereotipado padrão de beleza feminina, os comerciais, desfiles, novelas, propagandas tem mostrado que para ser aceito na sociedade deve ser magra, vestir manequim 36. Nas capas das revistas vemos belos corpos de modelos magérrimas, a pura perfeição. Diante disso vem a cobrança de ser assim, para se sentir bonita e atraente, sexy, bem vista e aceita pela sociedade.

Não importa o que as indústrias da moda, da beleza, do consumo e os meios de comunicações nos impõem, ou os produtos que colocam no mercado, prometendo milagres da beleza, do rejuvenescimento, dizendo que isso fará ser bem aceito na sociedade e ter ascensão social, não adianta está se matando para atingir o inatingível, pois cada pessoa tem uma beleza única, e devem ser aceitas como são, se cuidar e ser vaidosa faz parte da natureza de cada mulher, mas não chegar ao ponto de se deixar escravizar por isso. O envelhecer é nosso destino, viver feliz e com dignidade deve ser nossa meta.

Usa franja? Emo ! Tem muitos amigos? Popzinho! Gosta de reggae? Maconheiro! Gosta de jogos? Não bebe? Nerd ! Nossa cara você pegou dez ontem? O pegador! Sério ela pegou dez ontem? Bem rodada ela hein?!

Portanto, estamos sendo julgados, rotulados e criticados a todo o momento perante a sociedade, sendo assim acredito que a igualdade, a felicidade, a liberdade serão eficazes, plenas, quando cada um aprender a respeitar o pensamento, a ideia, a opinião do outro, e passar a não interferir nos mesmos. Respeitar, não é aceitar, mas sim um limite, um meio, para estabelecer a harmonia entre as pessoas. Talvez, quando aprendermos isso, viveremos melhor e estaremos mais próximos a alcançar a tão sonhada paz perpétua do nosso ilustre Kant.

Amanda Martins,23 anos, negra, estudante de Direito na Faculdade Presbiteriana Mackenzie Rio, militante, membro do Coletivo Justiça Negra- Luiz Gama, membro do Núcleo de Pesquisas Brasil/Chile da Faculdade Presbiteriana Mackenzie.

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